21/09/2022 - 7:18
Infância: fase de sonhos, brincadeiras, fantasias e despreocupação com a vida real. Mas, de repente, a morte acontece e aí é preciso saber lidar e passar para as crianças essa informação. Segundo Érika Arantes de Oliveira Cardoso, psicóloga do Departamento de Psicologia, também mestre e doutora em Psicologia, coordenadora do Lute, Grupo de Estudos de Lutos e Terminalidades da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto, “a curiosidade das crianças ajuda a lidar com perdas e não devemos forçar que ela entenda algo que ainda não está preparada para entender”.
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Uma dica dada pela psicóloga para falar de morte com as crianças é usar histórias criadas para essa finalidade. “Como em qualquer aprendizagem infantil, elas vão gradualmente compreendendo o processo de morrer, sendo comum acharem que a morte é reversível, como nos contos de fadas, onde ela é relacionada com um sono profundo, onde a pessoa pode ser acordada. Conforme elas vão crescendo, começam a entender a morte como um acontecimento irreversível e também universal. Isso significa que a morte acontece para todos e não há volta depois que se morre”, diz a especialista.
Vínculo emocional
Há crianças que lidam melhor com a perda e o vazio deixado pela morte, mas existem aquelas que, por terem maior vínculo emocional com quem ou o que morreu, porque muitas vezes pode ser um animal de estimação, a adaptação à nova realidade pode ser bem mais difícil. Ao falar sobre a morte, é importante conhecer o quanto ela sabe sobre esse processo, respeitar os limites cognitivos e emocionais e se colocar à disposição para responder às dúvidas que ela possa ter.
Não é incomum os menores questionarem o que acontece após a morte e, em algumas situações, é necessária a ajuda profissional. “Dependendo da idade, a criança pode questionar o que acontece depois que se morre, e o que começa como uma curiosidade pode tomar dimensões de muita angústia. É importante reforçar que o luto é um processo natural, que não precisa necessariamente de intervenções psicológicas, mas, no caso de sofrimento agudo ou no caso das crianças que buscam uma compreensão que vai além das capacidades cognitivas e emocionais que apresentam no momento, é preciso um suporte psicoterapêutico”, destaca Érika.
Atendimento específico
A criança enlutada terá necessidades e recursos diferentes dos adultos, e por isso é fundamental que conte com um atendimento específico. Ela não necessariamente terá mais facilidade para lidar com a morte; podemos pensar que elas lidam de forma diferente do que os adultos. Os familiares devem estar disponíveis para as perguntas e se colocar livremente, insistir nas questões sem achar que está sendo inadequado ou inconveniente. Muitas vezes esses menores sofrem antes mesmo da perda da pessoa. Elas querem respostas que muitas vezes os adultos não estão preparados para dar. Com isso, elas ficam solitárias na dor. A criança tem capacidade para compreender questões da morte e do morrer, mas precisa de ajuda para isso, não aprendem sozinhas. Precisam de um espaço seguro e de pessoas confiáveis para acompanhá-las. A morte deve ser um assunto do qual elas possam falar livremente e os familiares devem ter espaço em suas vidas para tratar do tema.