04/02/2021 - 12:20
Cientistas e historiadores há muito supõem que gravuras em pedras e ossos têm sido usadas como uma forma de simbolismo que remonta ao período Paleolítico Médio (250.000-45.000 a.C.). As descobertas para apoiar essa teoria, no entanto, são extremamente raras. Mas uma novidade pode começar a mudar esse quadro.
Arqueólogos da Universidade Hebraica e da Universidade de Haifa (Israel), juntamente com uma equipe do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS), encontraram evidências do que pode ser o uso mais antigo conhecido de símbolos. Os símbolos foram achados em um fragmento de osso na região de Ramle, no centro de Israel, e acredita-se que tenham aproximadamente 120 mil anos de idade. A descoberta foi tema de artigo publicado na revista “Quaternary International”.
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Notavelmente, o fragmento permaneceu quase intacto. Os pesquisadores conseguiram detectar nele seis gravuras semelhantes em um lado do osso. Isso os levou a acreditar que estavam na posse de algo que tinha um significado simbólico ou espiritual. O objeto foi descoberto em um coleção de ferramentas de sílex e ossos de animais expostos em um local durante escavações arqueológicas.
Ferramenta afiada
O dr. Yossi Zaidner, do Instituto de Arqueologia da Universidade Hebraica, diz que o lugar provavelmente foi usado como acampamento ou ponto de encontro para caçadores paleolíticos que abatiam os animais capturados naquele local. Acredita-se que o osso identificado tenha vindo de um animal de grande porte selvagem já extinto, uma espécie muito comum no Oriente Médio naquela época.
Usando imagens tridimensionais, métodos microscópicos de análise e reprodução experimental de gravuras em laboratório, a equipe conseguiu identificar seis gravações diferentes, com comprimento de 38 a 42 milímetros. A drª Iris Groman-Yaroslavski, da Universidade de Haifa, explicou: “Com base em nossa análise de laboratório e descoberta de elementos microscópicos, pudemos supor que as pessoas nos tempos pré-históricos usaram uma ferramenta afiada feita de pedra para fazer as gravações.”
Os autores do artigo enfatizam que sua análise deixa muito claro que as gravuras foram definitivamente feitas intencionalmente pelo homem e não podem ter sido o resultado de atividades de abate de animais ou processos naturais ao longo dos milênios. Eles apontaram para o fato de que as ranhuras das gravuras descobertas são claramente em forma de U. Além disso, elas são largas e profundas o suficiente para que não pudessem ter sido feitas por outra coisa que não a intenção de humanos de esculpir linhas no osso.
A análise também conseguiu determinar que o trabalho foi executado por um artesão destro em uma única sessão de trabalho.
Mensagem definitiva
Marion Prévost, do Instituto de Arqueologia da Universidade Hebraica, diz que tudo indicava que havia uma mensagem definitiva por trás do que foi esculpido no osso. “Rejeitamos qualquer suposição de que essas ranhuras fossem algum tipo de rabisco inadvertido. Esse tipo de arte não teria visto tal nível de atenção aos detalhes.”
Então, qual era a mensagem por trás das seis linhas no osso? “Esta gravura é muito provavelmente um exemplo de atividade simbólica. É também o exemplo mais antigo conhecido dessa forma de mensagem usada no Levante”, escrevem os autores. “Nossa hipótese é que a escolha desse osso em particular estava relacionada ao status daquele animal naquela comunidade de caçadores. Ela também é indicativa da conexão espiritual que os caçadores tinham com os animais que matavam.”
O dr. Zaidner afirmou: “É justo dizer que descobrimos uma das gravuras simbólicas mais antigas já encontradas na terra – e certamente a mais antiga no Levante. Essa descoberta tem implicações muito importantes para a compreensão de como a expressão simbólica se desenvolveu nos humanos. Ao mesmo tempo, embora ainda não seja possível determinar o significado exato desses símbolos, esperamos que a continuação da pesquisa desvende esses detalhes-chave.”