As emissões de dióxido de carbono provenientes de fontes de combustíveis fósseis atingiram um declínio diário máximo de 17% em abril, como resultado do drástico declínio na demanda de energia ocorrido durante a pandemia de covid-19. A análise preliminar, publicada hoje (19 de maio) na revista “Nature Climate Change”, foi conduzida por pesquisadores das universidades de East Anglia (Reino Unido) e Stanford (EUA), do Centre for International Climate and Environmental Research (Cicero), ligado à Universidade de Oslo (Noruega), e da Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation (Csiro, da Austrália), como parte do Global Carbon Project.

“As emissões atingiram seu pico de declínio em 7 de abril, com um declínio de 17% em relação ao mesmo período do ano passado”, disse Pep Canadell, pesquisador da Csiro e diretor do Global Carbon Project.

“Para colocar esse número em contexto, as emissões diárias caíram em média entre janeiro e abril em 8,6% novamente em comparação com o mesmo período do ano passado.” O impacto da covid-19 nas emissões globais foi estimado com base em uma combinação de dados de energia, atividade e política disponíveis até o final de abril de 2020.

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Os dados foram coletados de 69 países, que representam 97% das emissões globais e 85% da população mundial.

As estimativas foram então comparadas com dados de emissões diárias do mesmo período em 2019.

Bloqueio simultâneo

“Os decréscimos nas emissões em 2020 foram maiores na China, onde a indústria e as comunidades passaram por lockdown (bloqueio) pela primeira vez, vindo a seguir EUA, Europa e Índia”, disse Canadell, que também é coautor do artigo.

“O pico de declínio diário de 17% em 7 de abril ocorreu porque a China, os EUA, a Índia e todos os outros principais países emissores de carbono estavam em um alto nível de bloqueio ao mesmo tempo.”

Os pesquisadores estimaram as emissões no nível do país com base em um “índice de confinamento”, representando o efeito de diferentes políticas nacionais e o impacto estimado em seis setores da economia: eletricidade e aquecimento (energia), transporte de superfície, indústria, edifícios públicos e comércio, residencial e aviação.

Eles determinaram a redução de emissões para cada setor com base na gravidade do confinamento (lockdown) e no impacto no setor.

A redução global das emissões foi desencadeada principalmente por mudanças no número de carros e outros veículos nas estradas (o setor de transporte de superfície – que também inclui transporte marítimo), levando a uma redução de 36% nas emissões, equivalente a 7,5 megatoneladas (5,9 a 9,6) de dióxido de carbono (CO2).

Bloqueios de níveis variados restringiram a capacidade de as pessoas viajarem em carros de passageiros e irem ao trabalho.

Aviação duramente atingida

“Em outros setores, o setor de energia ficou em segundo e o setor industrial (abrangendo produções de manufatura e material) em terceiro em termos de suas contribuições para a redução global de emissões no início de abril”, disse Canadell.

“Com as pessoas sendo instadas a ficar em casa e a isolar-se, houve um aumento correspondente nas emissões residenciais globais (2,8%), que registraram um aumento de 0,2 megatonelada (0,1 a 0,4) no CO2 em seu pico de declínio.”

O setor de aviação global, que foi amplamente afetado pela covid-19, teve um declínio de 60% nas emissões do início de abril em comparação com 2019. Isso equivale a 1,7 megatonelada (1,3 a 2,2) de CO2.

As emissões globais em 2020 dependerão de quanto tempo e até que ponto o confinamento durará, o tempo que levará para as atividades normais serem retomadas e o grau em que a vida voltará ao normal, disseram os coautores do artigo.

Se os países permanecerem em isolamento em níveis variados até o final do ano, estima-se que haja uma redução geral de 7,5% (2,7 a 12,9). No entanto, se as restrições da economia e da sociedade caírem em meados de junho, estima-se que haja apenas uma queda geral de 4,2% (2,2 a 6,6).

A aviação foi duramente atingida pela pandemia de covid-19. Crédito: Adrian Pingstone/Wikimedia