22/03/2025 - 12:49
Congresso peruano aprova moção de censura contra ministro do Interior em meio à crise na segurança pública. Assassinato de cantor expôs atuação de gangues que se dedicam à extorsão, crime que vem explodindo no país.O Congresso do Peru aprovou nesta sexta-feira (21/03) uma moção de censura contra o ministro do Interior do país, Juan José Santiváñez, que agora terá que deixar o cargo. Ele vinha sendo pressionado pela falta de resultados na luta contra o crime organizado e o que vem sendo encarado como uma “epidemia” de casos de extorsão no Peru.
Por 79 votos a favor, 11 contra e 20 abstenções, o parlamento aprovou a censura ao ministro “por sua responsabilidade política e incapacidade de enfrentar a onda de insegurança” no país, segundo a moção, votada em sessão pública. Eram necessários 66 votos para retirá-lo do cargo.
A destituição também ocorreu na esteira do assassinato, no último domingo, de um cantor de cúmbia (ritmo dançante que é popular em países de língua espanhola). O cantor Paul Flores, de 40 anos, era membro do popular grupo Armonía 10 e estava num ônibus que transportava integrantes da banda quando o veículo foi abordado por criminosos em uma moto após uma apresentação em San Juan de Lurigancho, um distrito no leste de Lima.
A banda, assim como outros grupos musicais no país, vinha sendo alvo de grupos criminosos, que exigiam dinheiro para não assassinar os músicos. O caso provocou comoção no Peru e jogou luz mais uma vez para os casos de extorsão no país, que afeta empresários, comerciantes, artistas, trabalhadores do setor de transportes e até mesmo escolas particulares.
Em abril do ano passado, uma escola na cidade de Trujillo, a terceira mais populosa do país, foi alvo de um atentado a bomba após o diretor da instituição receber mensagens ameaçadoras que exigiam um pagamento de 2.500 dólares.
No mesmo ano, motoristas de ônibus de todo o país organizaram greves para protestar contra a falta de ação das autoridades em combater gangues que vêm extorquindo os profissionais.
Em 2024, autoridades policiais do Peru receberam mais de 18 mil denúncias de extorsão em todo o país, bem acima dos 4.500 casos documentados em 2021. No entanto, analistas alertam que a grande maioria dos casos não é denunciada devido ao medo de retaliação.
Moção de censura
A votação que resultou na destituição do ministro ocorreu horas antes de uma manifestação convocada na capital, Lima, para exigir do governo medidas contra as extorsões e a violência, além da renúncia do ministro.
Santiváñez, um advogado de 47 anos, estava no cargo há 10 meses. Ele acumulava desgaste na sua gestão e vinha sendo investigado pelo Ministério Público por suposto abuso de autoridade decorrente do escândalo em torno de relógios de luxo não declarados pela presidente do país, Dina Boluarte.
Após o assassinato do vocalista Flores, o governo peruano decretou estado de emergência por um mês em Lima, para que os militares ajudem a polícia em suas operações contra o crime organizado.
O Peru vive um clima crescente de insegurança, que teve início em meados de 2024, quando cinco motoristas foram assassinados. Segundo autoridades, o crime organizado mudou substancialmente nos últimos anos no Peru, devido ao tráfico de armas e à presença de grupos como o Tren de Aragua, de origem venezuelana.
Nos primeiros três meses do ano, 459 homicídios foram registrados por conta da violência urbana no Peru, segundo o Sistema Informatizado Nacional de Óbitos. A imprensa peruana indicou que essa é a cifra mais alta das últimas duas décadas.
jps (AFP, DW, ots)