14/02/2019 - 9:57
A grande maioria das pessoas que têm interesse por questões espiritualistas ou parapsicológicas já deve ter visto os livros de Raymond Moody e outros autores sobre as experiências transcendentais que determinadas pessoas vivenciam em estados de coma, anestesia profunda ou quando têm seus sinais vitais anulados. Essas experiências próximas da morte, ou EQMs (“experiências de quase-morte”), vêm indicando que o corpo físico não é um elemento imprescindível para a manutenção da consciência – o que traz implicações extremamente interessantes para a hipótese da sobrevivência do espírito após a morte.
Com a sofisticação cada vez maior da tecnologia médica, mais e mais pessoas vêm sendo resgatadas do limiar da morte, e aquelas que retêm lembranças sobre o estado que vivenciaram fazem relatos surpreendentemente semelhantes a respeito daquilo que observaram nesse outro estado de consciência.
A experiência do filósofo John Wren-Lewis, relatada recentemente no “Journal of Transpersonal Psychology” e no boletim “Brain & Mind”, apresenta esse assunto sob outro ponto de vista. Segundo ele, o principal significado dessa experiência pode não estar na sua relevância para a questão da sobrevivência do espírito, mas sim no profundo impacto que exerce sobre a vida do indivíduo neste mundo. Sabe-se, através de pesquisas, que as pessoas que passaram por essa experiência relatam uma modificação radical em suas atitudes e na sua qualidade de vida, que ultrapassam de longe o fato de terem sobrevivido a um momento de crise.
Partindo de sua própria vivência, Wren-Lewis considera que as EQMs levam a essa experiência maravilhosa porque aquietam as insistentes mensagens da mente, orientadas para a sobrevivência. Quando removemos esse excesso de “ruído”, conseguimos ter acesso a uma forma de consciência mais pura e rica, segundo ele.
Depois de ter sido envenenado na Tailândia por um empregado que queria roubá-lo, Wren-Lewis permaneceu em coma por muito tempo. Quando voltou desse estado, o mundo parecia ter mudado subitamente. “É como se uma catarata tivesse sido removida, mas do meu cérebro, permitindo que eu me sentisse liberto e que percepções até agora obscuras se abrissem”, disse. É difícil descrever com palavras o estado em que se encontrava. “Saí de alguma coisa que não era sono nem sonho, no qual me sentia totalmente vivo, porém intensamente feliz e apaziguado.”
A modificação sentida por Wren-Lewis em sua vida se tornou permanente. De vez em quando, ele volta aos padrões de consciência anterior, mas sempre sob o comando de sua vontade. Fala da sensação de se sentir “completo”, mesmo nos pequenos assuntos do dia a dia. Houve uma transformação em seus valores, atitudes, preferências e objetivos; sente-se muito tranquilo, mesmo quando confrontado com problemas que exigem reflexão e discernimento.
Na visão de Wren-Lewis, temos um instinto de sobrevivência exacerbado que bloqueia nossas mentes com relação às formas pós-EQM de consciência. “O efeito desse mecanismo de defesa, levado às suas últimas conseqüências, faz com que nos concentremos na nossa consciência individual, visando assegurar seu futuro de forma tão rígida que fechamos as portas à consciência universal subjacente, a qual se baseia na felicidade de cada momento que vivemos.” Quando a pessoa passa por essa experiência, o mecanismo de sobrevivência se rende.
Assim como muitas outras pessoas que estiveram expostas a essa experiência, Wren-Lewis perdeu o medo da morte. A liberdade que se conquista significa simplesmente “abrir a consciência para aquilo que já é a base da nossa própria existência”.
Para ele, a pesquisa parapsicológica convencional, que procura minar as grandes evidências existentes com relação à consciência não material a partir das EQMs, não passa de mero atraso, semelhante àquele de Cristóvão Colombo, que pensava ter encontrado a Índia, quando na verdade havia encontrado todo um continente.