27/08/2025 - 1:08
O décimo voo do Starship, foguete de 122 metros da SpaceX de Elon Musk, começou com sucesso nesta terça-feira, 26, depois de dois adiamentos consecutivos nesta semana – o teste estava marcado, inicialmente, para domingo, 24, mas um problema com sistemas na base terrestre do foguete atrasaram os planos da companhia. Na segunda-feira, 25, o risco de raios em uma nuvem próxima ao local fez o teste ser adiado.
Nesta terça, a nave decolou exatamente na hora do inicio da janela às 20h30 (horário de Brasília). Em 1 minuto, a nave atingiu 1.000 km/h. Com 2min15segs, a nave iniciou a separação do lançador Super Heavy – 30 segundos depois o processo foi completado. Às 20h36, o Super Heavy retornou à Terra, como programado pela companhia. Desta vez, no entanto, o equipamento não voltou para a base da companhia no Texas, mas fez um pouso controlado nas águas do Golfo do México (rebatizado de Golfo da América pelo presidente Donald Trump).
Com 19 minutos de voo, a uma altitude de 189 km, a companhia realizou um teste colocando em órbita equipamentos que simulam satélites da Starlink, sistema de internet da companhia. Foram colocados no espaço oito equipamentos, um por minuto em média. Com 25min11segs da missão, o teste de carga foi completado integralmente. É a primeira vez que o Starship realiza esse tipo de simulação, o que significa um avanço para a SpaceX depois da série de fracassos em 2025.
Após 45 minutos de voo, a nave já havia cruzado o continente africano e estava em uma altitude de 100 km, quando ela começou o processo de reentrada – neste momento, o foguete está a uma velocidade 5 vezes à velocidade do som. O plano é fazer um pouso controlado nas águas do Oceano Índico, em vez de recuperar o foguete intacto. O plano da SpaceX é testar o sistema de proteção térmica do Starship, assim a expectativa é que a reentrada e pouso não sejam suaves.
O décimo voo do Starship é a quarta tentativa de teste neste ano, com todas as anteriores terminando em fracasso, o que colocou em cheque o progresso da SpaceX.
Os últimos dois testes resultaram em explosão da nave no espaço. Esse é, no total, o décimo teste do foguete, partindo das instalações da companhia em Boca Chica, no Texas.
Segundo a SpaceX, após os incidentes anteriores, “foram feitas alterações no hardware e nas operações para aumentar a confiabilidade”. Para o décimo voo, a empresa planeja implementar, pela primeira vez, carga útil no Starship, sendo oito simuladores Starlink. Eles estarão na mesma trajetória suborbital que o Starship e devem se desintegrar ao entrar na atmosfera. Outras cargas úteis já tinham sido colocadas no foguete, mas como nenhuma das tentativas foi concluída, o teste com as cargas também não pode ser executado.
Para esse lançamento, o propulsor Super Heavy não tentará retornar ao ponto de origem, mas pousará forçadamente no Golfo da América. A decisão visa evitar danos à infraestrutura da base de lançamento. Ainda assim, os dados coletados durante o voo devem ajudar a moldar as próximas versões do foguete.
Outro teste deve envolver uma manobra na queima de retorno do foguete, que já foi executada no nono voo. O movimento requer menos propelente em reserva, permitindo o uso de mais combustível durante a ascensão para permitir uma massa de carga útil adicional em órbita.
Histórico
Em seu primeiro teste, o foguete decolou em abril de 2023, mas explodiu quatro minutos depois do lançamento, a 39 quilômetros de altitude, por vazamento do propelente na parte traseira do propulsor Super Heavy, o que eventualmente cortou a conexão com o computador de voo principal do veículo. Segundo a Space X, isso levou a uma perda de comunicações com a maioria dos motores do propulsor e, finalmente, do controle do veículo.
À época, a explosão trouxe danos à região texana, fazendo “chover sujeira” em uma cidade próxima à decolagem, a 10 km do lançamento. O incidente chegou também a provocar um incêndio florestal, gerando uma investigação ambiental nos EUA.
