15/02/2024 - 9:52
“Small things like these” abre um dos principais festivais de cinema do mundo. Brasil apresenta filmes nas mostras Panorama e Encounters da Berlinale.A estreia mundial do drama histórico Small things like these (“Coisas pequenas como essas”, em tradução literal), baseado no livro homônimo da escritora irlandesa Claire Keegan, abre nesta quinta-feira (15/02) a 74ª edição do Festival de Cinema de Berlim, a Berlinale. Durante dez dias, serão exibidas centenas de filmes no evento que é um dos principais do gênero, ao lado dos festivais de Cannes e Veneza.
Estrelado por Cillian Murphy, Eileen Walsh, Michelle Fairley e Emily Watson, Small things like these tem como pano de fundo as lavanderias de Madalena, instituições na Irlanda administradas pela Igreja Católica entre os anos 1820 e 1996, onde mulheres consideradas supostamente “perdidas” eram escravizadas. O drama concorre ao Urso de Ouro.
Em 2024, 20 filmes estão na disputa pelos prêmios mais importantes do festival: o Urso de Ouro e o Urso de Prata. A atriz mexicana-queniana Lupita Nyong'o comanda o júri internacional que indicará os premiados. Nesta edição, fazem parte deste júri o ator e diretor americano Brady Corbet, a diretora de Hong Kong Ann Hui, o diretor alemão Christian Petzold, o diretor espanhol Albert Serra, a atriz e diretora italiana Jasmine Trinca e a escritora ucraniana Oksana Zabuzhko.
Muitos dos filmes selecionadas para a competição oficial resultam de parcerias entre dois ou mais países, o que faz com que 30 nações estejam representadas no evento.
Depois de estar completamente ausente em 2023, o continente africano volta para a Berlinale, com três filmes concorrendo ao prêmio principal. O cineasta Abderrahmane Sissako, nascido na Mauritânia e de origem maliana, que concorreu ao Oscar em 2014 com Timbuktu, apresenta em Berlim Black Ttea (Chá preto). O filme conta a história de uma jovem da Costa do Marfim que se apaixona por um chinês mais velho após imigrar para a Ásia.
A diretora tunisiana Meryam Joobeur está competindo com seu primeiro longa-metragem, Who do I belong to (A quem eu pertenço). O filme conta a história de uma mãe sobrecarregada após o retorno de seu filho que foi combatente da organização terrorista Estado Islâmico.
A cineasta franco-senegalesa Mati Diop é a diretora de Dahomey – um dos dois documentários selecionados na competição oficial. A obra aborda a devolução de 26 peças dos tesouros reais do Reino de Dahomey ao Benin. Diop, que fez história em Cannes com a estreia celebrada de Atlantique em 2019, é a primeira mulher negra a concorrer ao prêmio principal da Berlinale.
Nepal, Irã, e hipopótamos de Pablo Escobar
Outros destaques incluem Shambhala, dirigido por Min Bahadur Bham, marcando a primeira participação nepalesa na história da competição da Berlinale.
Já o diretor sul-coreano Hong Sangsoo, premiado três vezes com o Urso de Prata, volta a Berlinale com A Traveler’s Needs (Necessidades de um viajante), estreado por Isabelle Huppert. A renomada atriz francesa, que recebeu o Urso de Ouro Honorário em 2022, mas não pôde comparecer à cerimônia pessoalmente, será homenageada no festival neste ano.
A obra mais recente do duo de diretores iranianos Maryam Moghadam e Behtash Sanaeeha, My favorite cake (Meu bolo favorito), também está na seleção, porém, o Irã impediu a participação da dupla no evento. Os cineastas “foram proibidos de viajar, tiveram seus passaportes confiscados e enfrentam um julgamento relacionado ao seu trabalho como artistas e cineastas”, afirmaram os organizadores da Berlinale em um comunicado, no qual também pediram ao Irã que encerre as medidas restritivas.
Segundo o diretor artístico do festival, Carlo Chatrian, o filme mais “difícil de classificar” na seleção é Pepe, dirigido por Nelson Carlo de los Santos Arias. A narrativa da obra é conduzida pelo espírito de um hipopótamo levado da África para a Colômbia, onde foi mantido no zoológico do narcotraficante Pablo Escobar.
