06/04/2025 - 14:57
Todo ano, pelo menos um satélite é destruído por colisão com lixo espacial. Há mais de 130 milhões de pedaços de detritos presos na órbita da Terra, e a tendência é que esse número cresça, como alerta a Agência Espacial Europeia (ESA).
A proliferação de lançamentos espaciais comerciais — que agora representam a maioria das entradas na órbita da Terra – amplia o risco de colisões e o volume de lixo contratado para o futuro. A ESA alerta que esse cenário pode pôr em risco serviços essenciais, como GPS e monitoramento de desastres ambientais.
Os satélites que orbitam a Terra agora realizam manobras regulares para evitar colisões e minimizar danos ou a destruição dessa infraestrutura espacial crítica. Manobras de desvio também salvam a rotina de astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS).
“Dependemos dos satélites como fonte de informação para nossa vida cotidiana, desde navegação, telecomunicações, serviços e observação da Terra, defesa e segurança”, explicou à DW Josef Aschbacher, diretor-geral da ESA.
Em sua conferência anual sobre detritos espaciais, a ESA pediu ações urgentes para limpar a órbita terrestre e estabeleceu um Compromisso de Lixo Zero, com a assinatura de 17 países europeus em 2023. México e Nova Zelândia aderiram no ano passado.
Ferro-velho voador
Em resumo, a órbita da Terra está ficando mais lotada à medida que mais satélites são lançados e tecnologias obsoletas não são removidas.
Mesmo milimétricos fragmentos de lixo espacial podem causar danos graves a espaçonaves e satélites funcionais.
Há uma década, o satélite climático Copernicus Sentinel-1A sofreu uma amassadura de 5 centímetros de largura causada por um objeto de apenas 2 milímetros solto no espaço. O impacto não afetou as operações do satélite, mas serviu de alerta sobre os riscos crescentes de colisões.
“Um pedaço de detrito de um centímetro tem a mesma energia de uma granada de mão”, disse à DW Tiago Soares, engenheiro-chefe do Escritório de Espaço Limpo da ESA.
Atualmente, há pelo menos um milhão desses pedaços maiores de detritos orbitando a Terra. Cada colisão gera centenas de novos fragmentos — um fenômeno de reação em cadeia conhecido como efeito Kessler.
“Isso seria desastroso e muito prejudicial, pois tornaria órbitas inteiras inutilizáveis. Consequentemente, categorias inteiras de uso de satélites não seriam mais possíveis”, alertou Aschbacher.
Consequências ambientais
Todas as espaçonaves estão em risco de colisão com lixo espacial, mas os satélites de monitoramento ambiental estão especialmente vulneráveis.
Equipamentos como os Copernicus Sentinels monitoram em tempo real o clima e as condições meteorológicas da Terra. Eles também fornecem dados essenciais para cientistas e governos sobre desastres naturais, como incêndios florestais, erupções vulcânicas, secas e enchentes.
Se mesmo uma parte dessas constelações de satélites fosse destruída, toda a operação de coleta de dados poderia ser gravemente afetada.
“Cerca de 70% a 80% de todas as informações [sobre clima e meio ambiente] que obtemos vêm dos satélites. Se esses satélites em órbita estiverem em risco, nossa capacidade de prever mudanças climáticas no futuro estará certamente ameaçada”, afirmou Aschbacher.
“Não se trata apenas da previsão, mas também da mitigação das mudanças climáticas, seja o aumento do nível do mar, tempestades, furacões ou outros efeitos do aquecimento global — o derretimento das calotas polares, o derretimento de grandes áreas de gelo e assim por diante”, acrescentou.
Reboque e assistência rodoviária no espaço
Uma pequena quantidade de lixo espacial acaba caindo de volta à Terra, mas a grande maioria permanece presa em órbita. Nenhuma missão conseguiu a façanha de capturar detritos no espaço e trazê-los para a Terra, e as agências espaciais têm se debruçado sobre esse problema.
A ESA deposita suas esperanças na missão ClearSpace-1, prevista para 2028. Ela usará braços robóticos para remover o satélite PROBA-1, do tamanho de uma mala, da órbita baixa da Terra.
Soares explicou que outros projetos incluem o uso de uma estrutura em forma de rede para “pescar” satélites fora da órbita, mas ainda carecem de testes.
Outra abordagem em estudo é a criação de protocolos para desativar tecnologia espacial não utilizada, com a adoção, em missões futuras, de métodos para remover espaçonaves desativadas com suprimentos de combustível integrados.
Outros pesquisadores estudam tecnologias que possibilitem a reentrada controlada de espaçonaves obsoletas na Terra. A ESA pretende adotar o mantra “reduzir, reutilizar, reciclar” da sustentabilidade ambiental no espaço.
Em vez de simplesmente remover detritos, uma alternativa seria desenvolver um tipo de “assistência rodoviária” espacial para reparar satélites e prolongar sua vida útil.
“A longo prazo, não estamos focados apenas na remoção, mas também no que chamamos de ‘economia circular no espaço'”, disse Soares.
Como ele explicou, isso significa “promover novas missões que não apenas removam objetos da órbita, mas que tentem repará-los, reutilizar partes e, eventualmente, até reciclá-las”.