20/12/2021 - 10:53
Dentes antigos podem ser analisados por arqueólogos para descobrir padrões de migração. “Com algumas investigações, a composição química do dente de uma pessoa fornece uma história de minivida”, diz Carolyn Freiwald, arqueóloga e professora associada de Antropologia da Universidade do Mississippi, Estados Unidos, que estuda a biologia e a química dos dentes.
Quando os dentes se formam, elementos da comida e da água, como oxigênio, nitrogênio e carbono, são incorporados a eles. Esses vestígios químicos revelam onde os alimentos foram cultivados e consumidos. “Em culturas de todo o mundo, encontramos pessoas cujos dentes nos dizem que migraram. Muitas vezes pensamos nos povos antigos como imóveis, mas, na realidade, as pessoas sempre foram móveis”, explica Freiwald.
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Mapa da existência
Ao contrário dos ossos, que se regeneram ao longo de nossas vidas, os dentes não produzem novas células quando se formam. O primeiro molar, por exemplo, se forma e se fixa durante a infância, “registrando” quimicamente a dieta de um bebê. O dente do siso contém um diário do que um adulto come e de onde se origina sua comida. Uma boca cheia de dentes pode nos fornecer um mapa de onde uma pessoa viveu, entre o nascimento e o enterro.
Não são apenas os dentes que nos dão pistas. A placa dentária mineralizada ou cálculo (tártaro) – minúsculas camadas de alimentos e bactérias que se acumulam onde os dentes encontram a gengiva – contém 25 vezes mais DNA do que um osso. Em 2019, pesquisadores da Universidade de Adelaide, na Austrália, usaram cálculos de dentes de antigos polinésios para decifrar os horários e rotas de migração exatas de humanos pré-históricos no Pacífico. Os antropólogos sugerem que pesquisar cálculo dentário poderia descobrir respostas para os enigmas dos padrões migratórios do passado.
Hoje, os cientistas forenses aplicam essas técnicas para identificar migrantes que morrem durante viagens perigosas. Como Freiwald acrescenta: “É um pouco mais difícil, já que as pessoas modernas comem alimentos de tantos lugares diferentes, mas se nosso trabalho conjunto nessa área puder trazer uma pessoa para sua família, vale a pena o esforço”.
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Pacific pioneers, The Unesco Courier, agosto-setembro de 1991