Um grupo internacional de cientistas climáticos coletou evidências que indicam que o desmatamento na Amazônia está influenciando o clima no Tibete, a mais de 15 mil quilômetros de distância. Suas conclusões foram publicadas na revista Nature Climate Change, assim como possíveis impactos de longo alcance do desmatamento da floresta amazônica. Em outra seção no mesmo número da revista, Valerie Livina, do Laboratório Nacional de Física do Reino Unido, assina um artigo que descreve a teoria da bifurcação de Hopf e como ela se relaciona com os pontos de inflexão climáticos e o trabalho feito pela equipe retratado no texto já mencionado.

Há algum tempo já se pergunta em que momento as mudanças pequenas e graduais observadas na cobertura vegetal da Amazônia poderão levar a uma mudança grande, repentina e permanente. Esse ponto de não retorno está se aproximando à medida que o desmatamento avança, e quando ele chegar a floresta tropical já não poderá ser devolvida ao seu estado natural, mesmo que todo o corte seja interrompido e haja replantio de árvores, acreditam os estudiosos.

Liderados por Teng Liu, da Universidade Normal de Pequim (China), e Dean Chen, da Universidade Normal de Pequim e da Universidade de Helsinque (Finlândia), os pesquisadores responsáveis pelo estudo mais recente observaram que os cortes de árvores na Amazônia já ocorrem há décadas, período em que também foram coletadas informações climáticas. Para verificarem se o desmatamento poderia influenciar áreas distantes do planeta, eles analisaram dados climáticos globais entre 1979 e 2019.

Relação inesperada

Os cientistas descobriram uma inesperada relação entre a Amazônia, o Tibete e a Antártida Ocidental. A perda de árvores fez as temperaturas subirem no Tibete e na Antártida Ocidental; já quando chovia mais na Amazônia, as precipitações tendiam a ser menores nessas outras duas regiões. Os pesquisadores chegaram inclusive a traçar a rota da mudança climática conforme o tamanho da floresta tropical diminuía. A rota, que segundo eles durava pouco mais de duas semanas, passava primeiramente pelo sul da África, depois seguia para o norte rumo à Península Arábica e finalmente para o Tibete.

Os pesquisadores salientaram que estudos já haviam documentado que o Tibete e o Ártico estão registrando aumentos de temperatura maiores do que no restante do planeta, e avaliaram que a chegada a um ponto de inflexão na Amazônia poderá criar um ponto de inflexão no Tibete, com impacto permanente nas temperaturas e nas chuvas.