As correntes oceânicas que transportam nutrientes e oxigênio para organismos no fundo do mar também carregam microplásticos. Nesse processo, já foram criados hotspots (áreas de perigo) com até 1,9 milhão de pedaços de plástico por metro quadrado. Trata-se da quantidade máxima relatada em qualquer ambiente do leito marinho no mundo, escreveu uma equipe internacional de pesquisadores liderada por Ian Kane, da Universidade de Manchester (Reino Unido), em estudo publicado na revista “Science”.

Todos os anos, 8 milhões de toneladas métricas de plástico acabam nos oceanos do mundo. Hoje em dia, essas águas contêm no mínimo 5 trilhões de partículas pesando mais de 250 mil toneladas. O acúmulo de plástico visto constantemente em fotos sobre a superfície aquática representa apenas cerca de 1% do total estimado nos oceanos do mundo. Os 99% restantes (dos quais 13,5% são microplásticos) acabam no fundo do mar. Mas onde eles se alojam e como chegaram lá não estava claro até agora.

No estudo, a equipe de pesquisadores coletou amostras de sedimentos do fundo do Mar Tirreno, no Mediterrâneo, e as vinculou a modelos calibrados de correntes oceânicas profundas e mapeamento detalhado do fundo do mar. No laboratório, eles separaram os microplásticos dos sedimentos, contaram-nos ao microscópio e usaram espectroscopia de infravermelho para verificar os tipos de plástico.

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Eles descobriram que os plásticos podem se assentar lentamente ou ser varridos rapidamente para o fundo do mar por correntes esporádicas de turbidez (poderosas avalanches subaquáticas) que viajam pelos cânions submarinos. Uma vez lá, eles são recolhidos e transportados por correntes de fundo que fluem continuamente e as depositam em aglomerações concentradas de detritos, a maioria dos quais é composta de fibras de tecidos e roupas.

Choque

Esses hotspots parecem ser os equivalentes em alto-mar das chamadas “manchas de lixo” de resíduos plásticos formadas por correntes na superfície do oceano.

Arte que retrata a geração, o deslocamento e a deposição do microplástico no leito marinho. Crédito: Ian Kane

O principal autor do estudo, Ian Kane, da Universidade de Manchester, disse: “Quase todo mundo já ouviu falar das infames ‘manchas de lixo’ de plástico flutuante, mas ficamos chocados com as altas concentrações de microplásticos encontradas nas profundezas do oceano. Descobrimos que os microplásticos não estão uniformemente distribuídos pela área de estudo; em vez disso, são distribuídos por poderosas correntes do fundo do mar, que as concentram em determinadas áreas.”

Os cientistas escreveram: “Essa concentração excede os níveis mais altos registrados anteriormente, incluindo os de fossas do fundo do mar, e é mais do que o dobro do registrado nos cânions submarinos”.

Eles não encontraram relação entre a localização das concentrações de microplásticos e suas fontes terrestres, fornecendo informações importantes para informar previsões de locais microplásticos e investigações de seu impacto nos ecossistemas do fundo do mar.

“Nosso trabalho mostrou como estudos detalhados das correntes do leito marinho podem nos ajudar a conectar as vias de transporte de microplástico no fundo do mar e encontrar os microplásticos ‘ausentes’”, disse Mike Clare, da Universidade de Southampton (Reino Unido) e colíder do estudo. “Os resultados destacam a necessidade de intervenções políticas para limitar o fluxo futuro de plásticos para ambientes naturais e minimizar os impactos nos ecossistemas oceânicos.”