08/03/2024 - 8:47
Pesquisadores encontraram pela última vez o minúsculo e esplêndido sapo venenoso vermelho-escuro nas úmidas florestas de planície do oeste do Panamá há cinco anos. Desde então, o pequeno anfíbio se juntou a animais como o sapo-de-Wyoming e o corvo-do-Havaí na crescente lista de espécies que desapareceram na natureza.
Em torno de 30% das espécies de plantas e animais catalogadas pelos biólogos estão ameaçadas de extinção por riscos como a falta de alimentos causada pela destruição de seus habitats pelos humanos, envenenamento com pesticidas ou pela caça por lucro ou diversão.
A última vez que a Terra enfrentou uma extinção em massa da flora e da fauna tão rápida foi há 66 milhões de anos, quando um meteoro enorme atingiu o planeta. O impacto pôs fim à era dos dinossauros e eliminou 75% de todas as espécies da Terra.
Na época geológica chamada por alguns de Antropoceno, os humanos são o asteroide. A taxa anual de extinção natural é de dez a 100 espécies por ano. A atividade humana eleva esse número para cerca de 27 mil por ano. Só o desmatamento da Amazônia, reserva de biodiversidade que abriga entre 15% e 20% da flora e fauna de todo o planeta, poderia resultar no desaparecimento de 10 mil espécies no Brasil.
Anfíbios, insetos, répteis e peixes desaparecem em um ritmo cada vez maior. A extinção de espécies faz com que os ecossistemas percam estabilidade e, por fim, entrem em colapso, o que gera graves consequências aos humanos. A diminuição dos polinizadores, por exemplo, diminuiu a produção de frutas, vegetais e nozes, ao mesmo tempo em que o decréscimo das populações de animais e peixes significa a perda de fontes de proteínas.
Medidas de conservação, leis ambientais, criadouros e reservas naturais ajudaram a reverter o declínio de algumas espécies. Mas essa recuperação não é suficiente para compensar os acelerados índices globais de extinção, com cada vez mais espécies ameaçadas.
Morte de animais em criadouros
As medidas de conservação podem fracassar se a abordagem não for correta. Um exemplo é o lêmure de Madagascar. Um estudo de 2019 encontrou 87 indivíduos, afirmou Edward Louis, diretor da ONG Madagascar Biodiversity Partnership. Ele dedicou 25 anos de sua vida à conservação desses primatas de olhos esbugalhados.
As tentativas de capturar e reproduzir esses animais simplesmente não funcionaram, contou Louis. “Quando os tiramos da natureza, sua flora bacteriana muda, e eles, infelizmente, morrem depois de oito ou dez dias.”
O principal problema para o lêmure é a destruição da floresta, seu habitat natural, pela população local que precisa de carvão para cozinhar. É por isso que os conservacionistas tentam encontrar atualmente uma fonte alternativa de combustível para atrair moradores locais para proteção do habitat desses animais.
A aceitação local é crucial para o êxito da conservação, afirma Magnus J.K. Wessel, do grupo ambientalista alemão Bund. “Em locais onde as pessoas valorizam as espécies de animais para sua autoidentificação, assim como de sua região, e se beneficiam financeiramente disso, as coisas mudam”, disse Wessel. “Pode-se ver isso claramente com os tigres nos parques nacionais da Índia, mesmo se tratando de um animal muito perigoso”.
O número de tigres na Índia aumentou de 1.400 animais há 17 anos para 3.600 nos dias atuais, graças às áreas protegidas, à luta contra os caçadores ilegais e a investimentos de 2,1 bilhões de dólares na última década. As comunidades passaram a enxergar o valor de proteger os felinos e, ao mesmo tempo, se beneficiam do turismo.
A população de tigres ainda está longe dos 100 mil animais que viviam no país nos anos 1900, mas os ambientalistas consideram o aumento atual um sucesso.
Mesmo assim, não há garantias de que os números continuarão a aumentar. Além disso, mesmo as medidas mais bem intencionadas podem gerar efeitos desastrosos. “Devemos ser honestos e encarar as incertezas”, disse o ambientalista.
Nos anos 1990, a ONG ambientalista WWF realizou uma campanha para pôr fim à caça aos rinocerontes para a extração dos chifres que são utilizados na medicina chinesa. Em vez disso, a WWF sugeriu a utilização de chifres dos antílopes saiga. Como resultado, a população desses antílopes diminuiu 97%.
Os favoritos do público
Poucas pessoas vivenciam pessoalmente as consequências da extinção de uma espécie. Por isso é fundamental divulgar essas informações. Segundo Wessel, os animais de grande porte e carismáticos, como rinocerontes e tigres, assim como os pequenos e peludos, podem ajudar a conquistar o público.
“Os excêntricos também funcionam”, afirmou. “Há uma ampla comunidade de fãs do rato-toupeira-pelado que, certamente, não é um animal belo.”
Mas esse roedor é uma exceção. Segundo Wesel, os humanos tendem a não gostar dos bichos rastejantes. Dessa forma, a única maneira de proteger esses animais é criando reservas para as espécies mais carismáticas.
Esse tipo de conservação custa caro, o que é problemático, já que nem todos os países priorizam a proteção ambiental, e os que o fazem, geralmente dedicam no máximo 1% ou 1,5% de seus Produtos Internos Brutos (PIB) à causa.
Os países europeus são os que mais investem, seguidos das nações da Ásia e América do Sul. Na África, o Senegal é o que mais investe em proteção ambiental, dedicando 0,5% de seu PIB.
Até mesmo os países que mais investem na preservação enfrentam a extinção de espécies. Desde 1990, a proporção de espécies ameaçadas aumentou drasticamente na Malásia, Uganda e Tanzânia, que gastam comparativamente pouco em proteção ambiental, da mesma forma que também aumentou na França, China e Nova Zelândia, que estão entre os maiores investidores.
Métodos de proteção
A União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) busca analisar quando a proteção ambiental compensa, utilizando um tipo de escala. Esse método prevê o potencial de uma espécie de se recuperar com ou sem os esforços de conservação, assim como o tamanho máximo das populações de cada espécie.
O grou-azul, do sul do continente africano, é uma das espécies que poderia se beneficiar com uma intervenção. Durante a próxima década, a população desse animal poderia se recuperar quase que totalmente na natureza.
Mas para o lêmure-saltador-do-norte, espécie que Edward Louis tenta salvar, as notícias não são muito boas. As populações podem se recuperar em até dez anos se houver esforços de reflorestamento. Atualmente, porém, esses animais estão à beira da extinção.
Louis trabalha com uma empresa em Madagascar para produzir lenha de eucaliptos, que crescem com rapidez, como alternativa ao carvão vegetal feito da vegetação local. Até o momento, a população não aderiu à alternativa.
“Eles não parecem querer os eucaliptos”, disse Louis. “Ao contrário, eles preferem usar as árvores nativas.” O aroma do eucalipto é absorvido pelo arroz durante o cozimento. Ainda assim, Louis continua fazendo tudo o que pode para salvar os lêmures.