02/12/2024 - 17:31
Uma pesquisa publicada na revista Frontiers in Marine Science indicou que um grupo de orcas situadas perto do Golfo da Califórnia criou uma série de técnicas de caça colaborativas para conseguirem abater o maior peixe do oceano, o tubarão-baleia. A equipe de especialistas identificou a diferença de comportamento do grupo depois de observá-los por semanas – nessa investigação foi identificado que a técnica de caça deles se assemelha a outro grupo que mata tubarões brancos na África do Sul.
“O que é surpreendente é ver a interação entre duas espécies tão carismáticas dos oceanos e também como esse grupo específico sabe se adaptar e adquiriu diferentes tipos de estratégias para caçar diferentes presas. No caso da caça de tubarões-baleia, esse grupo usa esforços de trabalho em equipe e técnicas específicas de caça para imobilizar os tubarões e extrair os órgãos internos, especificamente o fígado”, explicou Erick Higuera Rivas, biólogo marinho da Conexiones Terramar, ao Science Alert.
Todas as orcas são classificadas como a mesma espécie, porém há uma divisão de grupos por meio dos comportamentos de cada uma ao redor do mundo – há até diferenças físicas em cada agrupamento. As estratégias de caça e suas dietas também auxiliam no processo de diferenciação. Alguns tipos se alimentam de peixes como o salmão e outros preferem por caças grandes, como focas e outras baleias. Alguns especialistas acreditam que a nova observação pode apresentar um processo de especiação ao vivo.
Um dos bandos mais notáveis na visão dos cientistas é o de caçadores de elasmobrânquios. Eles têm sido observados desde de 1990 e a repetição de sua técnica indica uma estratégia de caça especializada. A equipe da bióloga marinha Francesca Pancaldi, do Centro Interdisciplinar de Ciências Marinhas do México, analisou quatro fenômenos de caça de tubarões-baleia e identificou o mesmo comportamento de ação no abate de peixes maiores.
A presença do macho do grupo californiano, Moctezuma, e algumas de suas fêmeas em três dos quatro eventos sugeriu que este é o único coletivo que se envolve na perseguição de tubarões-baleia – o ataque é altamente coordenado. Primeiro, elas batem na presa com suas cabeças até que ele fique atordoado e imobilizado, depois viram o tubarão-baleia de cabeça para baixo e começam a rasgá-lo para que ele entre em processo de perda de sangue – o foco da mordida é o local perto do fígado. Ainda não foi identificado porque o alvo segue neste órgão, mas os especialistas supõem que ele se torne atrativo pelo grande armazenamento de gordura que possui.
“As orcas podem comer outros órgãos como o estômago e os intestinos, mas não sabemos 100 por cento. Como no caso dos grandes tubarões brancos na África do Sul, [as orcas] também estão interessadas apenas no fígado do tubarão-baleia. O corpo do tubarão-baleia é composto principalmente de cartilagem e músculo, então não é muito rico em nutrientes para um mamífero predador de topo como as orcas”, explicou Pancaldi.
No artigo, os cientistas ressaltam que o comportamento das caçadoras não representa um perigo para a espécie da presa, já que os tubarões-baleia permanecem indo ao Golfo da Califórnia há décadas. Apesar de ser uma ameaça para outros animais, o novo grupo identificado constitui um ecotipo emergente que conta com uma capacidade de especialização em elasmobrânquios não identificada em outros bandos.