Em referendo histórico motivado pela guerra na Ucrânia, cerca de 67% dos dinamarqueses votaram a favor de o país participar de possíveis missões militares da UE e do desenvolvimento conjunto de sistemas de armas.Em um referendo histórico, a maioria dos dinamarqueses votou nesta quarta-feira (1º/06) a favor da adesão do país à Política Comum de Segurança e Defesa da União Europeia (UE). Com 97% dos votos apurados, os resultados preliminares indicavam 66,9% a favor do fim do opt-out e 33,1% contra.

“A Dinamarca enviou esta noite um sinal importante aos nossos aliados na Europa e na Otan, e também a Putin. Estamos mostrando que quando Putin invade um país livre e ameaça a estabilidade na Europa, o restante se une”, disse a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen.

O principal efeito do fim do opt-out, que desde 1993 mantém a Dinamarca fora do domínio das políticas comuns, é que Copenhague passa a poder participar em áreas relacionadas com a defesa e segurança do bloco europeu em possíveis operações militares. O regulamento especial, único na UE, significa que até agora o país pode participar em missões civis, mas não em missões militares da UE ou no desenvolvimento conjunto de sistemas de armas, por exemplo.

“Havia uma Europa antes de 24 de fevereiro, antes da invasão russa, e há uma Europa depois”, destacou Frederiksen.

O líder da oposição, Jakob Ellemann-Jensen, saudou a vitória do “sim” após serem conhecidos os resultados parciais do referendo.

“Esta é uma vitória para a união, para a liberdade”, assegurou o líder liberal, cujo pai, Uffe Ellemann-Jensen, enquanto ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, teve que negociar com Bruxelas, há três décadas, a adoção de um modelo especial para o seu país.

Já o líder do Partido Popular Dinamarquês, Morten Messerschmidt, um dos principais opositores ao fim da exceção, salientou que o “sim” venceu devido à guerra na Ucrânia.

Elogios da UE

Os líderes da União Europeia, Ursula von der Leyen e Charles Michel, saudaram a votação “histórica” para aderir à política comum de Defesa.

“Saúdo a forte mensagem de compromisso com a nossa segurança comum enviada pelo povo dinamarquês”, apontou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, manifestando-se “convencida de que a Dinamarca e a UE sairão beneficiados com esta decisão”.

Já o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, frisou que “o povo da Dinamarca fez uma escolha histórica”.

Duas semanas após a invasão russa da Ucrânia, Frederiksen anunciou um acordo com a maioria dos partidos no Parlamento para submeter o fim da exceção dinamarquesa a um referendo. A maioria das forças políticas com representação parlamentar apoiaram o sim, com exceção dos partidos de extrema-direita, o Partido Popular Dinamarquês e a Nova Direita, e do partido de esquerda Aliança Vermelha-Verde.

A Dinamarca garantiu direitos especiais em um referendo de 1993 sobre o Tratado de Maastricht – que lançou as bases para a UE moderna. O país manteve sua própria moeda e foi isento da política de defesa comum

A Dinamarca adotou em 1993, logo após a assinatura do Tratado europeu de Maastricht – que lançou as bases para a UE moderna -, exceções à política comunitária em quatro domínios: união monetária e econômica, defesa, cooperação policial e jurídica e cidadania. O país manteve sua própria moeda e foi isento da política de defesa comum

Esta é a primeira vez que um dos quatro opt-out dinamarqueses do Tratado europeu de Maastricht é descartado pelos cidadãos. Em duas consultas anteriores, os dinamarqueses recusaram aderir ao euro, em 2000, e a abolir a exceção na área jurídica, em 2015.

Mudança na política europeia

O referendo na Dinamarca é o exemplo mais recente de um país europeu que procura uma estratégia de Defesa comum, na sequência da invasão russa da Ucrânia.

Suécia e Finlândia, por exemplo, abandonaram recentemente a sua histórica posição de não-alinhamento militar para formalizarem o pedido de adesão à Otan.

Membro da Aliança Atlântica, a Dinamarca é um dos fortes defensores da adesão dos seus vizinhos nórdicos e tem sido também ativa na ajuda militar à Ucrânia, na guerra contra a invasão por tropas da Rússia.

le (Lusa, ots)