Europeus também têm destaque na competição
Alemanha, França e Itália também estão bem representadas na competição. O premiado diretor alemão Andreas Dresen concorre com From Hilde, with Love (De Hilde, com amor), baseado em uma história real de resistentes antinazistas do grupo Rote Kapelle.
Os cineastas franceses veteranos Bruno Dumont e Olivier Assayas também estão na disputa por um Urso de Ouro ou Prata, juntamente com a vencedora do prêmio “Camera d'Or” concedido no Festival de Cinema de Cannes, Claire Burger.
Apoio ao diálogo em meio à guerra em Gaza
A Berlinale também é conhecida por ser o festival de cinema mais político dos três principais festivais europeus. A diretora-executiva do evento, Mariette Rissenbeek, e o diretor artístico, Carlo Chatrian, apresentaram a programação deste ano expressando solidariedade a “todas as vítimas das crises humanitárias no Oriente Médio e em outros lugares”.
Eles acrescentaram que estão “preocupados ao ver que o antissemitismo, o ressentimento anti-muçulmano e o discurso de ódio estão se espalhando na Alemanha e ao redor do mundo” e enfatizaram que o festival visa promover um “diálogo aberto” sobre a guerra em Gaza.
Uma das plataformas que permite tais trocas é o Projeto Tiny House, um espaço de encontro montado de 17 a 19 de fevereiro na Potsdamer Platz. O projeto foi concebido pela jornalista teuto-palestina Jouanna Hassoun e pelo teuto-israelense Shai Hoffmann que trabalham juntos há vários anos em iniciativas educacionais voltadas a explicar o conflito no Oriente Médio.
Uma mesa de discussão intitulada “Produção Cinematográfica em Tempos de Conflito – Perspectivas Futuras” também será realizada durante o festival. Na mostra especial da Berlinale, Shikun do diretor israelense Amos Gitai é descrito como uma “tentativa de criar uma plataforma para um diálogo no Oriente Médio”. Na mostra Panorama, dois trabalhos ativistas abordam o conflito nos documentários No other land (Nenhum outro país), feito por um coletivo palestino-israelense, e Diaries from Lebanon (Diários do Líbano), de Myriam El Hajj.
Enquanto isso, um cineasta retirou oficialmente sua obra da mostra Forum Expanded. A decisão foi um protesto contra o apoio da Alemanha à Israel no atual conflito. O diretor ganês Ayo Tsalithaba disse em uma declaração publicada nas redes sociais que estava aderindo ao chamado “Greve na Alemanha” para boicotar as instituições culturais alemãs.
Brasil marca presença no festival
Apesar de não estar na competição principal, o Brasil está representando em outras mostras do festival. Os filmes Betânia, do diretor Marcelo Botta, e Dormir de olhos abertos, uma co-produção Brasil, Taiwan, Argentina e Alemanha, representam o país na mostra Panorama. Já Cidade; Campo, de Juliana Rojas, será exibido na Encounters.
Além dos longas-metragens, os curtas brasileiros Lapso, de Caroline Cavalcanti, e Quebrante, de Janaina Wagner, foram selecionados para o festival.
As estrelas no tapete vermelho
Naturalmente, um festival de cinema também é uma celebração de glamour e estrelas, e Berlim tem muito a oferecer neste ano. A lenda do cinema Martin Scorsese receberá o Urso de Ouro Honorário, um prêmio pela trajetória de vida, em 20 de fevereiro.
A produção da Netflix, Spaceman faz sua estreia mundial na Berlinale, e suas estrelas, Adam Sandler e Carey Mulligan, também estarão presentes no evento.
Os fãs do Universo Cinematográfico Marvel encontrarão Sebastian Stan em A different man (Um homem diferente). Outros atores renomeados dos Estados Unidos que são esperados no tapete vermelho de Berlim incluem Kristen Stewart, Lena Dunham e Amanda Seyfried.
A cerimônia de encerramento, na qual os prêmios Urso de Ouro e Urso de Prata serão anunciados, está marcada para o dia 24 de fevereiro.