30/07/2019 - 14:07
Um gene perdido há dois ou três milhões de anos em nossos ancestrais pode ter resultado em um risco elevado de doenças cardiovasculares para os humanos, e aumentado esse risco ainda mais em pessoas que comem carne vermelha. Foi o que revelou uma pesquisa da Universidade da Califórnia em São Diego.
A aterosclerose, que é o entupimento das artérias com depósitos de gordura, é a causa de um terço das mortes pelo mundo por causa das doenças cardiovasculares. Existem muitos fatores de riscos para as doenças cardiovasculares, como colesterol, sedentarismo, idade, hipertensão, obesidade e tabagismo. Mas, em cerca de 15% dos casos de doenças cardiovasculares causadas por aterosclerose, esses fatores não se aplicam. Ou seja, esses casos ocorreriam devido a uma propensão genética.
Infartos por aterosclerose não ocorrem em outros mamíferos, incluindo os chimpanzés, que são nossos parentes próximos e que dividem fatores de riscos cardíacos com os humanos, como hipertensão e sedentarismo. Porém, infartos em chimpanzés acontecem por outro motivo: uma inexplicável cicatrização do músculo cardíaco.
Os cientistas da Universidade da Califórnia envolvidos neste estudo já pesquisam o motivo pelo qual as doenças cardiovasculares por aterosclerose atingem apenas humanos há uma década.
Neste último estudo, eles modificaram ratos geneticamente para desativar o gene CMAH, que metaboliza uma molécula chamada Neu5Gc, imitando uma condição encontrada no organismo dos humanos. Os pesquisadores acreditam que alguma mutação inativou o gene CMAH alguns milhões de anos atrás nos nossos ancestrais hominídeos.
Esses animais modificados apresentaram o dobro da incidência de aterogenese, que é a formação de lesões nas paredes arteriais, quando comparados aos ratos que não passaram por essa modificação.
Ao consumir carne vermelha, que é abundante em Neu5Gc, os humanos são expostos repetidamente a essa substância, que desencadeia uma resposta imune e inflamação crônica. Outros estudos já demonstraram uma ligação entre a ingestão de Neu5Gc e progressão do câncer.
Mas, como o risco cardíaco é multifatorial, isso poderia explicar por que mesmo pessoas vegetarianas, que não apresentam outros fatores de risco cardiovasculares, ainda são propensas a infartos e derrames, enquanto outros parentes evolucionários não são.
Ou seja, a predisposição à aterosclerose inclui fatores intrínsecos, como essa mudança genética, e extrínseco, como a dieta de cada indivíduo.