04/12/2019 - 13:02
Uma recente descoberta em Pompeia colocou em evidência as lendárias habilidades técnicas dos agrimensores romanos – os técnicos encarregados das centuriações (divisão das terras) e de outros estudos, como o planejamento de cidades e aquedutos. Um artigo que aborda a pesquisa sobre o tema, realizada por cientistas italianos, está disponível no site de pré-impressão https://arxiv.org/abs/1910.13145 .
Projetos extremamente precisos de centuriações ainda são visíveis hoje na Itália e em outros países do Mediterrâneo, por exemplo. O trabalho desses agrimensores também tinha conexões religiosas e simbólicas relacionadas à fundação das cidades e à tradição etrusca.
Esses técnicos ganharam o nome de gromáticos devido ao seu principal instrumento de trabalho, a groma. Ela era baseada em uma cruz feita de quatro braços perpendiculares, cada um deles trazendo cordas com pesos idênticos, atuando como linhas de prumo. O agrimensor poderia alinhar com extrema precisão duas linhas de prumo opostas muito finas com postes de referência mantidos em várias distâncias por assistentes ou fixados no terreno, da mesma maneira que palinas (postes vermelhos e brancos) são usados na pesquisa moderna do teodolito.
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Até agora, o exemplo único conhecido de uma groma vinha das escavações de Pompeia. Já imagens que ilustravam o trabalho dos gromáticos eram transmitidas apenas pelos códices medievais, datados de muitos séculos depois que a arte dos agrimensores não era mais praticada. Agora parece que Pompeia volta a ser o lugar onde novas informações sobre esses arquitetos antigos podem ser divulgadas.
Imagens enigmáticas
Como parte do Projeto Grande Pompeia, inaugurado em 2014 e cofinanciado pela Comunidade Europeia, novas investigações arqueológicas desenterraram uma casa com uma solene e antiga fachada. No interior, foram encontrados pisos quase intactos, contendo dois belos mosaicos provavelmente representando Órion, o caçador, e uma série de imagens enigmáticas.
A interpretação das imagens foi dada recentemente em um trabalho conjunto por Massimo Osanna, diretor do sítio arqueológico de Pompeia, e Luisa Ferro e Giulio Magli, da Escola de Arquitetura do Politécnico de Milão. Entre as imagens, há, por exemplo, um quadrado inscrito em um círculo. O círculo é cortado por duas linhas perpendiculares, uma das quais coincide com o eixo longitudinal do átrio da casa e aparece como uma espécie de rosa dos ventos que identifica uma divisão regular do círculo em oito setores igualmente espaçados. A imagem é muitíssimo parecida com a usada nos códices medievais para ilustrar a maneira pela qual os gromáticos dividiam o espaço.
Outra imagem complexa mostra um círculo com uma cruz ortogonal inscrita, conectado por cinco pontos dispostos como uma espécie de pequeno círculo a uma linha reta com uma base.
Ainda não se sabe com certeza se a casa foi usada para reuniões e/ou o próprio proprietário pertencia à associação dos gromáticos. De qualquer forma, Pompeia mais uma vez se revela como uma fonte preciosa para entender os principais aspectos da vida e da civilização romanas.