Quem procurar ajuda para lidar com os sintomas da menopausa pode se deparar com a opção de terapia de reposição hormonal bioidêntica. Como os hormônios bioidênticos agem no organismo e quão seguros eles são?Mais de uma em cada duas mulheres sofre com ondas de calor e suor durante o climatério, ou seja, antes e depois da menopausa, que marca a cessação definitiva da menstruação. Distúrbios do sono, secura vaginal, dores nas articulações e depressão também são sintomas comuns.

Estrogênio, um aliado contra as ondas de calor

Segundo as diretrizes das sociedades ginecológicas da Alemanha, Áustria e Suíça, o remédio mais eficaz contra as ondas de calor é o hormônio sexual feminino estrogênio.

A falta dele no corpo feminino se faz sentir sobretudo após a menopausa, ou seja, o último período menstrual, que é quando os óvulos, cujas membranas produzem a maior parte do estrogênio no corpo feminino, já estão esgotados. No entanto, a ausência da progesterona (produzida pelo corpo lúteo e que tem um papel antagônico ao do estrogênio) também tem um grande impacto nesta fase da vida da mulher, conforme explica Katrin Schaudig, ginecologista e presidente da Sociedade Alemã da Menopausa.

“Quando as mulheres tomam apenas estrogênios por um longo período, o revestimento do útero fica muito denso e, na pior das hipóteses, isso pode resultar em câncer. Quando usamos estrogênio, precisamos da progesterona para nos proteger contra o câncer endometrial” disse Schaudig à DW, frisando a importância de que a dose de progesterona seja suficientemente alta.

Nas terapias de reposição hormonal (TRH) modernas, usa-se sobretudo os chamados hormônios bioidênticos: progesterona combinada com estradiol, para combater as ondas de calor; e estriol, que ajuda contra o ressecamento da mucosa vaginal, com os dois últimos pertencendo ao grupo dos estrogênios. Eles são chamados “bioidênticos” pois sua estrutura molecular corresponde à dos próprios hormônios do corpo.

Hormônios bioidênticos protegem de doenças relacionadas à idade

Tanto estrogênio quanto progesterona bioidênticos têm o potencial de prevenir muitas das doenças metabólicas relacionadas à idade que afetam as mulheres na pós-menopausa. Entre elas estão, acima de tudo, diminuição da densidade óssea e fraturas dos ossos, arteriosclerose, trombose, ataque cardíaco, derrame, insuficiência renal e demência, enumera Helena Orfanos-Boeckel, clínica geral e nefrologista especializada em nutrição e endocrinologia.

“Pele, mucosas, articulações e saúde bucal também se beneficiam da TRH. Todos os processos do corpo são bioquimicamente dependentes de hormônios no sentido mais amplo, e os hormônios promovem um envelhecimento mais saudável”, acrescenta.

O que distingue os hormônios bioidênticos dos derivados hormonais?

No passado, mulheres passando pelo climatério ou após a menopausa eram tratadas com substâncias que continham apenas um pequeno equivalente estrutural aos hormônios do corpo humano: os chamados derivados hormonais.

“Embora essas substâncias sejam estranhas ao corpo, elas eram e ainda são chamadas de ‘hormônios'”, explica Orfanos-Boeckel em entrevista à DW. “E essas substâncias com nomes errôneos, que na realidade suprimem os níveis hormonais, têm o potencial de causar efeitos colaterais, ao contrário dos hormônios bioidênticos.”

Derivados da progesterona e da testosterona naturais são usados, por exemplo, na pílula anticoncepcional para impedir a ovulação.

Risco de trombose inalterado com hormônios bioidênticos

Alguns derivados da progesterona têm um efeito adverso na coagulação sanguínea e podem aumentar o risco de trombose e derrame. Mas segundo estudos atuais, a progesterona bioidêntica não apresenta esse risco, ressaltam Orfanos-Boeckel e Schaudig.

Com o estrogênio, isso vai depender da forma de aplicação. Independentemente de ser bioidêntico ou derivado do estrogênio, o risco de trombose aumenta quando ele é ingerido, ou seja, metabolizado pelo fígado. Na terapia de reposição hormonal moderna, portanto, o estradiol é geralmente administrado através da pele na forma de gel, adesivo ou spray, evitando o risco de coagulação sanguínea.

A terapia de reposição hormonal aumenta o risco de câncer de mama?

Mulheres que tiveram ou têm câncer de mama também são desaconselhadas a usar hormônios bioidênticos. “Ainda é motivo de debate se o estrogênio realmente causa câncer”, diz Schaudig. “Mas o que sabemos é que os estrogênios podem promover o crescimento de células do câncer de mama, mesmo precursoras ou em estágio inicial. E o estrogênio que o próprio corpo produz também promove o crescimento de células do câncer de mama — é uma espécie de fertilização hormonal dessas células”, explica.

Em um estudo feito em mulheres sem diagnóstico prévio de câncer de mama, o risco da doença aumentou levemente após um período de seis a nove anos de TRH com estrogênio e progesterona bioidênticos. “Não é um bom estudo, é apenas um estudo observacional, mas é o único que temos.” No entanto, a ginecologista ressalta: “Duas taças de vinho à noite representam um risco muito maior, estar acima do peso, por si só, representa um risco maior, e não se exercitar também representa um risco maior.”

Ambas as médicas enfatizam a importância de se examinar os seios regularmente durante a menopausa, independentemente de se estar sob terapia de reposição hormonal ou não.

Estudos mais recentes sugerem ainda que o uso de cremes ou supositórios vaginais contendo hormônios em baixas dosagens é inofensivo. Nesta modalidade de terapia, costuma-se usar estriol bioidêntico, um subtipo de estrogênio que neutraliza a atrofia e o ressecamento do revestimento vaginal, protegendo assim contra cistite e a dor durante o sexo.

Por quanto tempo se pode tomar hormônios bioidênticos?

Aqui fala-se muito na chamada “janela de oportunidade”: quanto mais cedo for iniciada a terapia de reposição hormonal após o último período menstrual, melhor será a eficácia contra doenças relacionadas à idade, especialmente doenças do sistema cardiovascular.

No entanto, também é possível iniciar o tratamento vários anos depois, diz a ginecologista Schaudig. “Provavelmente não haverá proteção cardiovascular, mas ainda terá proteção contra a osteoporose, mesmo depois de cinco anos, e também contra a diabetes.”

Mas isso tampouco significa que não haja um prazo limite. No caso de vasos sanguíneos já danificados, tomar hormônios, incluindo os bioidênticos, pode causar trombose. Para essas mulheres, é extremamente importante manter os níveis de colesterol e a pressão arterial sob controle, alerta Schaudig, inclusive por meio de medicamentos.