04/12/2020 - 12:30
Cenas de dança, caça e comida, mas também animais agora extintos cobrem quilômetros de rochas na selva a 400 km de Bogotá. Arte rupestre de pelo menos 12.500 anos estava em área isolada do antigo território das Farc.As pinturas rupestres na Serranía de la Lindosa são de tirar o fôlego: é uma superfície de quase 12 quilômetros coberta de formas geométricas e dezenas de milhares de imagens de animais e humanos. Peixes, tartarugas, lagartos e pássaros, gente dançando ou dando-se as mãos, figuras de máscaras, muitas impressões manuais. O mais fascinante é quão detalhadas e realistas algumas das representações são.
Elas retratam também animais há muito extintos, como bichos-preguiça gigantes, cavalos da era glacial ou palaeolamas, um mamífero da família dos camelos. Há até um mastodonte, ancestral pré-histórico dos elefantes que há pelo menos 12 mil anos não vive mais na América do Sul. Eles são um dos indícios de que essas pinturas foram realizadas há mais de 12.500.
Algumas das figuras se localizam tão no alto da parede rochosa que só podem ser observadas com o auxílio de drones. Foram pintadas com terracota avermelhada, mas os arqueólogos também encontraram pedaços de ocre raspados para fabricação de tinta.
Território das Farc
As fascinantes pinturas foram descobertas em 2019 por uma equipe colombiano-britânica, porém o achado foi mantido em segredo enquanto era produzida uma série da emissora britânica Channel 4: Jungle mystery: Lost kingdoms of the Amazon (Mistério na selva: Reinos perdidos da Amazônia), que será transmitida no decorrer de dezembro.
Não é surpreendente essa arte da Idade do Gelo ter permanecido tanto tempo secreta: ela se encontra em plena selva da Colômbia, cerca de 400 quilômetros a sudeste de Bogotá. Nas imagens de satélite, a região em torno da Serranía de la Lindosa parece simplesmente verde, ao norte o rio Guaviare serpenteia em meio à Floresta Amazônica.
Acima de tudo, porém, até pouco tempo atrás a isolada área se encontrava sob controle dos rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), sendo, portanto, totalmente inacessível a arqueólogos. Eles só puderam adentrá-la depois de 2016, quando os guerrilheiros assinaram um armistício com o governo, após 50 anos de guerra civil.
Semelhanças com pinturas de Chiribiquete
Os novos achados arqueológicos lembram muito a arte rupestre do Parque Nacional Chiribiquete, situado próximo. Elas provam que, já há 19 mil anos, seres humanos habitavam o território e decoravam suas rochas com cenas envolvendo caça, dança e comida.
Ao lado as figuras humanas, encontram-se também imagens de cervos e alces, porcos-espinho, cobras, pássaros, macacos e insetos. No entanto a maioria dessas pinturas se situa nas áreas mais elevadas e de difícil acesso no Parque Nacional Chiribiquete, que é Patrimônio da Humanidade.
Os arqueólogos esperam que o sensacional achado revele novas facetas da vida humana na Amazônia da era glacial. Pois as pinturas não só informam sobre as espécies animais e vegetais então existentes, como também sobre como seus habitantes se comunicavam, seus rituais xamânicos. O tesouro de conhecimento preservado na Amazônia colombiana provavelmente levará décadas para se documentar e analisar.