A Europa enfrenta atualmente níveis de degradação, superexploração e perda de biodiversidade que representam uma ameaça direta à estabilidade, à segurança e aos padrões de vida no continente, revelou um relatório divulgado nesta terça-feira, 30, pela Agência Europeia do Ambiente (AEA).

Publicado a cada cinco anos pela agência da União Europeia (UE), sediada em Copenhague, o relatório é a avaliação mais abrangente das condições do meio ambiente, do clima e da sustentabilidade na região.

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Apesar do progresso em áreas como a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa e da expansão das energias renováveis, o documento concluiu que o estado geral do meio ambiente da Europa “não é bom”. Autoridades da UE disseram que o relatório é um lembrete doloroso da importância de manter e fortalecer as políticas e ambições verdes.

“Adiar ou postergar nossas metas climáticas só aumentaria os custos, aprofundaria as desigualdades e enfraqueceria nossa resiliência”, afirma Teresa Ribera, vice-presidente executiva da Comissão Europeia para a transição limpa, justa e competitiva. Ela diz que proteger a natureza é um investimento na competitividade e no bem-estar da região.

Declínio dos ecossistemas deve continuar

Padrões insustentáveis de produção e consumo, impulsionados pelo sistema alimentar, resultam em um declínio da biodiversidade terrestre e aquática na Europa. Estima-se que 80% dos habitats protegidos estejam em mau ou péssimo estado, e que entre 60% e 70% dos solos estejam degradados. Essa tendência deve continuar nos próximos anos. Segundo o relatório, as metas de restauração da natureza da UE para 2030 dificilmente serão cumpridas.

Os recursos hídricos na União Europeia também estão sob “forte pressão”. O estresse hídrico afeta atualmente cerca de um terço da Europa e apenas 37% das águas superficiais mantêm um estado ecológico positivo. A agricultura foi responsável por grande parte dessa degradação, com fertilizantes e pesticidas afetando a qualidade da água e levando à perda de vida aquática.

Os chamados sumidouros de carbono da União Europeia também diminuíram cerca de 30% na última década devido a fatores como cortes de árvores mais frequentes e generalizados, incêndios florestais intensos e secas. Os sumidouros de carbono, como florestas e oceanos, são importantes no combate às mudanças climáticas, pois absorvem dióxido de carbono da atmosfera.

O desafio urgente das mudanças climáticas

O relatório destaca que os impactos da aceleração das mudanças climáticas continuam sendo um desafio urgente. A Europa é o continente que mais aquece no planeta, com as temperaturas aumentando o dobro da taxa média global.. Em meio a ondas de calor recorde no último verão, países em todo o continente lutaram contra incêndios florestais intensos, que queimaram mais de 1 milhão de hectares de terra.

Embora a Europa tenha feito avanços para reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 37% em comparação com 1990 e dobrado o uso de fontes renováveis na geração de eletricidade, as emissões do setor de transportes diminuíram muito pouco. Grande parte do setor continua fortemente dependente dos combustíveis fósseis.

As reduções foram igualmente limitadas na agricultura, responsável por 93% das emissões atmosféricas de amônia da União Europeia e principal causa do declínio dos polinizadores e da degradação do solo.

Fundamental para economia e segurança

O relatório ressalta que os recursos naturais constituem a base da prosperidade econômica da Europa, com quase três quartos das empresas criticamente dependentes de serviços ecossistêmicos, como abastecimento de água e solos saudáveis.

“Precisamos repensar a ligação entre o meio ambiente e a economia e encarar a proteção da natureza como um investimento, não como um custo”, afirma Jessika Roswall, comissária da UE para o meio ambiente, resiliência hídrica e economia circular competitiva. “Uma natureza saudável é a base para uma sociedade saudável, uma economia competitiva e um mundo resiliente.”

O relatório concluiu que a descarbonização da economia, a transição para uma economia circular com baixo teor de resíduos, a redução da poluição e uma gestão mais responsável dos recursos naturais são urgentemente necessárias. A proteção da natureza também ajudará a garantir aspectos vitais do bem-estar europeu, como a segurança alimentar e a água potável.

Empregos verdes, inovação e finanças sustentáveis foram destacados como potenciais formas de garantir o progresso e motivos para otimismo. O relatório concluiu que mais investimentos na transformação verde da indústria poderiam levar a Europa a se tornar líder global no desenvolvimento de tecnologias para descarbonizar indústrias altamente poluentes, como a siderúrgica e a cimenteira.