Alguns dos detidos participaram do ato “Meio-dia contra Putin”, um protesto silencioso contra o Kremlin, convocado por apoiadores do dissidente Alexei Navalny. Protestos também ocorreram em frente a embaixadas russas.Pelo menos 74 pessoas foram detidas neste domingo (17/03) na Rússia, durante o terceiro dia das eleições presidenciais, um pleito criticado pela oposição como um jogo de cartas marcadas para tentar dar um verniz de democracia para o regime de Vladimir Putin.

As prisões foram efetuadas em 17 cidades do país, incluindo Moscou, informou o portal OVD-Info, um projeto que monitora os direitos dos detidos pela polícia. Pelo menos 19 detenções foram registradas até agora em Moscou.

Segundo o OVD-Info, um casal foi levado à delegacia por usar um lenço com citações de George Orwell, autor do livro 1984, que descreve um universo distópico e totalitário. Outras 29 pessoas foram detidas em Kazan, capital da república russa do Tartaristão.

Muitos dos detidos participaram da ação “Meio-dia contra Putin”, convocada pela oposição russa para protestar contra Putin, que está no poder desde 1999 e que tenta oficializar sua permanência por mais seis anos.

Um número considerável de russos compareceu hoje às 12h para votar contra Putin, em uma demonstração de rejeição coordenada pela oposição contra a reeleição do presidente e a guerra na Ucrânia. Como protestos abertos precisam de autorização das autoridades, a ação silenciosa foi a forma que a oposição encontrou para transmitir insatisfação durante o dia do pleito e ao mesmo tempo evitar prisões em larga escala.

As autoridades do Kremlin, por sua vez, deslocaram mais forças de segurança para locais de votação no horário marcado para o protesto silencioso. “Foi importante para mim ver o rosto de outras pessoas aqui, para ver que não estou sozinho”, disse um eleitor a jornalista da rede BBC.

Segundo agências de notícias ocidentais, a participação nas seções de voto aumentou significativamente em Moscou, cidades menores e em embaixadas da Rússia na Europa, sinalizando adesão ao protesto.

A campanha havia sido respaldada pelo dissidente Alexei Navalny antes da sua morte na prisão, em fevereiro. Em 2011, Navalny ganhou notoriedade internacional ao ser preso por convocar protestos contra o regime após uma eleição legislativa que foi alvo de acusações de fraude.

Os organizadores da campanha, que contou com o apoio da viúva do falecido opositor Navalny, Yulia, e do magnata Mikhail Khodorkovsky, ambos no exílio, também incentivaram os participantes a executarem outras formas de protesto neste domingo, como escrever o nome de Navalny nas cédulas ou anulá-las com outras mensagens ou ainda a votar contra outro candidato que não Putin. A campanha ainda recebeu endosso de Yekaterina Duntsova – que tentou concorrer às eleições presidenciais, mas que acabou barrada pelo regime – e o político pacifista Boris Nadezhdin, que também foi vetado pelas autoridades eleitorais russas.

Yulia Navalnaya também marcou presença neste domingo em Berlim ao meio-dia na fila da embaixada russa na capital alemã para apoiar a campanha de protesto. Neste domingo, alguns moscovitas também depositaram flores no túmulo de Alexei Navalni. Uma mensagem, escrita num pedaço de papel no local, dizia: “Este é o candidato que queríamos”.

A Rússia tem mais de 114 milhões de eleitores inscritos, que também incluem eleitores de quatro territórios ucranianos ocupados e anexados ilegalmente pelo Kremlin.