Para voar novamente, a Space X teve de cumprir com 63 exigências feitas pela administração federal de aviação dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês) após a explosão. As mudanças incluíam uma relacionada ao processo de separação das naves, no qual o segundo estágio, a própria nave Starship, liga seus motores durante o mesmo processo de separação, e não depois, visando a obter mais potência.
Se tudo ocorresse como o planejado, o voo do Starship duraria 90 minutos, atingindo a órbita da Terra e dando uma volta quase completa ao redor do planeta.
A quarta tentativa foi a primeira com 100% de sucesso em todas as etapas de voo, desde o trajeto até a recuperação do booster e o pouso da nave. A decolagem foi realizada apesar de um dos 33 motores do lançador ter falhado na subida. As temperaturas não passaram dos limites fatais e a descida, auxiliada pela atmosfera (o que desacelera o foguete), foi estável. Com isso, o Starship é o maior foguete da história a realizar integralmente um voo fora do planeta.
Já o quinto voo foi o primeiro a ter a recuperação do propulsor do foguete na Starbase. No teste, realizado em outubro, o Heavy Booster foi recapturado cerca de 7 minutos após o lançamento, pela própria torre de lançamento, com duas estruturas que simulam uma espécie de braço para segurar o propulsor, chamada Mechazilla. O Starship fez seu pouso no Oceano Índico 1 hora e 5 minutos após deixar a base de lançamento no Texas.
O sétimo voo foi o segundo a ter sucesso na recuperação do booster na torre de lançamento, mas o voo não foi completado. Após cerca de 8 minutos da decolagem, o foguete perdeu contato com a central de controle e, mais tarde, explodiu. A SpaceX afirmou que o problema foi relacionado a um vazamento na nave.
O oitavo voo também teve um problema que impediu o sucesso do teste. O voo foi interrompido antes do previsto após uma falha no sistema de controle de atitude, responsável por manter a orientação da nave durante o trajeto. Segundo a SpaceX, o problema ocorreu cerca de 8 minutos após o lançamento, fazendo com que o foguete perdesse o controle e não concluísse sua missão de completar uma volta quase completa ao redor da Terra.
Na última tentativa, no final de maio, com pouco menos de 30 minutos de voo, o foguete perdeu o controle de altitude de voo e começou a fazer “manobras” rotativas no espaço. Em junho, durante um teste de motor para o décimo voo, o foguete também explodiu.
Conheça o foguete Starship
O Starship é o foguete reutilizável mais potente desenvolvido pela Space X. O objetivo é levar a Humanidade à Lua e, depois, à Marte, cuja viagem deve custar US$ 10 milhões e US$ 60 milhões. A companhia diz que o foguete pode ser utilizado para transporte de até 150 toneladas de carga na Terra, com viagens de até uma hora e meia para qualquer parte do mundo.
“O Starship poderá transportar até 100 pessoas em voos interplanetários de longa duração”, diz em seu site a Space X sobre a espaçonave. “O Starship também ajudará a possibilitar a entrega de satélites, o desenvolvimento de uma base lunar e um transporte ponto a ponto aqui na Terra.”
O Starship é apelidado de “foguetão” porque é muito maior que o antecessor da Space X, o Falcon 9, de 70 metros. O irmão mais recente, no caso, mede 120 metros de altura, tem 9 metros de diâmetro e pesa 1,3 mil toneladas.
A espaçonave traz o propulsor Super Heavy (de 69 metros de altura), responsável por levar o Starship até a órbita da Terra em cerca de 170 segundos. O lançador traz 33 motores Raptor, com empuxo de 72 meganewtons (o dobro do motor da Falcon 9, o Merlin). Assim como a nave principal, o lançador pode ser reutilizado para novos voos.
Já a nave Starship tem altura de 50 metros, é equipada com três motores Raptor e mais três motores Raptor Vacuum, modelo com escape maior para maximizar a eficiência no espaço. O veículo traz também um tanque de metano líquido e outro tanque de oxigênio líquido para combustão.