Um novo estudo publicado na revista Current Biology mostra que as cacatuas podem selecionar dispositivos e carregá-los como um kit de ferramentas para extrair a semente de uma fruta. Em experimentos de laboratório, as aves transportaram uma vara afiada e uma colher para retirar uma castanha de caju em duas etapas de uma caixa.

A prática sugere que cacatuas individuais inovam novas maneiras de resolver problemas e planejar com antecedência. Embora o uso de ferramentas possa parecer mundano, os cientistas realmente o consideram um sinal de maior capacidade cognitiva.

Por muito tempo, pensou-se que fosse exclusivamente humano, mas nos últimos anos as fileiras de animais que usam ferramentas cresceram para incluir primatas, corvos, lontras marinhas e outros, incluindo as cacatuas de Goffin.

“É um dos exemplos mais complexos de uso de ferramentas na natureza; três ferramentas diferentes com funções diferentes e de uma maneira muito hábil”, disse Antonio Osuna-Mascaró, biólogo evolutivo da Universidade de Medicina Veterinária de Viena e coautor da pesquisa, em conversa com a revista Smithsonian.

“Elas aprendem a usar ferramentas de uma forma que pode se assemelhar à nossa maneira de aprender a usar ferramentas”, explicou Osuna-Mascaró. “Eles aprendem combinando objetos e, eventualmente, encontram combinações e diferentes técnicas para usá-los de maneira funcional.”

Osuna-Mascaró e seus colegas criaram um experimento inteligente para descobrir mais sobre como as cacatuas pensam sobre o uso de ferramentas. Inspirados pelos chimpanzés pigmeus, que usam uma vara para fazer buracos em um cupinzeiro e puxar os cupins, a equipe partiu para ver se os pássaros poderiam completar um desafio semelhante.

Cientistas colocam um caju em uma caixa atrás de uma membrana transparente de papel. Para obtê-lo, cada ave teria que usar um par de ferramentas colocadas na frente da caixa. Eles primeiro tiveram que cortar a membrana, para o que usaram uma vara pontiaguda, e depois pescar o caju, usando um canudo cortado ao meio no sentido do comprimento para funcionar como uma colher. Sete das dez aves testadas conseguiram obter as castanhas de caju dessa maneira.

O próximo desafio foi ver se os pássaros poderiam ser flexíveis e alterar o uso de ferramentas com base no que era necessário para concluir uma tarefa. Os cajus foram colocados em caixas, como antes, mas apenas algumas das caixas tinham a membrana transparente, enquanto outras não. Embora ambas as ferramentas fossem colocadas na frente de todas as caixas, os pássaros rapidamente reconheceram que não precisavam do bastão pontiagudo para as caixas que não tinham membrana.

Finalmente, usando os mesmos dois tipos de caixa, a equipe adicionou outra camada ao experimento. Os pesquisadores tornaram as caixas cada vez mais difíceis de alcançar, primeiro exigindo uma escada e depois fazendo os pássaros voarem, a fim de ver se os pássaros reconheciam a tarefa em mãos e transportavam ferramentas para cada caixa conforme a necessidade.

Embora as cacatuas raramente sejam vistas carregando mais de um único objeto na vida cotidiana, durante o experimento elas frequentemente reconheciam quando precisariam de mais de uma ferramenta para obter o caju. Muitos dos pássaros pensavam nas ferramentas como um conjunto e carregavam as duas para o local de trabalho.

Um olhar mais atento sobre as cacatuas pode tornar essas habilidades um pouco menos surpreendentes, afinal, as aves exibem alguns comportamentos inteligentes. Pesquisas anteriores se concentraram no hábito de invadir latas de lixo, uma prática que parece estar se espalhando.

Enquanto os pássaros observam seus pares realizando a complicada habilidade de abrir lixeiras, alguns (mas não todos) desenvolvem seus próprios métodos de levantar tampas pesadas para acessar o lixo humano. Isso pode ser um sinal de aprendizado social, uma habilidade mais comumente vista entre animais como primatas e baleias.