14/07/2022 - 12:49
Pela primeira vez, os pesquisadores sequenciaram com sucesso o genoma de fósseis humanos antigos do Pleistoceno Superior encontrados na Caverna do Veado Vermelho, no sul da China. Os dados, publicados na revista Current Biology, sugerem que o misterioso hominídeo pertencia a um ramo materno extinto de humanos modernos que pode ter contribuído para a origem dos nativos americanos.
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“A técnica de DNA antigo é uma ferramenta realmente poderosa”, disse Bing Su, do Instituto de Zoologia Kunming da Academia Chinesa de Ciências, um dos autores do estudo. “Isso nos diz de forma bastante definitiva que as pessoas da Caverna do Veado Vermelho eram humanos modernos em vez de uma espécie arcaica, como neandertais ou denisovanos, apesar de suas características morfológicas incomuns.”
Os pesquisadores compararam o genoma desses fósseis com o de pessoas de todo o mundo. Eles descobriram que os ossos pertenciam a um indivíduo que estava profundamente ligado à ancestralidade leste-asiática dos nativos americanos. Combinado com dados de pesquisas anteriores, essa descoberta levou a equipe a propor que alguns dos povos do sul da Ásia Oriental viajaram para o norte ao longo da costa do atual leste da China através do Japão e chegaram à Sibéria dezenas de milhares de anos atrás. Eles então cruzaram o Estreito de Bering entre a Ásia e a América do Norte e se tornaram as primeiras pessoas a chegar ao Novo Mundo.
Diversidade genética e morfológica
A jornada para fazer essa descoberta começou há mais de três décadas, quando um grupo de arqueólogos na China descobriu um grande conjunto de ossos em Maludong, ou Caverna do Veado Vermelho, na província de Yunnan, no sul da China. A datação por carbono mostrou que os fósseis eram do Pleistoceno Superior, há cerca de 14 mil anos, período em que os humanos modernos migraram para muitas partes do mundo.
Da caverna, os pesquisadores recuperaram uma calota craniana de hominídeo com características tanto de humanos modernos quanto de humanos arcaicos. Por exemplo, a forma do crânio lembrava a dos neandertais, e seu cérebro parecia ser menor do que o dos humanos modernos. Como resultado, alguns antropólogos pensaram que o crânio provavelmente pertencia a uma espécie humana arcaica desconhecida que viveu até recentemente ou a uma população híbrida de humanos arcaicos e modernos.
Em 2018, em colaboração com Xueping Ji, arqueólogo do Instituto de Arqueologia e Relíquias Culturais de Yunann (China), Bing Su e seus colegas extraíram com sucesso o DNA antigo do crânio. O sequenciamento genômico mostra que o hominídeo pertencia a uma linhagem materna extinta de um grupo de humanos modernos cujos descendentes sobreviventes são agora encontrados no leste da Ásia, na península da Indochina e nas ilhas do sudeste da Ásia.
A descoberta também mostra que durante o Pleistoceno Superior, os hominídeos que viviam no sul da Ásia Oriental tinham uma rica diversidade genética e morfológica, cujo grau é maior do que no norte da Ásia Oriental durante o mesmo período. Isso sugere que os primeiros humanos que chegaram ao leste da Ásia inicialmente se estabeleceram no sul antes de alguns deles se mudarem para o norte, afirmou Su. “É uma importante evidência para entender a migração humana precoce”, observou.
Quadro mais completo
A equipe planeja agora sequenciar mais DNA humano antigo usando fósseis do sul da Ásia Oriental, especialmente aqueles que antecederam o povo da Caverna do Veado Vermelho.
“Esses dados não apenas nos ajudarão a pintar um quadro mais completo de como nossos ancestrais migraram, mas também contêm informações importantes sobre como os humanos mudam sua aparência física adaptando-se aos ambientes locais ao longo do tempo, como as variações na cor da pele em resposta a mudanças na exposição à luz solar”, afirmou Su.