A perda de gelo do manto de gelo da Groenlândia acelerou significativamente nas últimas duas décadas, transformando a forma da borda do manto de gelo e, portanto, da costa da maior ilha do mundo, segundo uma pesquisa liderada por Twila Moon, cientista chefe adjunta do National Snow and Ice Data Center, dos EUA. Essas mudanças na camada de gelo podem ter impactos de longo alcance nos ecossistemas e nas comunidades, pois o fluxo de água sob a camada de gelo e o fluxo de nutrientes e sedimentos são alterados. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista “Journal of Geophysical Research: Earth Surface”, da American Geophysical Union.

“A velocidade da perda de gelo na Groenlândia é impressionante”, disse Moon. “Agora podemos ver muitos sinais de uma paisagem transformada do espaço. E como a borda do manto de gelo responde à rápida perda de gelo, o caráter e o comportamento do sistema como um todo estão mudando, com potencial para influenciar ecossistemas e pessoas que dependem deles.”

Os pesquisadores compilaram dados da Nasa, da United States Geological Survey e de outros satélites de 1985 a 2015 para comparar a posição da borda do gelo, a elevação da superfície do manto de gelo e o fluxo das geleiras ao longo de três décadas. Os avanços na tecnologia dos satélites permitiram que observassem as mudanças na camada de gelo com muito mais detalhes do que era possível no passado.

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Descobertas importantes

Usando essas comparações, os pesquisadores fizeram algumas descobertas importantes. A tendência mais consistente, encontrada em todo o manto de gelo, é o recuo generalizado da borda do gelo. Embora haja uma variação de comportamento entre as geleiras ao longo do manto de gelo, existe uma falta perceptível de avanço sustentado das geleiras conectadas ao oceano. Das 225 geleiras conectadas ao oceano medidas, nenhuma avançou substancialmente. Já 200 delas recuaram, especialmente desde 2000. Isso é notável mesmo em regiões dominadas por geleiras de movimento mais lento e águas oceânicas mais frias, como as regiões norte e nordeste do manto de gelo.

Além disso, enquanto a grande maioria das geleiras está recuando, a resposta do fluxo de gelo nessas geleiras, como acelerar ou desacelerar, é afetada em grande parte pela topografia e fatores a montante. Isso inclui a inclinação da paisagem e a presença e forma das rochas e dos sedimentos sob a geleira. Portanto, mesmo as geleiras dentro da mesma região ou local podem se comportar de maneira diferente.

Encalhe de geleiras

Enquanto examinavam as mudanças no manto de gelo da Groenlândia, os pesquisadores descobriram que as zonas de fluxo rápido das geleiras estão se estreitando, o gelo está sendo redirecionado e, em alguns casos, o fluxo de novo gelo para as geleiras é reduzido, fazendo as geleiras encalharem no lugar. Esses processos podem ter uma variedade de impactos a jusante, como alterar a forma como a água se move sob o manto de gelo. Isso pode afetar a disponibilidade de água para as comunidades e animais, alterando onde os nutrientes e sedimentos entram no oceano, expondo novas áreas de terra, abrindo novos fiordes e alterando ecossistemas e paisagens físicas.

“À medida que o Oceano Ártico e a atmosfera esquentam, podemos ver claramente o fluxo de gelo para o oceano acelerar e a borda do gelo recuar”, disse Alex Gardner, cientista pesquisador do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa e coautor do estudo. “Quando olhamos mais de perto, no entanto, podemos ver a complexidade de como as geleiras individuais respondem, devido às diferenças nas propriedades da água do oceano que atinge a frente da geleira, o leito rochoso e até o que está abaixo, e de como o escoamento da água de degelo é direcionado embaixo. Entender a complexidade da resposta individual da geleira é fundamental para melhorar as projeções da mudança do manto de gelo e do aumento do nível do mar associado que chegará às nossas costas.”