09/08/2025 - 15:12
Em agosto de 2020, protestos em massa eclodiram contra Alexander Lukashenko. Mas o regime do “último ditador da Europa” reprimiu duramente as manifestações. O que mudou desde então?Ninguém previu quando os maiores protestos da história de Belarus eclodiram há cinco anos — em um país que já vinha sendo governado de forma autocrática por Alexander Lukashenko há mais de um quarto de século. Na época, as pessoas foram às ruas para protestar contra o resultado das eleições presidenciais de 9 de agosto de 2020, marcadas por acusações de fraude em favor de Lukashenko.
Muitas pessoas também estavam revoltadas com a falta de medidas das autoridades para proteger a população contra a pandemia de covid-19 e com a prisão dos candidatos presidenciais da oposição mais promissores, além de milhares de cidadãos. Mulheres organizaram marchas e estudantes saíram às ruas.
Trabalhadores, atores e atletas protestaram; diplomatas foram demitidos; médicos e professores escreveram cartas abertas para manifestar sua insatisfação. Em resposta, as forças de segurança do país desencadearam uma onda de repressão. Muitas pessoas ficaram feridas e até morreram.
E a história digna de Hollywood da então dona de casa Svetlana Tikhanovskaya, que entrou na corrida presidencial no lugar de seu marido preso, Siarhei Tsikhanouski, terminou sem final feliz: ela foi forçada ao exílio na Lituânia.
Nos últimos anos, o agora septuagenário Lukashenko, chamado por vezes de “o último ditador da Europa” e que está no poder desde 1994, trabalhou cada vez mais para estreitar os laços com a vizinha Rússia. Ele ajudou o presidente russo Vladimir Putin na guerra contra a Ucrânia, instigou uma crise migratória na fronteira com a União Europeia, e em janeiro de 2025 proclamou ter conquistado mais um mandato presidencial de cinco anos.
Na sexta-feira (08/08), Lukashenko disse à revista americana Time que “não planeja” concorrer a mais um mandato quando o atual terminar em 2030 e negou que esteja preparando seu filho como sucessor. Se cumprirá ou não essa promessa, ainda é incerto.
Poderiam os protestos de 2020 ter levado a mudanças duradouras?
Os acontecimentos em Belarus não poderiam ter tido um desfecho diferente na época, disse Artyom Shraibman, cientista político radicado em Berlim no Carnegie Russia Eurasia Center, um centro de estudos de política externa.
“O Ocidente não tinha qualquer influência, nesses momentos críticos, para enfraquecer o regime de Lukashenko”, disse ele à DW.
O colunista da DW Alexander Friedman, que leciona história da Europa Oriental em universidades alemãs, aponta para o paradigma político global, que era diferente em 2020.
“Do ponto de vista europeu, Belarus era percebida como uma zona de interesse russo onde era preciso extrema cautela”, afirmou. A situação poderia ter sido diferente se Putin não tivesse apoiado Lukashenko e, em vez disso, tivesse adotado uma posição neutra, acrescentou.
Memníria dos protestos apagada
Cinco anos depois, até mesmo rastros digitais dos protestos em massa de Belarus desapareceram. Os veículos de comunicação que os noticiaram à época foram fechados pelo regime ou operam no exílio, com seus sites bloqueados pelas autoridades do país.
Muitas pessoas também apagaram suas fotos e vídeos dos eventos de 2020, temendo que as autoridades os usem para identificar participantes dos protestos. Artigos, reportagens, arquivos e postagens em redes sociais também sumiram.
Ao mesmo tempo, permanece difícil para o regime esconder a enorme escala da repressão. Segundo o Centro de Direitos Humanos Viasna, em Belarus, pelo menos 8.519 pessoas foram perseguidas judicialmente por motivos políticos desde 2020, e mais de 60.000 foram presas.
Entre os prisioneiros mais proeminentes está a musicista e ativista Maria Kolesnikova, condenada a 11 anos de prisão em 2021. Seus familiares não têm contato com ela até hoje. O mesmo vale para o banqueiro e filantropo Viktor Babaryka, que cumpre pena de 14 anos. Já o ativista de direitos humanos Ales Bialiatski, que foi laureado com o Prêmio Nobel em 2022, segue detido em uma colônia de trabalhos forçados.
“A saúde de Bialiatski está se deteriorando; ele tem problemas de visão e nas pernas”, disse Leonid Sudalenko, ex-preso político e colega de Bialiatski no Viasna, em entrevista à DW.
Lukashenko disposto a libertar prisioneiros em troca de concessões
Ainda hoje, belarrussos continuam sendo perseguidos por causa dos protestos de 2020. Desde o início do ano, mais de 1.700 pessoas foram presas por acusações administrativas, criminais e politicamente motivadas — e esses são apenas os números conhecidos por ativistas de direitos humanos.
Os motivos de detenção são diversos. Alguns foram fotografados durante os protestos; outros curtiram conteúdo na internet considerado “extremistas” pelo regime — em Belarus, toda a mídia independente é classificada como “extremista”, incluindo a DW. Alguns foram acusados de publicar comentários “inadequados” online, fizeram campanha para o “candidato errado” nas eleições de 2020, realizaram doações ou enviaram mantimentos a presos políticos. A lista de delitos “extremistas” é longa: por exemplo, uma empresa que produziu pingentes de joias em formato do mapa de Belarus foi recentemente rotulada como “extremista”.
Nos últimos meses, o regime tem libertado grupos pequenos de prisioneiros políticos — mais de 300 no total. Em junho, a medida incluiu Siarhei Tsikhanouski, libertado no mesmo dia em que Lukashenko se encontrou com o enviado especial do então presidente dos EUA, Donald Trump, Keith Kellogg.
O regime belarrusso não esconde que estaria disposto a libertar prisioneiros políticos em troca de concessões do Ocidente. Em 31 de julho, Lukashenko declarou que estava preparado para entregar milhares de pessoas”. “Se as querem, levem-nas! O que oferecem em troca?”, disse após conversas com a delegação dos EUA.
O que o Ocidente pode fazer pela oposição de Belarus?
O cientista político Artyom Shraibman acredita que o Ocidente poderia fazer mais para apoiar as pessoas presas em Belarus. “Poderia negociar de forma mais ativa pela libertação dessas pessoas e oferecer a Lukashenko concessões em termos de reputação e diplomacia — telefonemas, visitas e contatos”, disse.
Em teoria, os países ocidentais poderiam ir ainda mais longe e “considerar suspender algumas sanções para alcançar um tipo de troca com Lukashenko, acabar com a crise migratória e libertar prisioneiros políticos”.
Mas o especialista disse que tais medidas dificilmente mudariam significativamente a situação em Belarus. Em vez disso, poderiam mudar as perspectivas de vítimas individuais do regime. Seus destinos estão, em grande parte, nas mãos do Ocidente. No entanto, como Belarus nunca foi e não é uma prioridade, até agora não houve sinais de disposição séria para se envolver.