02/12/2025 - 16:58
Empresário alemão lucra com a produção de inseticidas, mas desencoraja uso desses produtos e diz que, em vez de matar insetos, devemos salvá-los. Como assim?Quando Hans-Dietrich Reckhaus assumiu o lugar do pai à frente da indústria de inseticidas da família, em 1995, ele não dava muita importância para insetos. Assim como o pai, ele produzia todo tipo de produto para exterminá-los: spray para pragas, pó para formigas, papel antitraças e mata-moscas.
A vida de Reckhaus mudou radicalmente depois de ele criar uma nova armadilha mortal para moscas. Para promover o produto e impulsionar as vendas, o empresário procurou a dupla de artistas conceituais Frank e Patrik Riklin. Eles, no entanto, rejeitaram a oferta porque consideravam ultrapassada a ideia de exterminar insetos.
Em vez disso, a dupla propôs um projeto artístico com foco na preservação de insetos. A iniciativa teve a participação do vilarejo de Deppendorf, com seus cerca de mil habitantes. Durante uma semana, os moradores coletaram moscas – sem matá-las – e, ao final, uma das moscas, “Erika”, viajou de limusine, helicóptero e avião até um hotel e spa cinco estrelas.
Isso aconteceu há 13 anos, mas o projeto levou Reckhaus a refletir sobre a importância dos insetos para a natureza e acabou motivando uma reestruturação total de sua empresa.
Hoje, todos os seus produtos trazem no verso informações sobre a importância e as ameaças aos insetos, além de dicas sobre o que as pessoas podem fazer para mantê-los longe de casa sem matá-los. Alguns produtos também exibem um grande aviso na parte da frente: “Cuidado, mata insetos importantes”.
Reckhaus explica que sua intenção é chocar os consumidores com informações e provocá-los a “refletir sobre sua relação com os insetos”. “Ele [consumidor] aprenderá como manter os insetos fora de casa e não comprará o produto novamente no futuro”, acredita.
Alto custo da transformação
Qual empreendedor faria algo assim, arriscando a própria essência de seu negócio? “O que me motivava antes era ganhar o máximo de dinheiro possível e usá-lo para fazer algo significativo – apoiar organizações sociais, criar uma fundação e assim por diante”, diz Reckhaus à DW. Hoje, porém, diz que é mais sobre “fazer o máximo de trabalho significativo possível e ganhar algum dinheiro no processo”.
Ele próprio aprendeu sobre o significado dos insetos após o projeto artístico – assim como espera que seus clientes também façam – e, consequentemente, repensou completamente seu modelo de negócios, algo que jamais havia questionado antes.
Essa transformação, afirma, lhe custou caro: “Perdi 30% da minha receita e mais de 80% da minha margem de lucro nos últimos dez anos”. Mas ele pondera que o que ganha atualmente é suficiente para que viva bem.
Mudando o mercado por dentro
Simplesmente interromper a produção de pesticidas não parecia uma solução sensata para Reckhaus. Em vez disso, ele diz querer mudar o mercado por dentro. Sua empresa agora oferece produtos que capturam insetos vivos, embora também continue fabricando produtos que os matam.
Para compensar os danos ecológicos, Reckhaus contratou especialistas para calcular aproximadamente quantos insetos seus produtos eliminam e criou áreas de compensação especiais para fornecer habitats a eles. O declínio nas populações se deve principalmente à falta de habitats adequados, seja pela expansão urbana ou pela agricultura industrial. “Esse, no entanto, foi o primeiro passo. Aliviou um pouco minha consciência.”
Selo de aprovação “Insect-Respect”
O objetivo do selo de aprovação Insect-Respect (“Respeito aos Insetos'”), idealizado por ele, é também criar equilíbrio. Áreas de compensação para os insetos são criadas para produtos que são certificados com este selo.
Embora os concorrentes de Reckhaus não tenham demonstrado entusiasmo pelo selo – nenhum deles se certificou –, o setor varejista tem visto algumas mudanças significativas. Redes como Aldi, Budni, DM, Migros, Rossmann e Spar incluem o selo em seus produtos de marca própria, alertando os consumidores sobre o uso desses itens. Só em 2024, 14 milhões de embalagens com o selo de aprovação Insect-Respect foram vendidas na Europa.
Outras grandes empresas também passaram a destacar seus compromissos com a biodiversidade. Com a ajuda do Insect-Respect, a fabricante de móveis Ikea criou refúgios para insetos na Itália, Sérvia e Romênia. Áreas favoráveis aos insetos incluem o terraço na cobertura da sede da consultoria de gestão KPMG, o telhado da fábrica de bolsas Halfar e uma área verde pertencente à fábrica de chocolates Ritter Sport.
“Recebemos consultas de toda a Europa; não conseguimos atender a todos os pedidos”, diz Reckhaus, visivelmente satisfeito. Diante da falta de paisagistas com a expertise necessária, ele criou a Insectemy – junção das palavras em inglês insect (“inseto”) e academy (“academia”), que treina paisagistas para projetar áreas com plantas regionais atraentes a insetos.
Muitos elogios e críticas
A transformação de sua empresa lhe rendeu inúmeros prêmios e distinções. Reckhaus também recebe apoio da comunidade empresarial quando dá palestras contando sua transformação, embora ele não se veja como um modelo para outros empreendedores. “Eles tentam tornar seus modelos de negócios neutros em carbono, mas não os questionam de maneira fundamental”, afirma.
Em sua opinião, a neutralidade climática por si só não basta, porque se torna inútil sem uma flora e fauna saudáveis. Ele afirma que os empreendedores precisam repensar seus modelos de negócios em vez de se apegarem a ideias equivocadas, e alega que repensar as coisas não é uma prática incentivada em seu setor.
Também foi difícil para Reckhaus o fato de o fundador da empresa, seu pai, já falecido, não concordar com a transformação. “Ele não entendia ou não queria entender. Ele era muito descrente até o fim, era um assunto que tínhamos que evitar em família.”
Reckhaus diz que era muito bem-sucedido antes da transformação. “Tudo ia muito bem, mas eu não era feliz”, relembra. Seu comprometimento abriu muitas portas para outras pessoas que se importam com os insetos. “Hoje eles são meus aliados, meus amigos, meus apoiadores. Isso me traz uma alegria incrível todos os dias.”
