08/04/2025 - 12:47
Os enormes efeitos físicos provocados pela gestação e pelo parto são inegáveis. Um estudo revela a dimensão dessas mudanças e aponta de quanto tempo o corpo precisa para se recuperar.Pesquisadores de Israel e dos EUA conseguiram traçar uma imagem muito precisa das mudanças que ocorrem no corpo feminino antes e durante a gravidez e até depois do parto, mostrando que os efeitos de uma gestação duram por muito mais tempo do que se supunha.
Para o estudo, os pesquisadores recorreram a dados de mais de 300 mil nascimentos e avaliaram um total de cerca de 44 milhões de medições de exames anônimos de sangue e urina, entre outros. Entre os 76 parâmetros considerados, estavam níveis de colesterol, número de células imunológicas e glóbulos vermelhos, processos inflamatórios e dados sobre a condição do fígado, rins e metabolismo.
Os dados anônimos, coletados entre 2003 e 2020, vêm de registros de pacientes do maior provedor de serviços de saúde de Israel: mulheres com idade entre 20 e 35 anos que não tomavam medicamentos e não sofriam de nenhuma doença crônica.
Os resultados mostraram vários efeitos da gravidez e do parto em um nível de detalhes jamais alcançado anteriormente, segundo Uri Alon, biólogo de sistemas do Instituto Weizmann de Ciência em Rehovot, Israel, que liderou o estudo. As conclusões foram publicadas primeiramente na plataforma científica Science Advances e, na sequência, na revista Nature. O estudo foi apoiado pelo Conselho Europeu de Pesquisa.
A gravidez e o parto afetam o corpo por mais tempo do que o esperado
Os resultados sugerem que os efeitos da gravidez e do parto afetam o corpo por muito mais tempo do que geralmente se supunha, diz Jennifer Hall, que pesquisa saúde reprodutiva no University College, em Londres, e não participou do estudo. Ela chama a atenção para a expectativa social de que a mãe se recupere rapidamente após o nascimento de um filho. “Aqui temos uma espécie de prova biológica de que isso não acontece”, disse Hall.
De acordo com o estudo, cerca de metade (47%) dos 76 parâmetros físicos examinados se estabilizaram novamente no primeiro mês após o nascimento. Para a outra metade (41%), no entanto, levou de três meses a um ano para que os níveis retornassem ao ponto pré-gravidez.
Os valores relativos aos níveis de colesterol ou à função hepática só se estabilizaram após cerca de seis meses. Já o valor de ALP (fosfatases alcalinas), que é importante para o fígado, levou um ano inteiro para voltar ao seu normal. Isso ilustra claramente o enorme impacto do parto no corpo, argumentam os pesquisadores.
Alguns valores, inclusive, seguiam significativamente alterados mesmo 80 semanas após o nascimento. Os marcadores que aumentam no sistema imunológico do corpo durante processos inflamatórios, por exemplo, permaneceram elevados. O nível de ferro e a concentração média de hemoglobina nos glóbulos vermelhos, por sua vez, continuaram mais baixos.
Não se sabe ainda, porém, se essas diferenças se devem a mudanças comportamentais após o parto ou a efeitos fisiológicos duradouros da gravidez, destaca o estudo.
Maior risco de depressão, diabetes, anemia e distúrbios de coagulação
Durante a gravidez, a mãe passa por mudanças físicas significativas que dão suporte ao crescimento e desenvolvimento do embrião.
A maior demanda por oxigênio e nutrientes para o feto leva a um aumento no gasto cardíaco, com o volume sanguíneo aumentando em até 50%. A respiração também muda, assim como todo o equilíbrio hormonal. Os rins filtram mais sangue em menos tempo, e o sistema imunológico se reestrutura para evitar a rejeição do feto. As mudanças também afetam esqueleto, sistema gastrointestinal e metabolismo da mãe.
Durante a gravidez e após o parto, há ainda um maior risco de depressão, diabetes gestacional, anemia (menos glóbulos vermelhos ou menos pigmento vermelho no sangue) e distúrbios de coagulação. A hemorragia pós-parto continua sendo a principal causa de mortalidade materna no mundo.
Mesmo sem complicações, o parto traz mudanças profundas, já que, quando o feto e a placenta deixam o corpo, seus efeitos sobre o metabolismo e os hormônios da mãe cessam abruptamente.
Novo diagnóstico precoce contra riscos na gravidez?
No futuro, a pesquisa pode ajudar a determinar mesmo antes da gravidez se uma mulher tem maior predisposição a desenvolver certas complicações. Entre elas, estão sobretudo a chamada pré-eclâmpsia (pressão arterial alta, potencialmente fatal) ou diabetes gestacional. Atualmente, essas doenças só são diagnosticadas durante a gravidez.
O estudo mostrou, por exemplo, que mulheres com complicações durante a gravidez tinham marcadores diferentes das mulheres que não apresentaram problemas.
Isso oferece a oportunidade de ajudar mulheres em risco antes que engravidem, disse Hall.
“Os resultados mostram que informações biomédicas anônimas podem fornecer muitos novos insights”, afirmou o líder do estudo, Alon. Outras transições temporais, como crescimento e desenvolvimento na infância, puberdade ou menopausa, bem como o curso de doenças específicas e seus processos de cura, também poderiam ser melhor compreendidos dessa maneira, argumenta.