25/03/2024 - 17:48
A aurora de 6 de agosto de 1945 marcou um antes e um depois na história da humanidade, quando a primeira bomba atômica da história desatou sua fúria sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Entre as muitas histórias que surgiram naquele dia, destaca-se a de um homem diante do banco Sumitomo, de bengala na mão, que em um instante deixou uma sombra perpétua nos degraus, testemunho mudo das vidas ceifadas por esse evento catastrófico da Segunda Guerra Mundial.
Ao contrário da ideia muito difundida de que a detonação nuclear causou a vaporização imediata das pessoas, deixando apenas suas silhuetas como testemunhas, há uma explicação diferente para a presença dessas marcas escuras. As silhuetas de pessoas e objetos, como bicicletas, que ainda podem ser vistas nas ruas e nos prédios de Hiroshima e Nagasaki revelam outra realidade, uma na qual o calor intenso e a luz emitida pela explosão tiveram um papel fundamental.
De acordo com Michael Hartshorne, professor emérito de radiologia e curador emérito do Museu Nacional de Ciência e História Nuclear, nos EUA, conforme citado pela Live Science, a luz e o calor intensos da bomba criaram um cenário em que as pessoas e os objetos agiam como escudos, protegendo o que estava atrás deles. Esse fenômeno resultou no branqueamento das superfícies ao redor, deixando as “sombras” contrastantes que conhecemos hoje.
Em outras palavras, como aponta a publicação científica, essas silhuetas são, na verdade, a aparência original do pavimento ou das fachadas antes da detonação. A exposição à luz e ao calor branqueou as superfícies ao redor, fazendo com que as áreas não expostas parecessem sombras escuras.
Com relação à suposta vaporização de corpos, Minako Otani, professora da Universidade de Hiroshima, acrescenta um detalhe assustador a essa história: mesmo com o calor extremo, é possível que restos humanos, embora gravemente danificados, tenham sobrevivido, disse ela ao meio de comunicação japonês Peace Seeds. Essa afirmação derruba a noção de vaporização completa, sugerindo, em vez disso, que parte da essência física das vítimas ainda permaneceu entre as ruínas.
A ciência por trás das sombras
A Atomic Heritage Foundation, organização sem fins lucrativos com sede em Washington, esclarece que o imenso poder destrutivo das bombas atômicas vem da fissão nuclear. Esse processo é iniciado quando um nêutron colide com o núcleo de isótopos pesados, como o urânio-235 ou o plutônio-239, desencadeando uma reação em cadeia.
Alex Wellerstein, do Stevens Institute of Technology, destaca que essa reação pode dividir um número colossal de átomos em frações de segundo, liberando energia intensa e radiação gama. Esta última é particularmente prejudicial devido à sua capacidade de atravessar roupas e pele, danificando gravemente os tecidos e o DNA. As temperaturas atingidas nas explosões de 1945 chegaram a 5.538 graus Celsius, o que, de acordo com a Live Science, contribuiu para a criação dos efeitos de branqueamento em torno das silhuetas de pessoas e objetos.
Entre as muitas sombras de Hiroshima, além da do homem com a bengala na mão, está a de um indivíduo sentado nas escadas de um banco, uma impressão quase completa que resistiu ao teste do tempo até sua transferência para o Museu Memorial da Paz de Hiroshima. Esse local agora serve como guardião de memórias dolorosas, convidando à reflexão sobre as consequências devastadoras das armas nucleares.