22/07/2022 - 10:57
A onda de calor que assola boa parte da Europa nas últimas semanas deixou alguns brasileiros coçando a cabeça. Afinal, a temperatura máxima de 40°C registrada em algumas cidades europeias, como Londres e Madri, é “marca” do verão brasileiro em algumas regiões do país. “Por que raios eles estão reclamando de um calorzinho a mais que, para a gente aqui, é bastante comum?”. A resposta a essa pergunta tem uma obviedade e outros elementos menos singelos que precisam ser considerados.
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A primeira resposta, mais óbvia, está no histórico de cada região. Enquanto, em algumas áreas do Brasil, um verão com 40°C de temperatura é relativamente comum, na Europa o cenário é totalmente oposto. Lá, as construções e a infraestrutura em geral não foram feitas para suportar um calor tão intenso. Nem todas as casas têm ar-condicionado e a arquitetura das residências e edifícios europeus preza a retenção de calor, por conta do frio mais forte do inverno, em detrimento da circulação de ar.
Mas isso é apenas um pedaço da história. O tipo de calor também diferencia o verão europeu do verão brasileiro. “O calor na Europa é diferente porque é muito quente e seco. Com isso, nosso corpo perde muito mais líquido, porque tem muito menos vapor d’água no ar, então acaba que o suor evapora muito mais. É daí que vem os problemas de desidratação e insolação, que são uma das piores coisas”, explicou Lucas Ferreira, doutor em meteorologia e assistente científico do ETH Zurich (Suíça), ao UOL. No Brasil, o calor é mais úmido, o que ajuda o corpo a não perder muito líquido.
Falta de adaptação
As mudanças no comportamento do calor não se resumem ao que acontece hoje na Europa. Em todo o mundo, inclusive no Brasil, os últimos verões foram marcados pela ocorrência de eventos extremos, impulsionadas pelo aquecimento do planeta causado pela concentração excessiva de gases de efeito estufa na atmosfera. “O aquecimento global não apenas facilita a ocorrência de ondas de calor, mas também de secas, incêndios florestais e grandes enchentes porque a gente passa a ter uma atmosfera mais aquecida e portanto com mais capacidade de armazenar vapor d’água e, assim, com mais capacidade de produzir extremos de precipitação”, observou o climatologista Alexandre Costa, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), à BBC Brasil.
Outro fator que preocupa, especialmente no caso brasileiro, é a falta de adaptação climática de nossas cidades e infraestruturas. Se nem os países ricos da Europa estão preparados para lidar com esse clima extremo, o Brasil está em uma situação ainda mais frágil. “Vimos em 2022 fortes enchentes na Bahia, em Minas Gerais, chuvas fortes que causaram mortes em Petrópolis e Paraty, além da seca no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, que trouxeram fortes prejuízos para a agricultura”, lembrou o cientista Paulo Artaxo (USP). “O Brasil e demais países precisam se adaptar ao novo clima, que já está entre nós”. O Observatório do Clima destacou a análise de Artaxo e de outros cientistas de renome, como Carlos Nobre e Thelma Krug, sobre o calor intenso na Europa e os riscos climáticos que o Brasil enfrenta.