Acordar durante a noite pode não ser um distúrbio do sono, mas um resquício de um padrão ancestral de descanso. Segundo pesquisas do historiador Roger Ekirch, da universidade Virginia Tech (EUA), o hábito de dormir oito horas seguidas é uma convenção social relativamente recente, consolidada apenas após a Revolução Industrial. Antes disso, o padrão natural da humanidade era o sono bifásico, ou segmentado.

  • Padrão moderno: o sono monofásico, de oito horas contínuas, popularizou-se com a invenção da luz elétrica e as longas jornadas de trabalho da Revolução Industrial.
  • Padrão ancestral: historicamente, o sono bifásico era a norma. As pessoas dormiam em dois blocos, separados por um período de vigília de uma a duas horas.
  • ‘A vigília’: esse intervalo era um tempo de atividade social e produtiva, usado para rezar, realizar tarefas domésticas, socializar ou ter relações íntimas.
  • Evidências globais: registros do sono bifásico foram encontrados em documentos da Grécia Antiga, da Europa Medieval e até em relatos sobre os indígenas Tupinambá no Brasil do
    século 16.

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Historicamente, o sono era dividido em dois turnos. O primeiro começava ao anoitecer, por volta das 21h, e durava até aproximadamente 23h. Em seguida, as pessoas despertavam naturalmente para um intervalo de uma a duas horas conhecido como “a vigília”. Durante esse período, eram realizadas diversas atividades, como cuidar da casa, rezar, socializar com a família e vizinhos ou ter momentos de intimidade. Após essa pausa, as pessoas voltavam a dormir no segundo turno, despertando com o nascer do sol.

As pesquisas de Roger Ekirch se baseiam em mais de 500 referências históricas, incluindo diários, registros médicos e obras literárias. Inicialmente, o historiador acreditava que o sono bifásico era uma peculiaridade da Idade Média, com menções em clássicos como “Os Contos de Cantuária”, de Geoffrey Chaucer (século 14). No entanto, investigações posteriores revelaram que o hábito era muito mais antigo e global.

As evidências mais remotas encontradas por Ekirch datam do século 8 a.C., na obra “Odisseia”, de Homero. O padrão de sono segmentado foi documentado em todos os continentes, inclusive no Brasil. Em um relato de 1555, um padre francês observou que os indígenas Tupinambá, no Rio de Janeiro, interrompiam o sono noturno para comer e depois voltavam a dormir. O declínio do sono bifásico começou no final do século 19, com a popularização da iluminação artificial e a imposição de rotinas de trabalho contínuas, que passaram a valorizar um único e longo período de descanso.