25/10/2025 - 9:53
Número de pessoas repatriadas até setembro deste ano chegou a 17,6 mil. Resultados refletem endurecimento da política migratória de Friedrich Merz.O número de deportações da Alemanha aumentou 20% neste ano, de acordo com dados oficiais divulgados neste sábado (25/10).
De janeiro a setembro de 2025, 17.651 pessoas foram deportadas, em comparação com 14.706 no mesmo período do ano passado, o equivalente a 65 repatriados por dia.
Somente nos primeiros nove meses de 2025, mais pessoas foram deportadas do que o total anual registrado entre 2020 e 2023.
Os números constam em uma resposta do governo federal a um pedido do partido A Esquerda na câmara baixa do Parlamento alemão, o Bundestag.
A maioria dos deportados foi enviada para a Turquia (1.614) e para a Geórgia (1.379). Quase um em cada cinco (3.095) eram crianças ou adolescentes.
Clara Bünger, especialista em política doméstica do partido A Esquerda, criticou o aumento. “Quando se trata de aumentar o número de deportações, as autoridades praticamente não conhecem mais tabus”, disse ela ao jornal alemão Neue Osnabrücker Zeitung.
Endurecimento da política migratória
O aumento do esforço de deportação acontece em meio a um endurecimento da política migratória sob o governo do chanceler federal alemão Friedrich Merz.
O debate se acirrou após atentados recentes registrados no país. Em mais de um caso, autoridades foram acusadas de não executarem a repatriação de suspeitos que seriam passíveis de deportação.
O novo governo agora busca facilitar deportação de pessoas cujos pedidos de asilo ou refúgio tenham sido rejeitados.
Merz é acusado de racismo após fala sobre imigrantes
Na semana passada, Merz disse que seu governo estava corrigindo falhas passadas na política de migração. “Mas é claro que ainda temos esse problema na paisagem urbana, e é por isso que o ministro do Interior está ocupado possibilitando deportações e realizando-as em larga escala”, acrescentou, no que pareceu ser uma alusão à presença excessiva de imigrantes nas cidades.
A fala do chanceler foi tomada como racista e disparou diversos protestos na Alemanha. Mesmo membros de sua coalizão governista alertaram contra o uso de “linguagem divisiva” em relação à migração. A principal organização de refugiados, Pro Asyl, criticou os comentários como “inaceitáveis”.
Questionado mais tarde sobre o tema, Merz voltou a defender seus comentários. “Não sei se você tem filhos. Se tiver, e houver filhas entre eles, pergunte a suas filhas o que eu quis dizer. Suspeito que você obterá uma resposta bastante clara e inequívoca. Não há nada que eu precise retratar”, disse ele.
A defesa levou a uma nova onda de protestos intitulados “Nós Somos as Filhas” em frente à sede de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), em Berlim.
Na última quarta-feira, Merz voltou a rejeitar as críticas e defendeu que muitas pessoas na Alemanha e em toda a Europa continuam “com medo de circular em espaços públicos”. Contudo, amenizou o discurso e argumentou que se referia a migrantes “que não têm status de residência, não trabalham e não cumprem nossas regras”.
Também disse que pessoas com histórico de migração são “uma parte indispensável do nosso mercado de trabalho”.
Alemães concordam com Merz
Apesar das críticas, uma pesquisa conduzida pela empresa de sondagens Forschungsgruppe Wahlen na quinta-feira, a pedido da emissora alemã ZDF, mostrou que a maioria dos cidadãos alemães (63%) concorda com os comentários do chanceler, enquanto 29% discordaram.
No entanto, apenas 18% dos respondentes disseram que refugiados causam problemas em seu bairro, e cerca de 74% afirmaram não ter notado problemas significativos ou não terem percebido nenhum problema nas ruas das cidades.
Um total de 1.038 cidadãos aptos a votar foram ouvidos na pesquisa.
gq (DPA, DW, OTS)
