04/09/2025 - 7:33
Kim Jong-un se reuniu com Vladimir Putin e Xi Jinping em Pequim. Aparente união entre os três países dá a ditador norte-coreano espaço para conquistar mais apoio de seus aliados.O presidente da China, Xi Jinping, apareceu na quarta-feira (03/09) ao lado do líder norte-coreano, Kim Jong-un, e do presidente russo,Vladimir Putin, em um grande desfile militar em Pequim. O evento destaca a crescente influência de um bloco econômico e de segurança que tem ambições de enfrentar o que alega ser o imperialismo capitaneado pelos Estados Unidos.
As imagens na Praça da Paz Celestial, no desfile que marcou os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, foram calculadas para transmitir uma mensagem de solidariedade por parte de Pequim diante de sanções estrangeiras e outros instrumentos de pressão, principalmente comerciais, e demonstrar que os três regimes autocráticos estão determinados a resistir à coação externa.
Analistas, no entanto, apontam que os três líderes têm muitas prioridades políticas divergentes, tanto em questões internas quanto externas, e sugerem que a aliança tríplice pode ser principalmente uma conveniência, com a Coreia do Norte, menor e menos poderosa, podendo ser até mesmo uma espécie de curinga.
Antagonizando Moscou e Pequim
“O avô de Kim, Kim Il-sung, foi o fundador do Estado norte-coreano e se tornou conhecido por colocar Pequim contra Moscou nas décadas de 1970 e 1980, buscando os melhores acordos para seu regime”, afirmou Dan Pinkston, professor de relações internacionais no campus de Seul da Universidade Troy.
“Kim está radiante por ter sido convidado para o desfile que marca o 80º aniversário da derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, porque isso mostra que ele está em um patamar de ser aceito como um parceiro em pé de igualdade”, acrescentou Pinkston.
“Kim fez muito por Putin, ao enviar tropas para a guerra na Ucrânia e fornecer armas e munições, então ele claramente acredita que deveria receber alguma reciprocidade. Ele também quer mais liberdade em relação a Pequim, porque seu país tem sido muito dependente da China por um longo tempo. Isso chegou ao ponto em que ele se ressente da China. Ele quer diversificar, o que é prudente do ponto de vista de Kim, mas preocupante para Xi.”
Estar ao lado de Xi e Putin em Pequim também é uma oportunidade para Kim jogar as duas potências uma contra a outra, explicou o especialista. “A China não quer que a Coreia do Norte se aproxime demais da Rússia”, destacou Pinkston.
Pequim tem sido o aliado mais próximo de Pyongyang desde a Guerra da Coreia de 1950 e, preocupado com a própria segurança, conseguiu, durante grande parte desse tempo, conter os impulsos mais agressivos do regime norte-coreano.
Kim poderia, no entanto, indicar a Xi que está se aproximando de Putin para forçar o líder chinês a oferecer algo mais para manter seu grau de influência.
Economia norte-coreana cresce
Pyongyang parece ter colhido evidentes benefícios econômicos de seus laços comerciais e de segurança com Moscou. O banco central sul-coreanoinformou em 29 de agosto que a economia da Coreia do Norte cresceu 3,7% em 2024, o maior aumento em oito anos. As exportações do país aumentaram 10,8%, com as maiores altas registradas nos setores de mineração e manufatura, impulsionados pela “cooperação ampliada com a Rússia”.
Esse cenário econômico pode ajudar a financiar o desenvolvimento contínuo de ogivas nucleares e mísseis modernos pela Coreia do Norte, ao mesmo tempo em que impulsiona a posição de Kim entre a população.
Kim também deve apostar na necessidade de Putin de enviar mais tropas norte-coreanas para substituir os soldados russos mortos nos campos de batalha da Ucrânia, mantendo o fluxo de combustível e outros bens e serviços.
Pinkston observou que, embora Xi, Kim e Putin estejam unidos em sua antipatia pelos EUA e pelo Ocidente em geral, assim como pelos direitos humanos, pelo Estado de Direito e pela democracia, cada um dos líderes “tentará explorar a relação tripartite em benefício próprio”.
Mas, segundo Choo Jae-woo, professor de política externa na Universidade Kyung Hee, em Seul, há motivos para um certo otimismo em decorrência desse encontro tripartite. “Essa reunião é certamente muito simbólica, porque projeta solidariedade na segurança, mas acredito que estamos vendo uma ligeira mudança na política comercial dos EUA em relação à China, o que terá um efeito cascata sobre a Rússia e a Coreia do Norte”, observou.
Maior proximidade em questões comerciais
Choo acredita que o presidente dos EUA, Donald Trump, esteja prestes a aliviar a pressão tarifária imposta à China, que se mostrou prejudicial às economias americana e chinesa, e há sinais de que ele espera visitar Xi em Pequim nos próximos meses. Trump também declarou estar disposto a se encontrar novamente com Kim.
“Acredito que tanto a China quanto a Coreia do Norte sintam que é hora de se aproximarem em questões não relacionadas à segurança, de se concentrarem em suas necessidades comerciais e econômicas comuns e de se beneficiarem de um relacionamento melhor com o governo Trump”, disse o especialista.
Mesmo que os EUA continuem hesitantes em ir tão longe, Choo afirma que a China provavelmente identificará a Coreia do Norte como membro das nações do chamado Sul Global e, portanto, como elegível para receber maior assistência econômica da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês), que reúne dez Estados-membros e 17 nações parceiras para promover a cooperação política e econômica.
“Kim receberá isso com satisfação”, disse. “A adesão à SCO alinhará os interesses econômicos da Coreia do Norte com os dos outros Estados-membros e proporcionará acesso a vastos recursos.”