28/04/2021 - 7:15
Em homenagem ao 76º aniversário do episódio, presidente Steinmeier fala a estudantes sobre ato de vingança contra alemães antinazistas cometido poucos dias antes do fim da guerra.Sem mais derramamento de sangue – era esse o objetivo de Hans Rummer. O prefeito da pequena cidade de Penzberg, ao sul de Munique, que havia sido deposto pelos nazistas em 1933, sabia que os soldados americanos estavam a apenas alguns quilômetros de distância. Sem cerimônias, ele removeu então o nazista que ocupava o cargo na prefeitura desde 1944, além de ter impedido a explosão da mina local e libertado trabalhadores forçados. Mas o social-democrata teve que pagar com a vida por sua coragem. Na noite de 28 a 29 de abril de 1945, ele foi assassinado por soldados leais a Adolf Hitler.
Além de Rummer, foram fuzilados ou enforcados outros 15 homens e mulheres, incluindo uma gestante. O crime, executado dez dias antes da rendição incondicional da Alemanha nazista e após seis anos de guerra mundial, foi o tópico de uma discussão iniciada nesta segunda-feira (26/04) pelo presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, com estudantes de Penzberg. Diante da pandemia de coronavírus, contudo, o encontro aconteceu apenas no formato digital: de um lado, a partir do Palácio Bellevue, em Berlim, falavam Steinmeier, sua esposa Elke Büdenbender e a escritora Kirsten Boie; do outro, em Penzberg, participavam os jovens, conectados ao vivo e ao lado do prefeito Stefan Korpan.
O presidente alemão só foi saber da noite do assassinato em 2019, durante uma visita à cidade. Penzberg, disse ele no início da conversa, representa os crimes que os alemães cometeram nos últimos dias da guerra. “Até o último minuto, ocorreram assassinatos em toda a Alemanha.” Em 1948, foi erguido um memorial em Penzberg em memória à tragédia ocorrida pouco antes do fim do regime nazista, e o museu da cidade também abriga uma exposição permanente sobre o episódio.
Noite Escura – o massacre de Penzberg na forma de livro para jovens
A primeira vez que Tabea confrontou este capítulo sombrio de sua cidade natal foi numa aula de história. Para isso, ela consultou os arquivos de Penzberg e se debruçou integralmente na noite do assassinato. Emelie, que não é natural de Penzberg, já havia aprendido algo sobre isso com sua colega de classe, Emma. Mas foi somente através do projeto na aula de história que o tema se tornou “presente” para ela. Antes, ela não poderia ter imaginado “que algo assim tivesse acontececido aqui”. Com Emma, foi completamente diferente – sobretudo por causa de seu avô. “Ele tinha mais ou menos a minha idade e teve que lutar na guerra – enquanto eu posso crescer aqui em paz.”
Repetidamente, os jovens enfatizaram a importância de uma abordagem pessoal ou emocional da era nazista. Iris, por exemplo falou sobre suas impressões ao assistir ao filme A Lista de Schindler, de Steven Spielberg: “Achei muito louco ver algo assim”. Ela disse ter tido uma experiência semelhante com livros como When Hitler Stole Pink Rabbit, de Judith Kerr. E agora chega um novo livro sobre os terríveis acontecimentos de Penzberg: Dunkelnacht (“Noite Escura”, em tradução livre), escrito pela autora infantil e juvenil Kirsten Boie. Durante o encontro, alguns trechos foram lidos pela própria autora.
'O que foi que eles fizeram?'
A noite do assassinato de Penzberg é contada a partir da perspectiva dos jovens com base em fatos históricos. Uma mistura, portanto, de documentário e ficção. Veronika gostou do formato, pois ele permite que o leitor se identifique melhor com o acontecido, além de achar que assim pôde “capturar melhor a parte emocional da história”. Ela também achou impressionante a visita ao memorial do campo de concentração de Dachau, a noroeste de Munique, “porque foi possível estar ao vivo no local onde tantas injustiças aconteceram”. Tudo isso, avalia Veronika, torna a história mais emocionante.
A autora Kirsten Boie ficou feliz com a recepção de seu livro pelos jovens. Na sua geração, ainda era difícil conversar com pais e professores sobre a era nazista. Por outro lado, tudo podia ser vivido de forma muito concreta. “Tratava-se das pessoas que viveram na época e a quem sempre perguntávamos: o que foi que eles fizeram?” Isso a acompanhou durante toda a juventude e, assim, o nazismo teve algo a ver com a sua própria vida.
Placa comemorativa no 76º aniversário do massacre
Para os jovens de hoje, tudo isso parece tão distante quanto “as guerras napoleônicas e eles encontram poucos paralelos”, opina a escritora. Mas quando testemunhas contemporâneas falam com eles, “isso surte muito, mas muito efeito”. Ou quando eles visitam locais onde algo aconteceu. “Então, de repente, tudo se torna real novamente”. Bem no local onde o prefeito Rummer e sete outros homens foram fuzilados, já havia sido erguido um memorial em 1948. Agora, no aniversário de 76º aniversário da noite do assassinato, uma placa de bronze será inaugurada no centro da cidade, comemorando o destino das 16 pessoas que foram assassinadas.
Foi também em 1948 que os nazistas foram julgados, ainda sob a lei de ocupação dos Aliados. Dois foram condenados à morte, outros quatro receberam sentenças de prisão, algumas das quais vitalícias. No final das contas, porém, todos os réus escaparam com vida pois as sentenças foram severamente atenuadas em vários julgamentos subsequentes após a fundação da República Federal da Alemanha.
Elke Büdenbender: 'O que nós poderíamos fazer hoje?'
No final da conversa com o presidente alemão sobre a noite do assassinato de Penzberg, sua esposa Elke Büdenbender dirigiu uma pergunta aos jovens: “O que todos nós poderíamos fazer hoje para que algo assim não aconteça novamente?” Valentin dá a resposta – na forma de uma citação do livro Dunkelnacht de Kirsten Boie:
“Contanto que nos lembremos desses feitos, desde que não esqueçamos todas as coisas inimagináveis que são possíveis, podemos ver também o que acontece hoje com uma perspectiva diferente. E neste contexto, tomamos decisões de forma diferente, com mais cautela, talvez até de forma mais humana”
Um 'testemunho contemporâneo eterno'
O estudante Valentin, por sua vez, complementa a citação com suas próprias reflexões. Ele diz que vê o livro como uma espécie de “testemunho contemporâneo eterno” e acredita assim estar falando por todos. O que os nazistas e a população alemã cometeram há quase 80 anos “não deve se repetir jamais”.