02/09/2025 - 6:29
Catástrofe causada por chuvas incessantes destrói vila inteira em área montanhosa de Darfur, afirma grupo rebelde Exército/Movimento de Libertação do Sudão, que pede ajuda à ONU e organizações humanitárias.Um deslizamento de terra arrasou uma vila na região de Darfur, no Sudão, e matou cerca de mil pessoas, comunicou um grupo rebelde que controla a área na noite desta segunda-feira (1º/09).
A tragédia aconteceu no domingo na vila de Tarasin, nas Montanhas Marrah, na região ocidental de Darfur, após dias de fortes chuvas no fim de agosto, comunicou o Exército/Movimento de Libertação do Sudão (MLS), liderado por Abdulwahid al-Nur.
Segundo o grupo rebelde, informações iniciais indicam que apenas uma pessoa sobreviveu. A vila foi “completamente arrasada”, acrescentou o grupo, apelando à ONU e a grupos de ajuda internacional para recuperar corpos ainda soterrados.
As chuvas incessantes complicam ainda mais os esforços de organizações humanitárias para ajudar os necessitados, especialmente em regiões afetadas por conflitos, como Darfur, onde a infraestrutura já é frágil ou inexistente.
“Buraco negro” na ajuda humanitária
O Sudão está em meio a uma guerra sangrenta entre o Exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF), após as tensões entre os dois lados resultarem em combates abertos em abril de 2023 na capital, Cartum, e em outras partes do país. O conflito mergulhou o Sudão numa das piores crises humanitárias do mundo.
A maior parte da região de Darfur, atingida pelo conflito, tornou-se praticamente inacessível para a ONU e grupos humanitários devido aos combates entre os militares sudaneses e as RSF, que os EUA já acusaram de cometerem genocídio.
O grupo humanitário Médicos Sem Fronteiras alertou que diversas comunidades em Darfur, incluindo as Montanhas Marrah, estão isoladas após mais de dois anos de guerra e descreveu essas áreas como “um buraco negro” na ajuda humanitária.
Em fuga da violência
As Montanhas Marrah são uma cordilheira vulcânica que se estende por cerca de 160 quilômetros a sudoeste da capital do estado de Darfur do Norte, El-Fasher, que as RSF mantêm sitiada há mais de um ano e tentam capturar.
O Exército/Movimento de Libertação do Sudão é um dos vários grupos rebeldes ativos nas regiões de Darfur e Cordofão. O MLS controla partes da cordilheira das Montanhas Marrah e tem se mantido praticamente fora do conflito.
Porém, centenas de milhares de pessoas fugiram para territórios controlados pelo grupo rebelde para escapar da violência. Eles se tornaram um polo para famílias deslocadas que fogem dos conflitos em El-Fasher e arredores.
Guerra devastadora
Desde abril de 2023, o Sudão tem sido devastado por uma guerra que eclodiu com uma disputa de poder entre o chefe do Exército, Abdel Fattah al-Burhan, e seu antigo vice, o comandante das RSF, Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemetti.
Numa série de ofensivas, as forças de Burhan reconquistaram o centro do Sudão este ano, deixando as RSF com o controle da maior parte de Darfur, onde conquistaram todas as capitais da região, exceto El-Fasher, e partes do sul do Cordofão.
O conflito no Sudão já matou mais de 40 mil pessoas. Cerca de 10 milhões estão deslocadas dentro do país, enquanto outras 4 milhões fugiram para países vizinhos, de acordo com a ONU. A guerra dizimou a infraestrutura do país do nordeste da África e criou o que a ONU descreve como a maior crise de deslocamento e fome do mundo.
Segundo as Nações Unidas e grupos de direitos humanos, o Sudão tem sido marcado por atrocidades graves, incluindo assassinatos e estupros por motivos étnicos. O Tribunal Penal Internacional (TPI) afirmou estar investigando se houve crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
A vila de Tarasin está localizada nas Montanhas Marrah. Patrimônio da Humanidade, a cordilheira é conhecida por sua temperatura mais baixa e maior pluviosidade do que as áreas vizinhas. Ela está localizada a mais de 900 quilômetros a oeste de Cartum.
A área é propensa a deslizamentos de terra, principalmente durante a estação chuvosa, que atinge o pico em agosto. Centenas de pessoas morrem todos os anos em chuvas sazonais que ocorrem de julho a outubro.
as/cn (AFP, AP)