Extremista de direita é favorito em votação contra candidata comunista moderada no segundo turno do pleito que decide a sucessão de Gabriel Boric.Os chilenos votam neste domingo (14/12) em um país polarizado entre o candidato mais à direita desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, há 35 anos, e uma comunista moderada representando a esquerda.

Um total de 3.379 seções eleitorais com 40.473 mesas de votação abriram para o início do segundo turno das eleições presidenciais no Chile, no qual será escolhido o sucessor do progressista Gabriel Boric.

Mais de 15,6 milhões de pessoas estão aptas a votar – o voto é obrigatório –, para escolher entre a comunista moderada e única candidata de uma ampla aliança progressista, Jeannette Jara, de 51 anos, e o candidato de extrema direita e fundador do Partido Republicano (PR), José Antonio Kast, de 59 anos.

De acordo com analistas e pesquisas publicadas antes do período de restrição eleitoral, o candidato republicano entra no segundo turno como o claro favorito, levantando mais dúvidas sobre a margem de vitória do que sobre o resultado final.

Após ficar em segundo lugar no primeiro turno com 23,9% dos votos, Kast recebeu o apoio do libertário de extrema direita Johannes Kaiser e da ex-prefeita Evelyn Matthei, representante da direita tradicional, elevando seu total para mais de 50% dos votos.

Jara, por sua vez, venceu as eleições de novembro com 26,9% dos votos, mas tem pouco espaço para ampliar sua base eleitoral, apesar de ser a única candidata de uma ampla e inédita coalizão progressista, que abrange desde o Partido Comunista até a Democracia Cristã.

Ultraconservador partidário de Pinochet

Católico ultraconservador e pai de nove filhos, Kast seria o primeiro presidente a chegar ao poder tendo feito campanha a favor da continuidade do regime do general Augusto Pinochet (1973-1990) no plebiscito de 1988.

Ao longo de sua campanha, ele baseou seu discurso e posicionamento exclusivamente em questões de segurança e imigração, as principais preocupações dos chilenos, segundo as pesquisas, e evitou divulgar suas visões ultraconservadoras sobre liberdades individuais e sua defesa do regime – seu irmão foi um ministro importante durante o governo Pinochet.

Ele promete deportar quase 340 mil imigrantes ilegais, em sua maioria venezuelanos, e combater o crime com dureza. Em suas aparições públicas, atrás de vidros à prova de balas em um dos países mais seguros da região, este ex-congressista apresentou o Chile quase como um Estado falido dominado pelo narcotráfico, distanciando-se do “milagre econômico” que o tornou uma das nações mais bem-sucedidas da América Latina.

Entre outros pontos, ele evitou esclarecer como pretende cortar 6 bilhões de dólares dos gastos públicos nos primeiros 18 meses de seu possível governo e se libertaria os ex-oficiais militares que cometeram crimes contra a humanidade durante a ditadura.

Distanciamento do governo Boric

Jara, por sua vez, tentou se distanciar da impopularidade do governo de Boric e lutou contra o anticomunismo profundamente enraizado e disseminado no Chile. Ela também alertou para os riscos representados pela extrema direita e defendeu sua liderança na aprovação de leis históricas, como o aumento do salário mínimo, a reforma da previdência e a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.

O presidente eleito em 11 de março terá que lidar com um Parlamento dividido, onde o bloco de direita e extrema direita está a apenas duas cadeiras da maioria no Congresso, e onde os votos do Partido Popular (PDG), de orientação populista, serão cruciais.

Desde 2006, o poder tem alternado entre a esquerda e a direita, e nenhum presidente passou a faixa presidencial para um sucessor da mesma orientação política.

As urnas ficam abertas até as 18h, horário local (18h Brasília), e os resultados são esperados algumas horas depois.

md (EFE, AFP)