Pesquisadores da Universidade Nacional de Educação a Distância (UNED) e da Universidade Autônoma de Madri (UAM), na Espanha, liderados pelo professor de Pré-história da UNED Francisco Javier Muñoz Ibáñez, divulgaram as primeiras evidências de restos de cola em pontas da cultura solutreana (que prosperou no leste da França, Espanha e Inglaterra no Paleolítico Superior) em um artigo publicado na revista Journal of Archaeological Science: Reports.

Esse trabalho interdisciplinar centrado nas pontas solutreanas do sítio de El Buxu (Cangas de Onís, no norte da Espanha) permitiu identificar e analisar a composição dos materiais adesivos utilizados para fixar pontas de caça líticas a hastes de flechas. Esses restos foram anexados a um ponto de entalhe de retoque plano, característico da cultura solutreana superior da costa do norte da Espanha, datada de 20 mil anos atrás. Os restos de cola foram encontrados na face dorsal do projétil, na junção do entalhe com a ponta.

“Para evitar danificar essas amostras valiosas, duas técnicas não destrutivas foram aplicadas para análises de microscopia Raman e IR”, explicou o professor Muñoz. “Uma coleção de adesivos naturais, provavelmente usados ​​para unir pontas líticas a hastes, também foi estudada usando essas técnicas.”

Resina de pinus e cera de abelha

Os resultados demonstram o uso de uma mistura de resina de pinus e cera de abelha para esse fim. Tradicionalmente se acreditava que o alcatrão de bétula seria utilizado nessa região da Península Ibérica, mas os dados do presente estudo refutam a ideia. “A resina de pinheiro”, disse o especialista, “é uma cola muito forte, mas muito quebradiça diante dos golpes que as pontas receberiam durante o uso. Por isso seria usada misturada com cera de abelha, para criar uma massa muito mais elástica e capaz de suportar a força do impacto dos projéteis nas presas”.

O período solutreano é caracterizado por uma grande diversidade de pontas de projéteis, feitas de sílex e quartzito, algumas das quais poderiam ter sido as primeiras pontas de flecha no continente europeu.

A análise tecnológica e funcional do pequeno, mas diverso, conjunto de pontas de pedra permitiu constatar que todas as peças foram intencionalmente descartadas in situ – exceto a ponta do entalhe com vestígios de cola, que quebrou durante o uso. As demais foram abandonadas por não atingirem a funcionalidade ideal devido a erros de fabricação.