O corpo humano pode prever o horário das refeições regulares, de acordo com um novo estudo da Universidade de Surrey (Reino Unido) publicado na revista Current Biology. A equipe de pesquisa também descobriu que os ritmos diários de glicose no sangue podem ser conduzidos não apenas pelo horário das refeições, mas também pelo tamanho da refeição.

No primeiro estudo desse tipo, pesquisadores da Universidade de Surrey, liderados pelo professor Jonathan Johnston, investigaram se o sistema circadiano humano antecipa grandes refeições. Ritmos/sistemas circadianos são alterações fisiológicas, inclusive metabólicas, que seguem um ciclo de 24 horas e geralmente são sincronizadas a sinais ambientais, como ciclos de luz e escuridão.

Estudos anteriores nesse campo focaram em controles de animais e até agora não havia sido determinado se a fisiologia humana pode prever os horários das refeições e a disponibilidade de alimentos.

Alimentar-se no momento de melhor adaptação

Jonathan Johnston, professor de cronobiologia e fisiologia integrativa da Universidade de Surrey, disse: “Muitas vezes ficamos com fome na mesma hora todos os dias, mas não se sabe até que ponto nossa biologia pode antecipar as refeições. É possível que os ritmos metabólicos se alinhem com os padrões das refeições e a regularidade das refeições garantirá que comamos no momento em que nossos corpos estão mais bem adaptados para lidar com elas”.

Para saber mais, 24 participantes do sexo masculino realizaram um estudo de laboratório de oito dias com horários rígidos de sono-vigília, exposição a ciclos claro-escuro e ingestão de alimentos. Durante seis dias, 12 participantes consumiram pequenas refeições de hora em hora durante o período de vigília, enquanto os demais participantes consumiam duas grandes refeições diárias (7,5 e 14,5 horas após acordar).

Após seis dias, todos os participantes foram colocados no mesmo horário de alimentação por 37 horas e receberam pequenas refeições a cada hora em um procedimento conhecido por revelar os ritmos circadianos internos. A glicose foi medida a cada 15 minutos durante o estudo, e os níveis de fome foram medidos a cada hora durante as horas de vigília nos dias dois, quatro e seis no primeiro estágio do estudo e depois a cada hora nas 37 horas finais.

Programação rítmica

Analisando os resultados dos primeiros seis dias do estudo, os pesquisadores descobriram que a concentração de glicose dos participantes do grupo de pequenas refeições aumentou ao acordar e permaneceu elevada ao longo do dia até diminuir após a última refeição. No grupo de grandes refeições, houve um aumento semelhante na concentração de glicose ao acordar, porém houve um declínio gradual até a primeira refeição.

Nas últimas 37 horas, quando ambos os grupos foram alimentados com as mesmas pequenas refeições de hora em hora, todos os participantes exibiram um aumento inicial na concentração de glicose ao acordar. No entanto, naqueles que já haviam recebido duas grandes refeições, os níveis de glicose começaram a diminuir antes da grande refeição antecipada (que eles não receberam), enquanto para os participantes que sempre consumiram pequenas refeições a cada hora, seus níveis de glicose continuaram a subir como visto anteriormente.

Além disso, no grupo de grandes refeições, houve um aumento da fome antes das refeições projetadas, que diminuiu acentuadamente após o término da hora prevista.

O professor Johnston acrescentou: “O que descobrimos é que o corpo humano é ritmicamente programado para antecipar as refeições, especialmente quando a comida não está prontamente disponível. Isso sugere que há um impulso fisiológico para algumas pessoas comerem em determinados momentos, pois seu corpo foi treinado esperar comida em vez de ser apenas um hábito psicológico.”