Uma menina de 3 anos foi infectada por uma incomum bactéria Mycobacterium marinum, que se desenvolveu após uma mordida de iguana quando ela estava de férias na Costa Rica. O relato do caso foi feito pelos médicos que a trataram, inscritos no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (ECCMID) que ocorrerá em Copenhague (Dinamarca) de 15 a 18 de abril.

Os autores acreditam que este é o primeiro caso de infecção por M. marinum em decorrência de mordida de iguana. M. marinum é uma micobactéria onipresente e não tuberculosa que causa uma doença semelhante à tuberculose em peixes e é conhecida por causar infecção em humanos quando há feridas na pele expostas a água doce ou salgada contaminada.

A criança estava na praia, sentada e comendo bolo, quando uma iguana apareceu de repente, mordeu sua mão e pegou o alimento. Na mesma hora, ela foi levada até uma clínica local onde se descobriu que ela tinha um único ferimento superficial na parte posterior do osso metacarpo do dedo médio.

Desinfecção e antibiótico

Após a desinfecção, a menina recebeu o antibiótico amoxilina por cinco dias, para possível exposição a salmonela (comum após mordidas de répteis), e a ferida cicatrizou-se sem problemas.

No entanto, cinco meses depois, os pais notaram uma pequena protuberância na parte posterior da mão esquerda que foi se tornando gradativamente maior. A pele ficou vermelha e levemente dolorida nos três meses seguintes.

A criança compareceu ao hospital Children’s Health da Universidade Stanford (EUA), onde um ultrassom revelou uma massa consistente com um cisto ganglionar (nódulo com líquido), embora a localização e os sintomas não fossem compatíveis com esse diagnóstico. O cirurgião ortopedista que removeu a massa com espessas paredes de 2 centímetros detectou uma liberação de pus na ferida, o que indicava uma infecção.

O exame histológico revelou uma extensa morte do tecido e inflamação granulomatosa necrotizante (área de inflamação onde o tecido morreu) e as culturas cederam a um crescimento puro de M. marinum. Como M. marinum é resistente a antibióticos comuns, incluindo amoxilina, a menina começou a tomar rifampicina e claritromicina, respondendo bem ao tratamento.

Poucos casos relatados

Embora os organismos que causam infecção após mordidas de cães e gatos sejam bem conhecidos, a causa microbiológica de feridas infectadas por mordidas de iguana conta com menos respostas por haver poucos casos relatados. Neste último caso, Serratia marcescens e Staphylococcus aureus são mais frequentemente implicados. Salmonella enterica também é possível, já que 75%-90% dos répteis selvagens e cativos (incluindo cobras, tartarugas e iguanas) são colonizados por essas bactérias.

Vários estudos relataram que os répteis domésticos abrigam micobactérias não tuberculosas devido à sua abundância em água doce e salgada.

M. marinum prefere temperaturas mais baixas (30°C) para crescimento ideal, e é muito provável que o sangue frio das iguanas, com temperaturas corporais variando de 22° a 27°C, faça com que esses micróbios se tornem reservatórios”, explicou o autor do estudo, o dr. Jordan Mah, da Escola de Medicina da Universidade Stanford (EUA). Ele acrescentou: “A mordida resultou na colonização de uma bactéria raramente encontrada em humanos e demonstra que as iguanas podem ser portadoras de bactérias capazes de produzir infecções graves. Isto pode ajudar a informar os profissionais de saúde sobre infecções bacterianas menos conhecidas após exposições zoonóticas incomuns”.