30/03/2020 - 13:28
Um novo dinossauro com penas que viveu no Novo México (sudoeste dos EUA) há 67 milhões de anos é uma das últimas espécies de aves de rapina sobreviventes conhecidas, de acordo comum artigo publicado na revista “Scientific Reports”. O Dineobellator notohesperus aumenta a compreensão dos cientistas sobre a paleobiodiversidade do sudoeste americano, oferecendo uma imagem mais clara de como era a vida nessa região perto do final do reinado dos dinossauros.
Steven Jasinski, recém-doutorado pela Escola de Artes e Ciências da Universidade da Pensilvânia (atualmente no Museu Estadual da Pensilvânia), liderou o trabalho para descrever as novas espécies, em colaboração com o orientador de doutorado Peter Dodson, da Escola de Medicina Veterinária e Artes e Ciências da Universidade da Pensilvânia, e com Robert Sullivan, do Museu de História Natural e Ciência do Novo México, em Albuquerque.
Em 2008, Sullivan encontrou fósseis da nova espécie em rochas cretáceas da bacia de San Juan, no Novo México. Ele e sua equipe de campo, que incluía Jasinski e James Nikas, coletaram o espécime em terras federais dos EUA sob uma licença emitida pelo Bureau of Land Management. O espécime inteiro foi recuperado ao longo de quatro estações em campo. Jasinski e seus coautores deram à espécie seu nome oficial, Dineobellator notohesperus, que significa “guerreiro navajo do sudoeste”, em homenagem às pessoas que hoje vivem na região em que esse dinossauro morava.
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Predadores pequenos
Segundo o estudo, foram encontrados 20 fósseis fragmentados, que incluem partes da cauda, fêmur, costelas, úmero e pedaços do crânio. Esses fragmentos foram o suficiente para que os pesquisadores concluírem que, embora pequeno, esse predador pareça mais forte e ágil do que seus primos asiáticos, os velociraptors.
O velociraptor e o Dineobellator pertencem a um grupo de dinossauros conhecido como dromaeossaurídeos. Os membros desse grupo são comumente chamados de dinossauros raptors, graças a filmes como Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros e Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros. Mas, diferentemente das bestas terríveis retratadas na tela, o Dineobellator tinha altura de apenas cerca de 1 metro e cerca de 2 metros de comprimento.
Os dinossauros raptors são geralmente predadores pequenos, de constituição leve. Consequentemente, seus restos são raros, principalmente nos casos do sudoeste dos Estados Unidos e do México. “Embora os dromaeossaurídeos sejam mais conhecidos em lugares como norte dos Estados Unidos, Canadá e Ásia, pouco se sabe sobre o grupo mais ao sul da América do Norte”, diz Jasinski.
Embora nem todos os ossos deste dinossauro tenham sido recuperados, os ossos do antebraço têm pequenas saliências na superfície onde as penas seriam ancoradas por ligamentos. Isso seria uma indicação de que o Dineobellator tinha penas quando vivo, semelhantes às inferidas para o velociraptor.
Cauda flexível
Características dos membros anteriores do animal, incluindo áreas ampliadas das garras, sugerem que esse dinossauro podia flexionar fortemente seus membros superiores e mãos. Essa habilidade pode ter sido útil para segurar a presa – usando as mãos para animais menores, como pássaros e lagartos, ou talvez seus braços e pés para espécies maiores, como outros dinossauros.
Sua cauda também possuía características únicas. Enquanto a maioria das caudas dos raptors era reta e enrijecida com estruturas em forma de bastão, a cauda do Dineobellator era bastante flexível em sua base, permitindo que o restante do órgão permanecesse rígido e agisse como um leme.
“Pense no que acontece com o rabo de um gato enquanto ele está correndo”, diz Jasinski. “Enquanto a cauda em si permanece reta, também está girando constantemente enquanto o animal está mudando de direção. Uma cauda rígida, altamente móvel em sua base, permite maior agilidade e mudanças de direção, e potencialmente ajudou o Dineobellator a perseguir presas, especialmente em habitats mais abertos.”
Estima-se que o novo dinossauro era um grande velocista. Ele conseguiria atingir velocidades de quase 100 km/h, tal como o guepardo contemporâneo.
Pesquisa e sorte
O novo dinossauro fornece uma imagem mais clara da biologia dos dromaeossaurídeos da América do Norte, especialmente no que diz respeito à distribuição de penas entre seus membros.
“Como encontramos evidências de mais membros possuindo penas, acreditamos que é provável que todos os dromaeossaurídeos tivessem penas”, diz Jasinski. A descoberta também sugere alguns dos hábitos predatórios de um grupo de icônicos dinossauros carnívoros que viveu pouco antes do evento de extinção responsável pela morte de todos os dinossauros que não eram pássaros.
Jasinski planeja continuar sua pesquisa de campo no Novo México com a esperança de encontrar mais fósseis. “Foi com muita pesquisa e um pouco de sorte que esse dinossauro foi encontrado erodindo-se em uma pequena encosta”, diz ele. “Fazemos muitas caminhadas e é fácil ignorar algo ou simplesmente caminhar no lado errado de uma colina e perder alguma coisa. Esperamos que quanto mais procurarmos, melhores as chances de encontrarmos mais do Dineobellator ou de outros dinossauros que viveram ao seu lado.”