Em 1960, 14 países africanos se tornaram independentes da França. Desde então a influência política da antiga metrópole entrou em declínio, mas laços econômicos continuam estreitos.”Sessenta e cinco é a idade da maturidade. É um momento de tomada coletiva de consciência do caminho percorrido, um convite para consolidar o que foi conquistado e olhar para o futuro”, declarou o presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, ao felicitar o próprio país pelo aniversário de independência.

Há muitas celebrações de 65 anos em 2025 na África. Em 1960, a França concedeu a independência a um número impressionante de 14 colônias no que ficou conhecido como Ano Africano: Benim, Burkina Faso, Camarões, Chade, República do Congo, Madagáscar, Mauritânia, Gabão, República Centro-Africana, Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal e Togo.

Entre os mais pobres do mundo

Mas basta olhar para o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU para verificar que a situação é precária em muitos deles: oito – incluindo Mali, Burkina Faso, Níger e Chade, todos estados do Sahel – estão quase no fim da lista, na categoria “baixo desenvolvimento humano”.

Para cada país há uma combinação específica de motivos para isso, explica o especialista Matthias Basedau, do instituto alemão Giga. Em muitos lugares, o solo não é exatamente fértil, os recursos minerais proporcionam uma prosperidade limitada e as altas taxas de natalidade pressionam ainda mais as demandas por crescimento econômico. E há ainda a instabilidade política.

“Isso pode facilmente levar a um círculo vicioso de conflitos: ou seja, os conflitos levam a uma desaceleração do desenvolvimento, e esta leva a mais conflitos”, diz Basedau. No Mali, em Burkina Faso e no Níger, militares tomaram o poder nos últimos anos por meio de golpes de Estado depois que governos civis não terem conseguido quebrar esse ciclo.

Homens fortes, não as instituições

Golpes de Estado são um dos extremos políticos na África francófona, com as transferências de poder pacíficas e democráticas, como a ocorrida no Senegal no ano passado, sendo uma exceção.

No outro extremo do espectro estão os governantes envelhecidos e de mandatos longos, algo também muito comum. Na Costa do Marfim, Ouattara busca um quarto mandato aos 83 anos, enquanto em Camarões, o presidente Paul Biya, aos 92, pretende concorrer pela oitava vez. Já no Togo o presidente Faure Gnassingbé tomou medidas para permanecer no poder por tempo indeterminado: ele agora é presidente do Conselho de Ministros, cargo que ele mesmo havia expressamente inscrito na Constituição e dotado de amplos poderes.

A promessa de uma “era de instituições fortes” da década de 1990 acabou frustrada, analisa o historiador Tumba Alfred Shango Lokoho, da Universidade Sorbonne Nouvelle, em Paris. “Na maioria dos países africanos, são homens fortes que se agarram ao poder, até mesmo desrespeitando as constituições e as derrubando de todas as maneiras imagináveis ​”, comenta. “Justamente essa é uma das maiores fraquezas da África, pois precisamos de instituições fortes.”

Influência política da França está em queda

Muitas dessas instituições foram criadas em 1960 com base no modelo francês. “Há sempre o presidencialismo, que é significativamente mais presidencial e autoritário do que na França, com seu sistema semipresidencial. E muitas das constituições também seguem o modelo francês, ainda que com algumas diferenças, é claro”, diz Basedau.

Entre os aspectos positivos chama a atenção o laicismo, ou seja, a separação estrita entre Igreja e Estado. “Pode-se até dizer que isso contribuiu para uma menor discriminação religiosa na região”, afirma Basedau.

Hoje alguns governos tentam se afastar da França. Isso é mais evidente no Sahel, onde essa tendência começou após os golpes de Estado, às vezes acompanhada de uma forte retórica contra a antiga potência colonial.

As três juntas militares expulsaram as tropas francesas estacionadas e, desde então, têm contado fortemente com a Rússia como parceira de segurança. Como resultado, os militares franceses também desocuparam suas bases no Chade, no Senegal e na Costa do Marfim. A base no Gabão agora serve apenas para treinar soldados locais. O único país africano que ainda tem uma presença militar francesa é o Djibuti.

Um objetivo fundamental da política francesa para a África sempre foi manter governos alinhados no poder, afirma Basedau. O Camarões é, hoje, um dos últimos bastiões dessa política. “Mas vamos ver como será quando Paul Biya não estiver mais no poder”, observa.

Laços econômicos estreitos com a França

Se a influência política da França e do Ocidente como um todo está diminuindo, os laços econômicos persistem, por exemplo na extração de matérias-primas. E também algumas redes de supermercados, postos de gasolina e operadoras de telefonia móvel permanecem total ou parcialmente em mãos francesas.

Essa relação econômica próxima fica ainda mais explícita no caso das duas moedas comuns da África Ocidental e Central, o franco CFA central (XAF) e o franco CFA ocidental (XOF), coletivamente chamadas de franco CFA. Elas são criticadas como colonialistas por estarem alinhadas ao euro por uma taxa de câmbio fixa em vez de permitirem uma política monetária própria.

Melhora nos indicadores básicos

Sessenta e cinco anos após sua independência, os países francófonos da África seguiram seu próprio caminho – o que vale também para muitos de seus cidadãos: dados sobre remessas demonstram a importância da diáspora para alguns países.

Por exemplo, cerca de 110 mil senegaleses vivem na França. No Senegal, as remessas para parentes em casa representam cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Estimativas mostram que, em todo o mundo, metade do dinheiro enviado vai diretamente para a população rural e, portanto, frequentemente para os mais pobres.

Se forem considerados indicadores básicos, muitas coisas mudaram para melhor na África francófona nos últimos 65 anos: na maioria dos países, a miséria diminuiu, a expectativa de vida aumentou e a mortalidade infantil caiu.