A companhia estatal sueca de mineração LKAB anunciou nesta quinta-feira (12/01) ter descoberto grandes quantidades de minerais de terras-raras. A descoberta alimenta esperanças de que a UE possa reduzir sua dependência da China para elementos considerados cruciais no desenvolvimento de uma série de tecnologias modernas, muitas delas ligadas ao combate às mudanças climáticas.

Segundo a LKAB, a área em torno de sua gigantesca mina de ferro, em Kiruna — a maior do mundo —, contém mais de 1 milhão de toneladas métricas de óxidos de terras-raras. Conforme o comunicado da empresa, a quantidade “significativa” do minério encontrada no extremo norte do país faria da região o maior depósito conhecido de terras-raras na Europa.

Atualmente, a China domina o mercado de terras-raras, respondendo por mais de 80% da produção global e cobrindo cerca de 95% da demanda europeia.

Qual é a importância das terras-raras?

“Isso é uma boa notícia não apenas para a LKAB, para a região e para o povo sueco, mas também para a Europa e para o clima”, disse Jan Monström, CEO da empresa, em comunicado.

“[A descoberta] pode se tornar um alicerce significativo para a produção de matérias-primas críticas que são absolutamente cruciais para viabilizar a transição verde”, acrescentou.

Moström disse que é difícil estimar o tamanho dos depósitos em comparação com outros fora da Europa. Embora se acredite que a descoberta seja a maior do continente, ela permanece pequena em escala global, representando menos de 1% das 120 milhões de toneladas estimadas em todo o mundo pelo US Geological Survey.

Segundo a LKAB, um pedido de concessão de exploração deverá ser apresentado este ano. A empresa ressaltou, porém, que provavelmente levará de 10 a 15 anos até que os trabalhos de mineração possam começar e o minério chegue no mercado.

“A eletrificação, a autossuficiência da UE e a independência da Rússia e da China começarão na mina”, disse em comunicado a ministra sueca de Energia, Negócios e Indústria, Ebba Busch.

A descoberta de elementos de terras-raras tem um papel crucial na preservação do clima, já que o minério é essencial na produção de carros elétricos, smartphones e outros sistemas de energia renovável, entre outros usos.

Ao contrário do que o nome indica, as terras-raras, na verdade, são encontradas em abundância na Terra, agregadas a outros minerais. De acordo com mineralogistas, o termo “raras” é uma referência ao fato de esses minérios estarem espalhados por todo o planeta em concentrações relativamente baixas.

Europa continua altamente dependente da China

A Europa continua altamente dependente de Pequim tanto para terras-raras quanto para os fortes ímãs permanentes compostos de ligas de elementos do minério, usados sobretudo em produtos como carros elétricos e smartphones.

Acredita-se que existam depósitos de terras-raras no território de vários países da Europa, particularmente nas nações nórdicas. Mas não há, atualmente, locais de mineração e extração em funcionamento. Dentro da UE, existe apenas uma instalação de separação de terras-raras na Estônia.

Mas a eventual exploração de terras-raras na Europa enfrenta um obstáculo em potencial: os custos relativamente altos das operações de extração em países europeus – devido a melhores salários e condições de trabalho, por exemplo, ou a subsídios chineses.

A China fornece 95% dos ímãs da UE, que também são importantes para o setor de defesa. A Estônia está programada para lançar uma fábrica de ímãs este ano, com a fabricação programada para começar em 2025.

Preços em rápida ascensāo

O objetivo da UE agora é garantir seu próprio suprimento de terras-raras e limitar sua dependência da China, sobretudo diante das lições aprendidas após a invasão dos russos à Ucrânia. O bloco se viu em dificuldades para suprir sua demanda energética depois que, em meio a sanções da UE, o fornecimento de combustíveis fósseis russos foi repentinamente limitado.

“Nossa transição verde e digital irá vingar ou fracassar através do funcionamento de nossas cadeias de suprimentos”, disse a ministra de Energia da Suécia, Busch. “Veja a China, com seu quase monopólio de terras-raras e ímãs permanentes e preços subindo de 50% a 90% apenas no ano passado. O fornecimento de matérias-primas tornou-se uma ferramenta geopolítica real. Isso tem que mudar. No curto prazo, precisamos diversificar nosso comércio, mas a longo prazo não podemos confiar apenas em acordos comerciais. A eletrificação, a autossuficiência e a independência da UE começarão na mina.”

A Suécia acaba de assumir a presidência rotativa da UE, com o anúncio da estatal coincidindo com a chegada dos comissários do bloco no país.

Diante dos planos de transição para uma economia verde e digital, a UE estima que a demanda por terras-raras aumentará cinco vezes até 2030.

Em meio às crescentes tensões comerciais com Washington, Pequim recentemente ameaçou cortar o fornecimento de terras-raras aos EUA. Apesar de os minérios serem encontrados também em território americano, “a China estrategicamente inundou o mercado global com terras-raras a preços subsidiados, expulsou concorrentes e dissuadiu novos entrantes no mercado”, afirmou um relatório do Departamento de Defesa dos EUA.

ip/md (Reuters, AP, DPA, AFP)