15/12/2020 - 5:11
Eficaz e seguro: é o que se exige de um imunizante contra o vírus Sars-Cov-2. Equipes internacionais apostam em diferentes estratégias científicas, numa corrida contra o tempo. Um panorama do estado das pesquisas.Cientistas espalhados pelo mundo testam em estudos clínicos a eficácia de mais de 50 candidatas a vacina contra a covid-19.
A maior parte das candidatas ainda se encontra na fase pré-clínica, em que sua eficácia é testada, por exemplo, em cobaias de laboratório. As fases clínicas subsequentes se distinguem quanto a sua duração, entre outros pontos:
– na fase 1, são feitos testes em um pequeno grupo de pacientes humanos;
– na fase 2, a vacina é testada em grupos de pelo menos 100 participantes, com especial atenção para enfermidades prévias e características demográficas, como idade;
– na fase 3, testa-se a eficácia e segurança da vacina em pelo menos mil pacientes.
Nota: Na visualização, uma vacina não é mostrada como aprovada até que a FDA dos EUA ou a EMA europeia a tenha aprovado ou até que tenha sido liberada para uso emergencial por uma dessas agências ou pela OMS. Mais detalhes sobre a metodologia podem ser encontrados aqui.
Algumas firmas, como a BioNTech e Pfizer ou a Sinovac, submetem suas candidatas a vacina a diversos testes paralelos, por exemplo, em diferentes grupos etários ou em doses e formas de ministração variadas.
Depois de as fases clínicas estarem concluídas, a firma está apta a requerer formalmente a aprovação da substância. Três agências são especialmente importantes nesse processo: a Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos, a European Medicine Agency (EMA) na Europa e a Pharmaceutical and Medical Device Agency no Japão.
O que acontece depois que um imunizante é aprovado?
Mesmo que uma substância seja aprovada, isso não significa que todos possam ser vacinados imediatamente. Primeiro ela precisa ser produzida em grande escala. Em seguida, especialistas em logística precisam garantir a distribuição, e a firma deve responder a questões éticas, por exemplo como o medicamento será distribuído, ou quem terá prioridade na vacinação.
Por fim, cada um decide por si. Numa consulta em âmbito mundial, com mais de 13 mil habitantes dos 35 países mais afetados pela covid-19, a maioria se manifestou a favor da vacinação, havendo uma substância segura e eficaz.
Quando se poderá contar com uma vacina contra a covid-19?
Normalmente, o desenvolvimento de um imunizante eficaz e seguro dura diversos anos. Desde o início dos anos 1980 se pesquisa uma vacina contra o vírus HIV, causador da aids – sem sucesso.
Em média, a criação de uma vacina leva de dez a 12 anos. No caso da covid-19, cientistas trabalham sob pressão máxima para reduzir esse prazo. Apesar da pressa, tanto as eventuais fabricantes quanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) têm enfatizado que não deve haver concessões em relação à segurança.
Para a fase clínica, as equipes de pesquisa contam com uma duração média de 6 meses. Contudo isso é apenas o começo, pois não só essa fase deve ser concluída com sucesso: após a aprovação e produção segue-se a fase 4, em que os pesquisadores observam os pacientes vacinados.
Que tipos de vacina estão sendo desenvolvidos?
No momento, as equipes perseguem dez estratégias diferentes para criar um imunizante contra o vírus Sars-Cov-2.
A maioria das candidatas aposta numa subunidade proteica: em vez de utilizar o vírus completo, eles baseiam sua substância em apenas uma parte do patógeno, neste caso uma proteína presente em sua cápsula. Ela é administrada em alta dose, visando desencadear uma reação rápida e forte do sistema imunológico, para que no futuro ele “se lembre” da proteína, preparando uma boa defesa para o caso de entrar em contato com o vírus real. As vacinas contra a hepatite B ou o papilomavírus humano (HPV), por exemplo, funcionam segundo esse princípio.
Além desta, quatro outras abordagens chegaram à fase 3:
Vetores virais não replicantes são um tipo de vacina recombinante. Aqui, os cientistas alteram a informação genética do vírus, ativando ou desativando determinadas funções. Dessa forma, podem, por exemplo, reduzir o risco de contágio do patógeno.
No entanto tais manipulações genéticas específicas implicam que a ciência já saiba exatamente que partes do gene servem para quê. “Não replicante” indica que, embora o vírus contido na substância ataque as células, ele não é mais capaz de se reproduzir autonomamente.
Vacinas de vírus inativado empregam uma versão “morta” do patógeno. Via de regra, não garantem uma imunidade tão completa quanto imunizantes vivos, e por isso devem ser administradas doses repetidas. As vacinas contra a gripe ou a hepatite A pertencem a essa classe.
Nas vacinas de RNA, a estratégia é outra. Em vez de envolver uma parte “verdadeira” do vírus, os cientistas injetam seu ácido ribonucleico nas células, que passam a produzir cópias de apenas uma proteína viral. Embora sem ter tido contato com o patógeno completo, o organismo aprende a reconhecer esse componente atípico e desenvolve uma reação de defesa.
As vacinas da categoria partículas semelhantes a vírus usam outra abordagem: apenas a “casca” vazia do vírus é utilizada para a vacina, ou seja, sem nenhuma informação genética e, portanto, sem possibilidade de causar infecção.
Quem está pesquisando uma vacina contra a covid-19?
A empresa belga Jannsen Pharmaceutical Companies testa em cerca de 90 mil pacientes da Argentina, Bélgica, Brasil, Colômbia e Estados Unidos sua candidata baseada em vetor viral não replicante. Com base no mesmo princípio, a aliança estatal-privada entre a Universidade de Oxford e a empresa britânica AstraZeneca testa sua substância em 64 mil indivíduos do Chile, EUA, Peru e Reino Unido.
A companhia chinesa Sinopharm trabalha em diferentes constelações com seus institutos em Pequim e Wuhan. Ao todo, as diversas séries de estudos testam uma vacina de vírus inativado em 55 mil pacientes da Argentina, Bahrein, Egito, Jordânia, Marrocos e Peru.
Por sua vez, a equipe da firma alemã BioNTech aposta na estratégia do RNA, testando seu imunizante em 44 mil voluntários da Argentina, Brasil e EUA, entre outros países. A chinesa CanSino envolve 41 mil indivíduos do Paquistão em suas pesquisas.