15/02/2022 - 16:31
Imagens por nêutrons e luz síncrotron avançadas confirmaram: um crocodilo de 93 milhões de anos do período Cretáceo encontrado no centro do estado de Queensland (nordeste da Austrália) devorou um jovem dinossauro. A conclusão se baseia em restos encontrados no conteúdo do estômago fossilizado.
A descoberta dos fósseis foi feita em 2010 pelo Australian Age of Dinosaurs Museum, de Queensland, em associação com a University of New England (Austrália). Os resultados das pesquisas são objeto de artigo publicado na revista Gondwana Research.
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A pesquisa foi realizada por uma grande equipe liderada pelo dr. Matt White, do Australian Age of Dinosaurs Museum e da University of New England.
Tamanho de uma galinha
O crocodilo Confractosuchus sauroktonos, ou “o crocodilo assassino de dinossauros quebrado”, tinha cerca de 2 a 2,5 metros de comprimento. “Quebrado” refere-se ao fato de que o crocodilo foi encontrado em uma pedra maciça e quebrada.
As primeiras varreduras de imagens por nêutrons de um fragmento de rocha detectaram ossos do pequeno dinossauro, do tamanho de uma galinha, no intestino. Era um ornitópode que ainda não foi formalmente identificado por espécie.
O dr. Joseph Bevitt, cientista sênior de instrumentos, explicou que os ossos do dinossauros estavam inteiramente embutidos na densa rocha de ferro e foram descobertos por acaso quando a amostra foi exposta ao poder de penetração dos nêutrons na Australian Nuclear Science and Technology Organisation (Ansto), agência que é o centro de perícia nuclear da Austrália.
O Dingo, único instrumento de imagem por nêutrons da Austrália, pode ser usado para produzir imagens bidimensionais e tridimensionais de um objeto sólido e revelar características ocultas dentro dele.
“Na varredura inicial, em 2015, vi um osso enterrado lá que parecia um osso de galinha com um gancho e pensei imediatamente que era um dinossauro”, explicou Bevitt. “Os olhos humanos nunca o tinham visto antes, pois estava, e ainda está, totalmente envolto em rocha.”
A descoberta levou a outras varreduras de alta resolução usando o Dingo e a luz de raios X síncrotron do Imaging and Medical Beamline (IMBL) ao longo de vários anos.
Reconstrução do crocodilo
“As varreduras digitais 3D do Imaging and Medical Beamline orientaram a preparação física do crocodilo, que era impossível sem se saber exatamente onde estavam os ossos”, disse Bevitt.
Por outro lado, as frágeis amostras tiveram de ser cuidadosamente reduzidas a um tamanho que os raios X síncrotron pudessem penetrar para uma varredura de alta qualidade.
“Os resultados foram excelentes ao fornecerem uma imagem completa do crocodilo e sua última refeição, um dinossauro juvenil parcialmente digerido”, afirmou Bevitt.
Acredita-se que seja a primeira vez que uma linha de luz síncrotron foi usada dessa maneira.
O dr. Anton Maximenko, cientista de instrumentos da IMBL, ajudou a equipe de investigação a superar os limites de energia e ajustar as instalações para digitalizar com sucesso as grandes amostras.
Bevitt explicou que a equipe usou toda a intensidade do feixe de raios X síncrotron para obter os resultados em rochas densas.
Novos recursos
Juntos, Bevitt e White fizeram todo o processamento de dados e, mais importante, desenvolveram novos mecanismos de software para processar e mesclar todos os conjuntos de dados desse crocodilo fragmentado. Dessa forma, o crocodilo foi reconstruído como um quebra-cabeça digital 3D.
Para confirmar que o dinossauro estava realmente no corpo do crocodilo, a equipe observou túneis de vermes preenchidos, raízes de plantas e características geológicas que se estendiam entre fragmentos de rocha. “A química da rocha forneceu a evidência”, disse Bevitt.
Os investigadores pensam que é provável que, surpreendido em um evento de megainundação, o crocodilo tenha sido soterrado e morrido repentinamente.
“Os restos fossilizados foram encontrados em uma grande pedra. Concreções geralmente se formam quando a matéria orgânica, ou, digamos, um crocodilo, afunda no fundo de um rio. Como o ambiente é rico em minerais, em poucos dias a lama ao redor do organismo pode solidificar e endurecer devido à presença de bactérias”, explicou Bevitt.
Os espécimes estão agora em exibição no Australian Age of Dinosaurs Museum, em Winton (Queensland).