Num país polarizado, fica evidente o impacto da eleição para presidente nas disputas estaduais. Resta saber em que medida o apoio de governadores eleitos e de candidatos no 2º turno vai influenciar o resultado nacional.Desde 1994, as eleições para os governos estaduais coincidem com as eleições presidenciais no Brasil. Essa concomitância entre os pleitos, de certa maneira, faz com que a disputa por um cargo influencie o outro, seja na articulação dos candidatos e suas chapas, seja por meio de alinhamento de palanques ou no realinhamento de forças nas disputas que seguem para serem decididas em dois turnos.

Essa situação não é nova no país, entretanto, a intensa polarização na eleição presidencial tem tido forte influência da definição dos palanques e apoios nos estados, provocando a nacionalização.

Uma competição pode ser considerada nacionalizada quando as candidaturas que disputam uma eleição presidencial passam a ser referência em termos de definição de estratégias visando influenciar e contribuir com a eleição de candidaturas aninhadas no âmbito subnacional. Em certa medida, os grandes temas das campanhas presidenciais e o apoio de lideranças políticas nacionais podem orientar a disputa no nível subnacional dando o tom para candidatos e eleitores.

O sentido dessa nacionalização em relação às disputas locais ocorre de maneira mais intensa porque desperta maior interesse do eleitorado, seja pela importância do cargo, seja pelas prerrogativas constitucionais do cargo e as características do presidencialismo brasileiro. As principais decisões que impactam a vida da maioria da população, de alguma maneira, passam pelas mãos do líder máximo do país.

No caso da eleição presidencial brasileira, a nacionalização da maioria das disputas é em torno dos candidatos com melhor desempenho eleitoral no pleito, de um lado na figura do candidato Jair Bolsonaro (PL) e de outro na do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em algumas disputas estaduais, no entanto, algumas candidaturas preferiram não definir um palanque presidencial. Nesses casos, a decisão pelo não alinhamento pode ser vista como uma estratégia eficiente à medida que é capaz de ampliar sua base eleitoral, seja no primeiro ou no segundo turno.

E o que ocorreu no Brasil em relação às disputas estaduais no primeiro turno? Das 27 unidades subnacionais (26 estados e o Distrito Federal), 15 definiram a eleição no primeiro turno (AC, AP, CE, DF, GO, MA, MT, MG, PA, PR, PI, RJ, RN, RR, TO). Em outros 12 a decisão será conhecida no próximo dia 30 de outubro (AL, AM, BA, ES, MS, PB, PE, RS, RO, SC, SP, SE).

É possível identificar que a nacionalização predominou na maioria dos estados que encerraram a eleição no primeiro turno. E, mesmo que não tenha ocorrido a declaração de apoio ou alinhamento formal da campanha no primeiro turno, como por exemplo é o caso de Romeu Zema em Minas Gerais ou Ronaldo Caiado em Goiás, a direção de apoios no segundo sinaliza a importância da disputa presidencial para as lideranças estaduais e demonstra em que medida a nacionalização tem influenciado tais decisões.

No segundo turno, entre os eleitos, nove declararam apoio a Bolsonaro, e seis, a Lula. Nos demais estados que ainda disputam o segundo turno, quatro deles possuem disputas polarizadas e alinhadas às candidaturas presidenciais (AM, ES, SC e SP), em outros sete estados pelo menos uma das candidaturas não oficializou um palanque presidencial (AL, BA, MS, PB, PE, SE e RS), e em um estado o candidato Bolsonaro possui dois palanques (RO).

Fica cada vez mais evidente o impacto da eleição presidencial nas disputas locais, mas algo que ainda não é possível ser respondido é em que medida os apoios de eleitos nos primeiro turno e a posição dos candidatos no segundo turno influenciam o resultado das eleições presidenciais. Vamos aguardar o resultado do segundo turno.

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Planaltices é uma coluna semanal sobre política brasileira. Os textos são escritos por colaboradores do grupo de pesquisa PEX (Executives, presidents and cabinet politics), vinculado ao Centro de Estudos Legislativos (CEL) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Coordenada pela cientista política e professora da UFMG Magna Inácio, a coluna é publicada simultaneamente pela DW Brasil e repercutida no blog do PEX.

Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e do PPGCP/UFPI, líder do grupo de pesquisa Instituições, Comportamento político e Democracia.