16/08/2024 - 12:23
Explosão do gasoduto em setembro de 2022 pôs fim, pelo menos temporário, a um megaprojeto germano-russo que teve muitos opositores desde o início. Agora, Alemanha busca suspeito ucraniano de sabotagem.Em setembro de 2022, seis meses após o início da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, houve uma sabotagem que culminou na explosão do gasoduto Nord Stream, no Mar Báltico, que levava gás da Rússia para a Alemanha.
Esta semana, foi divulgado que o Ministério Público alemão está à procura de um ucraniano suspeito de ter cometido o ato. Ele foi visto pela última vez na Polônia e suspeita-se que agora esteja na Ucrânia.
A seguir uma cronologia da história do Nord Stream.
2005: O governo alemão, sob a gestão do então chanceler federal social-democrata, Gerhard Schröder (SPD), juntamente ao governo russo, já com o presidente Vladimir Putin no poder, assinam uma declaração de intenção para construir o gasoduto Nord Stream 1, destinado a levar gás da Rússia para a Alemanha, através do Mar Báltico. As primeiras propostas da ideia já haviam sido feitas na década de 90.
2006: É fundada a empresa Nord Stream AG para planejar e implementar o projeto. A estatal russa Gazprom e vários fornecedores europeus de energia se envolvem no projeto, porque não só a Alemanha, mas também outros países europeus, têm interesse no fornecimento de gás russo.
2010: Começa a construção do Nord Stream 1. O gasoduto de tubo duplo, cada um com 1.224 quilômetros de extensão, conecta Wyborg, na Rússia, a Lubmin, no estado alemão de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental.
2011/2012: Os dois tubos entram em funcionamento e a operadora informa que eles deverão abastecer a Europa com gás durante pelo menos 50 anos. Os custos de construção são de 7,4 bilhões de euros (R$ 44 bilhões, na cotação atual), segundo a Nord Stream AG.
Vista grossa para a anexação da Crimeia pela Rússia
2013: Começa o planejamento do Nord Stream 2: duas linhas adicionais de 1.250 km de comprimento, que funcionarão paralelas às tubulações existentes da Rússia à Alemanha.
2015: São assinados os primeiros contratos do Nord Stream 2. A Gazprom e vários fornecedores europeus de energia se envolvem novamente no projeto. Apenas um ano antes, a Rússia havia anexado ilegalmente a península ucraniana da Crimeia. No entanto, para a então chanceler federal conservadora, Angela Merkel (CDU), isto não é motivo para parar o projeto.
Cresce resistência ao projeto
2016: Desde o início, a Ucrânia, a Polônia e os Estados Bálticos, em especial, tiveram preocupações sobre o Nord Stream, citando interesses de segurança. Após a anexação da Crimeia, eles começaram a expressar suas dúvidas com mais veemência. A União Europeia também alerta.
Depois da eleição de Donald Trump como presidente americano, a resistência ao Nord Stream nos EUA também aumenta. Trump adverte contra a dependência excessiva da Alemanha do fornecimento de energia russo.
O governo alemão ignora todas as preocupações e apresenta o Nord Stream não apenas como uma resposta à segurança do abastecimento energético da Europa, mas também como um instrumento para garantir a paz através do comércio.
2018: Começa a construção do Nord Stream 2. Merkel admite, pela primeira vez, que não se trata apenas de um projeto do setor privado e que “é claro que fatores políticos também devem ser levados em consideração”. No entanto, parar o projeto está fora de questão para a Alemanha.
2019: Os EUA aumentam o tom, ameaçando sanções. Richard Grenell, então embaixador dos EUA na Alemanha, escreve cartas ameaçadoras para empresas alemãs envolvidas no Nord Stream.
2021: O Nord Stream 2 é concluído. Pouco depois de assumir o cargo, em dezembro, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz(SPD), manifesta-se contra a interrupção do projeto por razões políticas. Ele descreve o gasoduto como um “projeto do setor privado” que deve ser avaliado independentemente das relações com a Rússia, que estão cada vez mais complicadas.
Guerra na Ucrânia muda tudo
22 de fevereiro de 2022: na iminência do começo de uma agressão russa à Ucrânia, Scholz ordena que a certificação do Nord Stream 2 e, portanto, o processo de aprovação sejam suspensos.
24 de fevereiro de 2022: A Rússia invade a Ucrânia dando início à guerra – e os críticos do Nord Stream se sentem justificados. O fornecimento de gás via Nord Stream 1 continua, mas devido às sanções da UE contra a Rússia, o volume recebido pelos Estados-membros é reduzido.
Julho/agosto de 2022: A Rússia fecha o Nord Stream 1, alegando manutenção. O fornecimento demora a ser restabelecido e a Gazprom culpa uma turbina defeituosa. O fornecimento de gás é retomado posteriormente, mas de forma limitada. No final de agosto, é interrompido totalmente. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, diz que ele só será retomado quando as sanções contra a Rússia forem suspensas.
Quem está por trás da explosão?
26 de setembro de 2022: Ambos os trechos do gasoduto Nord Stream 1 e um dos dois trechos do Nord Stream 2 perto da ilha dinamarquesa de Bornholm explodem.Alemanha, Dinamarca e Suécia começam investigações.
2023: Com o tempo, várias teorias são apresentadas sobre quem poderia estar por trás dos ataques. O jornalista investigativo americano Seymour Hersh, sem apresentar evidências, afirma que os EUA e a Noruega explodiram os gasodutos.
Agosto de 2024: a Procuradoria-Geral alemã emite uma ordem de prisão contra um ucraniano por suspeita de envolvimento na sabotagem. Segundo a imprensa alemã, Volodimir Z. foi visto pela última vez na Polônia e, desde o começo de julho, estaria na Ucrânia.
As autoridades polonesas afirmam que a fuga do suspeito foi possível porque a Alemanha não havia incluído o nome dele na lista de procurados em todo o espaço Schengen.
“Volodimir Z. cruzou a fronteira antes que pudesse ser preso, e o serviço polonês de proteção de fronteiras não tinha informações nem base para prendê-lo, já que ele não estava listado como procurado”, afirmou uma porta-voz da Procuradoria-Geral da Polônia.