Um bebê no útero está protegido de influências externas prejudiciais. Isso foi dado como certo por muito tempo por médicos e futuros pais. As mulheres grávidas fumavam, bebiam álcool e recebiam prescrição de medicamentos. Entretanto, o chamado escândalo da talidomida na década de 1960 mostrou que essa suposição estava completamente errada. O ingrediente ativo da talidomida, causou malformações em bebês cujas mães haviam tomado o medicamento nos primeiros meses de gravidez.

O álcool, o tabaco e outras drogas também podem prejudicar o desenvolvimento do feto e levar a malformações graves. A desnutrição e a má alimentação durante a gravidez também desempenham um papel decisivo no desenvolvimento saudável do feto: estudos indicam que o risco de consequências de longo prazo para a saúde das crianças é particularmente alto se houver falta de nutrientes durante o primeiro trimestre da gravidez.

Uma pesquisa recente analisou as consequências do chamado Holodomor, uma fome extrema que provocou centenas de milhares de mortes na Ucrânia soviética no início da década de 1930. O resultado: bebês cujas mães passaram fome extrema durante a gravidez tiveram um risco muito maior de desenvolver diabetes na idade adulta.

Mas não é apenas o risco de diabetes que aumenta: Obesidade, doenças cardiovasculares e problemas de audição e visão podem ser as consequências para uma criança que foi desnutrida no útero.

Programação fetal: a hipótese de Barker

O médico e epidemiologista britânico David Barker foi um dos primeiros defensores da hipótese de que as bases para as doenças são estabelecidas no desenvolvimento inicial do feto. A chamada “hipótese de Barker” baseia-se na seguinte suposição: o feto no útero não está protegido do meio externo, pelo contrário.

O início da gravidez é uma fase particularmente sensível: o coração, o cérebro, o metabolismo e os membros do feto estão se desenvolvendo. Hormônios, nutrientes e produtos metabólicos fornecem ao feto informações sobre o mundo no qual ele nascerá por meio da placenta e do sistema circulatório da mãe.

“Se a mensagem for que estamos vivendo em tempos de escassez de alimentos, o metabolismo do feto se adaptará para o que terá no futuro”, segundo Martin Klingenspor, que procura explicar melhor a hipótese de Barker. Ele é biólogo e professor de Medicina Nutricional Molecular da Universidade Técnica de Munique (TUM).

“Em termos de biologia evolutiva, essa adaptação poderia ter sido uma vantagem”, diz Klingenspor. “No entanto, isso se torna um problema quando o período de fome termina e, de repente, há uma abundância de alimentos”. Estudos sobre o chamado “Inverno da Fome Holandês” durante a Segunda Guerra Mundial mostram uma conexão entre a desnutrição da mãe e várias doenças na vida futura do feto. Além do diabetes, essas doenças incluem obesidade e doenças cardiovasculares, bem como problemas de audição e visão.

Possível adaptação epigenética à situação alimentar

De acordo com Klingenspor, um possível mecanismo por trás da reprogramação e, portanto, da adaptação do metabolismo, pode ser as mudanças epigenéticas no DNA. “Epigenética significa que nossos cromossomos são bioquimicamente alterados em resposta a sinais ambientais.” Dessa forma, as influências ambientais podem regular a atividade dos genes e, assim, alterar o metabolismo.

“Estudos em animais mostram que as alterações epigenéticas também são transmitidas aos filhotes”, diz Klingenspor. Essa também pode ser outra explicação para outra forma de alimentação ruim: O sobrepeso e a obesidade. “As mães que já estão com sobrepeso ou obesas durante a gravidez dão à luz a crianças que têm um risco maior de também se tornarem obesas”, diz Klingenspor. Entretanto, estudos também demonstraram que as mulheres que conseguem reduzir o excesso de peso antes da próxima gravidez reduzem o risco à saúde de seus futuros filhos.