Após ex-presidente ser condenado a mais de 27 anos de prisão por tentativa de golpe, cresce o temor que o governo Trump lance novas sanções contra o Brasil ou autoridades do país.Após o ex-presidente Jair Bolsonaro ser condenado nesta quinta-feira (12/09) pelo Supremo Tribunal Federal a mais de 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, cresce a expectativa que o governo do presidente dos EUA, Donald Trump, lance novas sanções contra o Brasil, escalando ainda mais as tensões diplomáticas entre os dois países.

A dinâmica contenciosa entre Brasília e Washington ganhou fôlego com a ida aos EUA em fevereiro do deputado federal Eduardo Bolsonaro. Desde então, o filho de Jair Bolsonaro tem intensificado suas articulações políticas em solo americano para conseguir apoio de organizações conservadoras e setores do governo dos EUA, visando pressionar as autoridades brasileiras a partir do exterior para livrar seu pai de sanções legais e políticas no Brasil.

“Caças às bruxas”

Os esforços do deputado brasileiro parecem ter surtido efeito. Em julho, o presidente dos EUA, Donald Trump, enviar carta ao presidente Lula, vinculando a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros importados à situação jurídica de Bolsonaro, chamando o processo contra o ex-presidente de uma “caça às bruxas”.

Pouco depois da condenação de Bolsonaro, o governo dos EUA sinalizou que pretende impor mais retaliações contra o Brasil.

Em mensagem publicada nesta quinta-feira na rede X, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, chamou o julgamento do aliado brasileiro de “caça às bruxas” e disse que a Casa Branca vai “responder de forma adequada”. Rubio também chamou o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo contra Bolsonaro, de “violador de direitos humanos”.

Antes, o próprio Trump também comentou brevemente o resultado do julgamento, afirmando ter ficado surpreso com a condenação e comparando a situação jurídica do aliado brasileiro com os problemas que ele mesmo enfrentou na Justiça americana antes de retornar à Casa Branca.

“Eu assisti ao julgamento. Eu o conheço bem. Como líder estrangeiro, achei que ele foi um bom presidente. É muito surpreendente que isso tenha acontecido. É muito parecido com o que tentaram fazer comigo, mas não conseguiram de jeito nenhum. Mas só posso dizer o seguinte: eu o conheci como presidente do Brasil. Ele era um homem bom”, afirmou.

Sanções contra o STF

Ministros do STF também estão sofrendo sanções de Washington, que suspendeu o visto de entrada nos EUA dos ministros Alexandre de Moraes, Luis Roberto Barroso, Edson Fachin, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Flavio Dino, Gilmar Mendes e Cármen Lúcia.

Além disso, Moraes também sofreu sanções econômicas, com base na Lei Magnitsky, anunciadas pelo governo americano no final de julho. O magistrado é acusado pela Casa Branca de suprimir a liberdade de expressão e conduzir processos judiciais politizados contra Bolsonaro e censurar a plataformas digitais americanas, afetando não só brasileiros, mas também interesses americanos.

A medida tem entre as punições previstas o bloqueio de bens e contas nos EUA, além da proibição de entrada em território americano.

Possíveis próximos alvos de Trump

Aliados de Bolsonaro apostam, nos bastidores, em uma nova aplicação da Lei Magnitsky nas próximas semanas, em resposta à condenação do ex-chefe do Planalto.

Um dos alvos da sanção pode ser o procurador-geral da República, Paulo Gonet, responsável pela denúncia apresentada contra Bolsonaro. Os aliados do ex-presidente acreditam, ainda, que podem passar a ser alvos da lei a esposa e outros familiares de Moraes, além de empresas associadas.

Há quem aposte também que outros ministros do STF podem também ser afetados pela Lei Magnitsky. Após a condenação do pai, Eduardo Bolsonaro alertou que todos os ministros do Supremo que votaram pela condenação do ex-presidente podem enfrentar sanções sob a lei.

Estes seriam os ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin apoiaram Moraes no julgamento, sendo Luiz Fux o único dissidente, que votou pela absolvição de Bolsonaro.

Autoridades do governo brasileiro poderiam também ser alvejadas, segundo afirmou Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), em entrevista à agência de notícias AP.

A reação americana “também pode envolver restrições mais amplas de vistos para funcionários do governo ou mais tarifas”, disse Stuenkel. “É bastante imprevisível”, ponderou.

md (AP, ots)