Um sistema vital de correntes oceânicas, a chamada circulação meridional de capotamento do Atlântico (Amoc, na sigla em inglês), pode entrar em colapso a qualquer momento a partir de 2025, advertiu um estudo publicado na revista Nature nesta terça-feira (25/07). Se as emissões globais de gases de efeito estufa não forem reduzidas, poderá haver graves repercussões para o Atlântico Norte e o clima global, alertam os cientistas.

A Amoc, um grande sistema de correntes oceânicas que transporta água quente dos trópicos para o Atlântico Nortee um importante elemento de inflexão no sistema climático, entrará em colapso “com 95% de certeza, entre 2025 e 2095. O mais provável é que isso aconteça em 34 anos, em 2057”, apontou a publicação.

Consequências “muito graves” para a Terra

O colapso pode trazer grandes desafios, particularmente o aquecimento nos trópicos e o aumento das tempestades na região do Atlântico Norte.

“Pode haver consequências muito graves para o clima da Terra, alterando, por exemplo, a forma como o calor e a chuva são distribuídos globalmente”, disse Peter Ditlevsen, cientista do clima no Instituto Niels Bohr, da Universidade de Copenhague, e um dos autores do estudo.

O especialista indicou que tal evento “contribuirá para um maior aquecimento dos trópicos, onde o aumento das temperaturas já levou a condições de vida difíceis”. Por isso, ele destaca “a importância de reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa o mais rápido possível”.

Métrica simples e ferramentas estatísticas avançadas

Peter Ditlevsen conduziu o estudo ao lado de sua irmã, Susanne Ditlevsen, professora de estatística na mesma instituição. Por meio de uma métrica simples, o estudo se valeu de ferramentas estatísticas avançadas e dados sobre as temperaturas da superfície do mar no Atlântico Norte entre 1870 e 2020.

Tais registros vão muito além das medições diretas da Amoc, que são rastreadas continuamente desde 2004, e podem fornecer informações mais robustas sobre as tendências de temperatura.

De acordo com os cientistas dinamarqueses, as pesquisas anteriores “tendem a superestimar a estabilidade da Amoc, tanto por causa do ajuste ao registro climático histórico quanto pela sub-representação da formação de águas profundas, salinidade e escoamento glacial”.

Conclusões semelhantes as de outros trabalhos

Stefan Rahmstorf, investigador da Universidade de Potsdam (Alemanha) que não participou do estudo, considera que as novas conclusões reforçam trabalhos anteriores que já identificavam os primeiros sinais de alerta.

Ele aponta para o fato de que um único estudo fornece evidências limitadas, mas quando várias abordagens levam a conclusões semelhantes, isso deve ser levado muito a sério, especialmente quando estamos falando de “um risco que realmente queremos descartar com 99,9% de certeza”, enfatizou.

“A evidência científica atual é que não podemos sequer descartar um ponto de inflexão a ser ultrapassado já nas próximas duas décadas”, acrescentou.

Divergências na comunidade científica

Avaliações recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), no entanto, sugerem que um colapso total da Amoc é improvável no século 21. Outros cientistas também apontaram para o elevado grau de suposição e incerteza envolvendo o novo estudo

Niklas Boers, por exemplo, da Universidade Técnica de Munique (Alemanha), foi um dos que discordou dos resultados. Embora concorde que a Amoc venha perdendo estabilidade no último século, o pesquisador avalia que ainda há muita incerteza para estimar com segurança o momento do colapso.

“Sobretudo as incertezas nas suposições do modelo – muito simplificadas pelos autores – são demasiado altas”, disse Boers.

No entanto, todos foram unânimes em ver a mera perspectiva de um colapso da Amoc como extremamente preocupante.

ip (Efe, ots)