20/05/2025 - 16:06
Número de casos aumentou 40% em 2024 e chegou a 84.172. É o maior número em mais de 20 anos da série histórica. Extremismo de direita é responsável por metade das ocorrências.A Alemanha registrou um aumento de 40% nos crimes com motivação política em 2024, segundo dados oficiais divulgados nesta terça-feira (20/05). O chefe do Departamento Federal de Investigações Criminais (BKA, na sigla em alemão) alertou para uma crescente “radicalização na sociedade”.
Pela primeira vez, o número de todos os crimes registrados superou o patamar de 80 mil.
Este é o maior número desde o início da série histórica, compilada desde 2001. Em 2023, 60.028 ofensas deste tipo foram registradas.
O recorde de 84.172 ocorrências inclui desde discursos de ódio, considerados crime na Alemanha, até atos de violência física. Quase metade dos casos foram motivados por ideologias de extrema direita. Crimes de propaganda, como o uso de símbolos ou slogans nazistas também entram nesta conta.
O ministro do Interior da Alemanha, Alexander Dobrindt, afirmou que as tensões políticas se intensificaram em 2024 por conta das eleições europeias e regionais, quando o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) liderou uma votação estadual pela primeira vez no pós-guerra.
Ele destacou o aumento de crimes direcionados contra políticos, ativistas e sedes de partidos.
Ao lado de Dobrindt, o chefe da polícia federal, Holger Muench, disse que os números “refletem uma polarização e radicalização na sociedade” e mostram que a “democracia da Alemanha está sob pressão”.
Dobrindt também apontou um aumento de “movimentos de jovens de extrema direita”, que estariam mirando, especialmente, eventos da comunidade LGBTQ+.
Os dados ainda revelaram um aumento de 15,3% nos crimes violentos, atingindo 4.107 casos.
Crescimento do antissemitismo
Outro fator que impulsionou o crescimento dos crimes com motivação política no último ano foram as “crises internacionais”, em especial a guerra entre Israel e Hamas em Gaza, que provocou um crescimento dos crimes antissemitas, disse a pasta.
Dos 6.236 crimes antissemitas registrados, 48% foram atribuídos a grupos de extrema direita, enquanto 31% foram motivados por uma “ideologia estrangeira”.
Natalie Pawlik, a comissária do governo para o combate ao racismo, lamentou o aumento “dramático” dos crimes racistas, antissemitas e islamofóbicos na Alemanha.
“Saudações a Hitler, incitação ao ódio, socos no rosto – um crime de direita a cada 12 minutos em nosso país”, disse ela. “Todos neste país têm o dever de não fechar os olhos para o extremismo de direita e o racismo”, continuou ela, pedindo às pessoas que “intervenham em incidentes” públicos que testemunharem.
O papel da ultradireita
Questionado sobre o papel da ascensão da AfD no crescimento dos crimes, Dobrindt disse que “todos que contribuem para a polarização fazem parte desse desenvolvimento”.
Neste ano, o partido anti-imigração AfD ficou em segundo lugar nas eleições gerais de fevereiro – sua melhor votação até hoje.
No início deste mês, o Departamento Federal de Proteção da Constituição da Alemanha (BfV) classificou o partido como uma organização “extremista de direita”, embora essa designação tenha sido suspensa após um recurso apresentado pelo partido.
A classificação reacendeu o antigo debate sobre a possibilidade de banir a sigla, mas o chanceler federal alemão Friedrich Merz não vê possibilidade real disso acontecer.
Dobrindt compartilhou essa visão, afirmando que o relatório apresentado pela agência de inteligência “não é suficiente para iniciar o processo de banimento” do partido.
Também nesta terça-feira, a associação alemã de centros de apoio às vítimas de violência racista e de extrema direita informou ter registrado 3.453 “ataques de direita” no ano passado.
“Esse enorme aumento só pode ser compreendido no contexto da crescente aceitação e propagação de opiniões de extrema direita e antidemocráticas”, afirmou a presidente da associação, Judith Porath.
gq (afp, dw, ots)