28/06/2025 - 17:22
Ir juntos a uma montanha-russa seria melhor do que usar um bom perfume? O que as pesquisas revelam sobre a atração não é o que você pensa.Seja enfaixar os pés para deixá-los na forma de flor de lótus na China, pintar os dentes de preto no Japão ou usar pedaços de madeira para alongar o crânio de bebês entre os maias: a história tem diversos exemplos de como os padrões de beleza podem assumir formas extraordinariamente diversas.
Como explicou Veronica Lamarche, professora de psicologia da Universidade de Essex, à BBC Science Focus, “a atratividade é, de certa forma, uma experiência subjetiva”. Em outras palavras, o que é irresistível para alguns pode parecer estranho para outros.
No entanto, por trás dessa aparente arbitrariedade cultural, a ciência moderna começou a desvendar padrões universais que transcendem o que percebemos no espelho.
Então, esqueçamos os filtros do Instagram e os cremes milagrosos, pois a ciência tem boas notícias: a atração vai muito além da aparência física e, em grande parte, está em nossas mãos.
Não é (apenas) um rosto bonito
Comecemos pelo mais óbvio: um rosto bonito. Embora a beleza facial continue a ter um peso considerável na primeira impressão, estudos mais recentes matizam significativamente a sua influência.
Uma análise de mais de 1.500 rostos de dez países diferentes, publicada no ano passado na revista científica Evolution and Human Behavior, concluiu que a simetria, ao contrário do que se pensava, não é um indicador significativo da atratividade.
O que importa é que o rosto tenha proporções próximas à média de seu grupo cultural e, no caso das mulheres, uma maior “feminilidade facial”. O curioso é que quanto mais “comum” um rosto parece em seu ambiente, mais atraente ele se torna. A singularidade extrema, paradoxalmente, tiraria pontos.
Comportamento e atitude: os pilares da atratividade pessoal
É aqui que entram em jogo fatores muito mais moldáveis: a atitude, a gentileza, o senso de humor e a forma como nos conectamos com os outros. Em outras palavras, a atração é menos estática do que pensamos e mais relacional. A autenticidade, por exemplo, é poderosa: um estudo citado pela Psychology Today mostrou que as pessoas são percebidas como mais atraentes quando são sinceras, mesmo que isso implique mostrar-se vulnerável ou expressar opiniões impopulares.
Rir também ajuda. E não apenas pela alegria contagiante, mas porque, de acordo com uma pesquisa conjunta nos EUA e na Noruega, rir com alguém (especialmente de suas piadas) aumenta a atração. O humor cria conexão e reduz as barreiras sociais.
Energia, vitalidade e ambiente social
Outra característica subestimada é a vitalidade. Um sorriso genuíno, juntamente com expressões faciais e linguagem corporal dinâmicas, projeta uma energia que supera o que qualquer imagem estática pode transmitir. Por esse motivo, a revista Psychology Today sugere o uso de vídeos em aplicativos de namoro para mostrar melhor sua presença natural.
Além disso, a ciência também revela o “efeito animador”: as pessoas parecem mais atraentes quando fazem parte de um grupo que inclui alguns indivíduos atraentes, pois o cérebro calcula a média das características faciais em grupos.
E não subestime o poder da gentileza. Estudos recentes confirmam que comportamentos como apoio emocional e cooperação aumentam notavelmente a atração, ao serem associados à inteligência emocional e ao valor social.
Conexões emocionais e afinidades compartilhadas
A atração também nasce do sentimento de que compartilhamos algo com o outro. Conforme disse ao site The Brink o professor Charles Chu, da Universidade de Boston, uma simples afinidade – por uma música, uma opinião política ou um lanche favorito – pode nos fazer sentir que compartilhamos algo mais profundo.
Esse efeito, chamado de “raciocínio autoessencialista”, conforme descrito por Chu em um estudo de 2023, nos faz pensar que, se alguém concorda conosco em algo pequeno, provavelmente também concorda no essencial.
No entanto, Chu adverte que essa forma de pensar pode ser limitante. Às vezes, descartamos pessoas valiosas por uma única diferença superficial, esquecendo que todos somos mais complexos do que parecemos à primeira vista.
Outros fatores: adrenalina e nutrição
A adrenalina pode nos tornar mais atraentes? Segundo a ciência, sim. Literalmente. Um famoso experimento de 1974 demonstrou que, em situações de alta adrenalina – como atravessar uma ponte suspensa –, tendemos a confundir a excitação física com atração romântica. É o chamado efeito de “atribuição errônea da excitação”. Por isso, uma montanha-russa ou um filme de terror podem ser cenários ideais para um primeiro encontro.
No espectro da nutrição, há algo que você pode fazer e que tem base científica: comer vegetais ricos em carotenóides, como cenoura, abóbora e pimentão. De acordo com uma pesquisa da Universidade de St Andrews, essas substâncias melhoram a coloração da pele, dando-lhe um brilho dourado que geralmente é percebido como mais saudável e, portanto, mais atraente.
E quanto ao dinheiro?
Apesar do que alguns discursos em nossas culturas insistem em repetir, o dinheiro não é um fator decisivo na atração, pelo segundo alguns especialistas. Como explicam Morrison e Lamarche, em contextos históricos em que as mulheres dependiam economicamente dos homens, a riqueza podia ser um critério pragmático. Mas hoje, com maior liberdade financeira, não há evidências sólidas que indiquem que o dinheiro seja inerentemente atraente. Em vez disso, a personalidade e a qualidade dos relacionamentos pesam muito mais.
Em definitivo, a ciência parece concordar com uma verdade incômoda para a indústria da beleza: não existe uma técnica secreta nem uma fórmula mágica. “Seja charmoso, simpático e divertido”, diz Morrison. “Porque sem dúvida isso funciona bem.”
A professora Lamarche concorda: “As pessoas querem parceiros afetuosos, alguém em quem confiar. Essa é a maior influência na atração.”
O consenso científico aponta para uma conclusão clara e simples: para ser mais atraente, o melhor que você pode fazer é ser você mesmo de forma autêntica, cuidar do seu bem-estar emocional e mental e cultivar relacionamentos baseados em gentileza, humor e sinceridade.
E se você acrescentar a isso um sorriso, uma conversa compartilhada e uma montanha-russa no meio, estará fazendo muito mais pela sua atratividade do que qualquer ritual de beleza que viralizou em redes sociais.
bl (DW, ots)