18/07/2016 - 18:45
É muito difícil falar de violência. Trabalho há mais de 35 anos nessa área e sinto que estou nos primeiros passos. Cada dia é uma coisa diferente. Mesmo sendo o mesmo delito, o impacto é diferente em cada mulher.
Comecei a trabalhar em comunidades eclesiais de base e vi o que era violência. Depois trabalhei em fábricas. Aprendi, desde muito cedo, que a violência doméstica começa por conta de desajustes familiares, má distribuição de renda, desemprego, abuso de álcool e droga, e pela falta de perspectiva de uma vida melhor por parte da mulher. Principalmente das casadas, porque acham que devem servir o marido. As mulheres violentadas e barbarizadas, ainda assim, se culpam, são discriminadas e condenadas por parte da sociedade.
Em 1994, comecei a estudar todo o comportamento de adversidade das mulheres de baixa renda no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, com mais de 400 mil habitantes e tida como uma das mais violentas da capital. Passei a me profissionalizar na área de comportamento. Criamos a Casa de Isabel, em 1996, um espaço para falar por nós, mulheres, sensibilizadas pela negligência frente a questões da violência de gênero, porque não existia atendimento na região. Um espaço alternativo onde pudéssemos traçar programas e projetos de política pública para essas vítimas do silêncio.
Hoje, a Casa de Isabel oferece atendimento psicoterapêutico para 700 pessoas por mês, entre mulheres, crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica e familiar, e também a homens agressores, de sete bairros das redondezas. Na mesma rua temos ainda o Centro de Defesa e Convivência da Mulher. Fazemos oficinas para familiarizar as mulheres com seu corpo, sua genitália e seu prazer. E também temos verba para esconder as mulheres e filhos que estejam correndo risco de morte.
Essa casa sempre esteve – e continua a estar – de portas abertas para quem precisar. Somos pioneiras no Brasil e avalio que somos o maior laboratório de psicoterapia da América Latina.
As mulheres vêm até nós indicadas por uma rede de serviços: igrejas, escolas, hospitais especializados como o Pérola Byington e delegacias. A gente prepara essa mulher, faz com que ela ganhe coragem e entenda seu comprometimento com a situação para que possa denunciar a situação que vive e o agressor. E damos suporte continuado por meio de terapia, por pelo menos um ano, na Casa de Isabel, uma vez por semana.
Atualmente, temos convênio com a Secretaria Municipal da Saúde. Mas durante estas duas últimas décadas não nos limitamos a fortalecer a Casa; também ampliamos o serviço para outras 15 unidades em toda São Paulo. Atualmente, garantimos 20 mil atendimentos jurídicos, psicossociais, médicos e pedagógicos, ao mês, gratuitamente.